O lamentável episódio aconteceu na coroação da seleção espanhola campeã da Copa do Mundo de Futebol Feminino, domingo passado, 20 de agosto. Empoderado pelo título de mandatário e comandante do futebol no país, Rubiales teve a ousadia de beijar a jogadora Jenni Hermoso. Um beijo não autorizado. Um beijo agressivo. Invasivo. Mas o que veio depois também é grave.
Em plena época em que se discute a violência contras as mulheres, Luis Rubiales enfrentou o mundo e a opinião pública neste gesto autoritário. Chegou a assumir o erro no ato, mas deixou claro que permanecerá à frente da RFFE. E fez pior: houve uma tentativa de convidar a jogadora para participar de um vídeo com o teor de “está tudo bem”. Nesta sexta-feira, ele mostrou que confia na impunidade. Em um auditório lotado, reiterou a comemoração. Disse que foi um beijo consentido e que a repercussão negativa é responsabilidade da “imprensa sensacionalista do falso feminismo”. Foi aplaudido por homens, incluindo os treinadores das seleções da Espanha de futebol masculino e feminino. E viu o constrangimento das mulheres na plateia.
De fato, a repercussão do fato deveria ter sido muito maior. Companheiras de Jenni Hermoso reagiram nas redes sociais. “Isso é inaceitável. Acabou. Com você, parceira”, solidarizou-se a atleta Alexia Putella. O lendário goleiro do time masculino espanhol, Iker Casillas, capitão do time campeão da Copa do Mundo de 2010, twittou: “vergonha alheia”. E seguiu: “Deveríamos estar estes cinco dias falando de nossas meninas. Da alegria que deram a todos. Mas…”, limitou-se. O Barcelona emitiu comunicado oficial condenando a atitude do presidente. A melhor postagem foi do goleiro espanhol David de Gea, multicampeão pelo Manchester United: “Me sangram os olhos”, acertou de Gea!
A FIFA puniu Luis Rubilares por 90 dias, o que pouco significa na prática. Onze integrantes da comissão técnica do time feminino pediram demissão. E, pasmem: a Real Federação Espanhola de Futebol ameaça processar Jenny Hermoso por que ela disse que não houve consentimento no beijo! Um escândalo, uma completa inversão de aplicação de punição. A vítima está ameaçada. E o, digamos, vilão, respaldado.
O correto seria uma investigação do ministério público da Espanha para realmente esclarecer até que ponto Luis Rubiales fala a verdade sobre o beijo ter sido consentido. Mas o poder de comandar a Real Federação Espanhol de Futebol inibe este processo. Consequência de uma sociedade machista que vivemos em tempos atuais. Em que um presidente de federação considera-se empoderado a ponto de tascar um beijo numa atleta. Se ele faz isso publicamente e tenta disfarçar ao responsabilizar jornalistas pela repercussão, minhas perguntas são: como age nos bastidores o sr. Rubiales? É com este nível de decência que ele exerce o cargo?