Tem certeza de que, como sempre, passado o carnaval, o ano começou? Não sei… desconfio que 2025 só vai começar, mesmo, depois da Semana Santa. Se começar…
Prestemos atenção ao comportamento de quem faz – ou deveria fazer – o país funcionar. Por enquanto, quando não estão discutindo 2024 – e até 2023 – estão projetando 2026. Mesmo quando tratam dos preços dos alimentos, pensam mais nas consequências da carestia no recheio das urnas no ano que vem do que no vazio que muita gente sente – hoje – no estômago e no bolso.
No Palácio do Planalto, enquanto o secretário de Comunicação, Sidônio Palmeira, prepara uma campanha publicitária para dizer que o Brasil é dos brasileiros – como se alguém por aqui duvidasse disso –, o presidente Lula, sacudindo as cinzas do carnaval e se recuperando da ressaca de quedas inéditas na popularidade do governo e dele mesmo, costura uma reforma ministerial.
E até quando olha para a frente, o presidente busca foco para lá de 2025… Quer inaugurar o segundo tempo do seu terceiro mandato já enxergando a porteira do quarto… Muda o ministério em 2025 para colher resultados em 2026.
Enquanto vai preparando a receita desse novo governo, o presidente Lula tem que cuidar, também, do fogo que vai fritando o ministro Fernando Haddad. O titular da Fazenda, responsável pela dieta de redução de despesas do governo, está assando em fogo brando há bastante tempo.
E a primeira mexida de Lula na panela da reforma ministerial deixa Haddad um pouco mais frito…
O presidente chamou para o seu lado, no 4º andar do Palácio do Planalto, a deputada federal Gleisi Hoffmann, que toma posse nesta segunda, 10 de março, na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, no lugar de Alexandre Padilha, transferido para o Ministério da Saúde. Haddad precisa cortar despesas na busca do equilíbrio fiscal. Gleisi pensa no equilíbrio eleitoral e garante que, gastando mais, o governo e Lula, por via de consequência, recuperam a popularidade.
Uma boa providência da nova ministra, pensando em futuras pesquisas, é levar as relações institucionais do governo para além das paredes do Planalto e do Congresso Nacional e incluir o povo nessas conversas. Afinal, se o Brasil é mesmo dos brasileiros, como diz Palmeira, é preciso ouvir o que eles – os brasileiros – estão pensando deste país que é deles hoje, mais do que esperam dele daqui a dois anos…
O povo não tem tempo para olhar muito longe. O aluguel, a luz, a água, a passagem do ônibus, do metrô, a feira… tudo tem que ser pago hoje. A espera na fila do SUS, da creche para as crianças, o medo da bala perdida, o sonho com a picanha do sábado é tudo agora, já…
Ah! A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês – que pode fazer sobrar algum pro churrasco – pode ser aprovada este ano. É… mas só vai valer em 2026. E isso se conseguirem fazer quem ganha mais de R$ 50 mil por mês pagar um pouquinho mais ao Leão da Receita.
Com o governo assentado numa base de 11 partidos que mais parece um time de futebol onde cada um joga com a própria bola, Lula vai precisar de toda a habilidade política de quem é pentacampeão de eleições – ganhou três acumulando as funções de técnico e jogador e duas como técnico do time capitaneado por Dilma Rousseff – para reorganizar a equipe e reconquistar a torcida.
Lula só mexeu em dois nomes do time: Gleisi Hoffmann e Alexandre Padilha. Ambos do PT. Conhecedor como ninguém dos vestiários da política, Lula deixa todos ansiosos para atuar na hora certa. Esse novo time vai jogar mais pela esquerda? Vai fortalecer o meio? Vai de meia esquerda ou meia direita?
Ninguém, até agora, disse a Lula como ele deveria jogar, nem apontou erros cometidos. Cada um vai jogando o jogo como melhor lhe convém. Mas o primeiro sinal pode vir de um player importante. As bancadas do MDB, que têm três jogadores importantes no time – Renan Filho, Jader Filho e Simone Tebet – vão se reunir no Congresso Nacional, com os ministros presentes, no dia 19 de março, para conhecer uma primeira versão do documento intitulado “O Brasil precisa pensar o Brasil”, que servirá de base ao projeto político do partido… em 2026.
O coordenador geral do texto, segundo a coluna Painel da Folha de São Paulo, é Aldo Rebelo. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, ministro da Defesa, do Esporte e de Ciência e Tecnologia no governo Dilma e ministro da Coordenação Política no primeiro governo Lula, Aldo tem feito críticas pesadas à gestão Lula III.
Aldo vai coordenar reuniões regionais para aprofundar os debates sobre o documento, que tem três eixos: consolidação da democracia, retomada do desenvolvimento e redução das desigualdades. A ideia é ter o texto final em setembro. Mas, pelo passado do MDB deste período democrático que vivemos, dá para arriscar um palpite. O partido, que esteve em todos os governos desde 1989, vai deixar portas e janelas abertas. Quem estiver mais perto da vitória em 2026 terá mesa posta… Lula não pode esperar setembro chegar.
Ele vai montar um novo time agora. Lula viu que muitos jogadores, temerosos das vaias das pesquisas mais recentes, já se movimentam para trocas de camisas. Essa primeira mexida, dando ares de capitã do time à Gleisi Hoffmann, pode ser um sinal de que o presidente esqueça – ou finja esquecer – as urnas de 2026 e monte, agora, o time dele. Só dele. Quem quiser torcer será bem-vindo. Mas terá que torcer até o fim.
Afinal, ele espera que, apesar das vaias, na hora da decisão, a torcida vá com ele. Sempre foi assim. Lula chegou em todas as decisões, mesmo nas que perdeu para FCH, com pelo menos 30% da torcida ao lado dele.
Em 2026, aos 81 anos de idade, ganhar ou perder não fará muita diferença.
Lula deve ter lido a entrevista do ex-presidente José Sarney ao Globo deste domingo, 9 de março. Sarney disse que apoia a reeleição de Lula e mandou um recado: “É melhor sair da política muito bem, do que já velho”.
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Foto da Capa: Joedson Alves / Agência Brasil