Se nas eleições de 2018, o Brasil foi atingido por uma tempestade tropical com o resultado das urnas, este ano é um tsunami que sacode o País. O bolsonarismo, embora seu titular tenha ficado atrás de Lula em pouco mais de seis milhões de votos, os resultados das eleições para Governador, Senadores e deputados federais e estadual, lhe são amplamente favoráveis. Há um grande racha no País, quase dividido ao meio por dois presidenciáveis. A chamada Terceira Via, de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), não passou de 5% dos votos. Será a sexta vez consecutiva que as eleições presidenciais vão ser decididas em segundo turno.
Com 99,99% das urnas apuradas até o início da manhã da manhã de segunda-feira (03/10), Lula obteve 57.257.473 votos, o equivalente a 48,43% dos votos válidos. O atual presidente Bolsonaro alcançou 51.071.106 votos ou 43,20%. Os votos válidos no primeiro turno alcançaram 118.226.172, são 95,59% dos 156.454.011 eleitores. Os brancos e nulos ficaram estáveis. São 1.964.761 em branco (1,59%) e 3.487.835 nulos (2,82%). A abstenção chegou a 20,95%, a maior da história do País, chegando a 32 milhões de eleitores.
Porém, o grande derrotado são os institutos de pesquisas. Tanto Datafolha como Ipec, além de outros menos expressivos, erraram projeções e a ordem das votações, seja na Presidência, seja nos Governos e Senado. Pelas pesquisas, não se supunha que Bolsonaro teria instrumentos para se manter no segundo turno e com o fôlego mostrado domingo. A tropa bolsonarista está empolgada para a rodada final, daqui a 27 dias, a 30 de outubro. Os petistas estão em alerta e Lula precisará deixar uma certa zona de conforto em que se acomodou no primeiro turno.
A onda bolsonarista virou uma maré elevada, nem comparável a de quatro anos atrás, mas ainda assim surpreendente para quem registra uma rejeição tão alta quanto a do presidente. O desempenho de Bolsonaro e de alguns de seus candidatos principais ao Congresso e nos estados, indica presidência, em 2018.
Essa “maré”, grande e estável, é irrigada por muitos rios, o maior deles é a bancada do PL, partido do presidente e carro-chefe do “centrão”, que lhe permitiu milagres eleitoreiros na véspera da eleição. Ela chega a 95 parlamentares, acrescidas de mais 23 do que a anterior. O PT, na mesma proporção, sobe de 56 para 76. São esses os votos que os futuros governantes contarão na Câmara. A eleição de 17 senadores entre as 27 cadeiras em disputa dá amplo favoritismo. O PT ficou com 8 eleitos.
Havia evidências. A ex-ministra Damares Alves (Republicanos) disputou com outra ex, Flávia Arruda (PL). A vaga do Distrito Federal ficou com a primeira, lançada à revelia do presidente pela primeira-dama Michelle. Ela encarna o que há de mais ideológico do bolsonarismo, a começar pelo reacionarismo religioso. O mesmo se via, ao longo da apuração, no desempenho de candidatos a deputado como Carla Zambelli (SP), Eduardo Bolsonaro (SP), Bia Kicis (DF) e Eduardo Pazuello (RJ), todos do PL presidencial. Não houve a enxurrada maciça dos votos de 2018 na vaga conservadora. O filho número dois, Eduardo, caiu dos 1,8 milhão de votos 8 para cerca de metade neste ano, 740 mil votos, reeleito por São Paulo deputado federal.
Outro motivo de celebração dos bolsonaristas é que ex-ministros e apoiadores garantiram espaço eleitoral, país afora. As ex-ministras Tereza Cristina (Agricultura) e Damares Alves (Direitos Humanos e da Mulher) e o ex-ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) se elegeram senadores. O ex-ministro Eduardo Pazuello (Saúde) foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro. E o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) saiu na frente na corrida para governador no Estado mais populoso do país, São Paulo. Foram eleitos também, no Paraná, outros dois ex-simpatizantes de Bolsonaro, os protagonistas da operação Lava-Jato: o ex-juiz Sérgio Moro (e ex-ministro do atual presidente) para senador, pelo União Brasil, e o ex-procurador da República Deltan Dalagnoll (Podemos), para deputado federal.
Pelo lado de Lula, o PT passou a ser segunda força na Câmara dos Deputados, passando dos atuais 56 para 76 deputados. Um aliado importante, o PSOL, fez 14 vagas e o PCdoB conquistou 4. Pouco frente ao adversário, neste segundo turno e no futuro Congresso Nacional.
O tabu de não reeleger Governador no RS vai continuar?
Será que o Rio Grande do Sul quebrará o tabu de não reeleger governadores, desde a redemocratização? Se o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que renunciou ao mandato para disputar a presidência e depois volta para buscar a reeleição, então a teoria será testada no segundo turno com Onyx Lorenzoni (PL). Ex-ministro de Bolsonaro em quatro pastas, o deputado surpreendeu quando venceu o primeiro turno. Chega com 37,5 por cento dos votos, contra 26,81 por cento de Leite e perigosos 26,77 por cento de Edgar Pretto (PT), os escassos 2.441 votos que lhe faltaram para chegar ao segundo turno. Quase vira um “azarão”.
Leite foi eleitor de Bolsonaro em 2018, do que se declarou arrependido. Agora, como será seu comportamento? Será que vai buscar mais uma vez o apoio e os votos do Presidente? Ou se voltará a Lula? Ônyx, por sua vez, apontou essa incoerência do governador em inúmeras oportunidades, mas nunca conseguiu a declaração sobre seu comportamento para o segundo turno.
O Estado também garantiu a eleição do General Hamilton Mourão, cotado em terceiro lugar nas pesquisas que acaba chegando a vitória. Ele é o vice-presidente da República. Na imprensa, veste a camiseta do Flamengo e ninguém sabe se ele é gremista ou colorado, a rivalidade histórica que anima os gaúchos. No Estado, a vantagem de Bolsonaro foi 48,89%, contra 42,28%%. Isso talvez explique que o deputado federal de maior votação no Estado seja o Tenente-coronel Zucco, do PL, e admirador empolgado do presidente. Ele fez 259.023 votos.