Nos últimos dias tenho me sentindo uma central de atendimento perante tantas necessidades com a catástrofe que se abateu nestas terras do Sul. Eu, marido e filha em segurança, apesar dos horrores que assistíamos, estávamos convivendo com as consequências secundárias destes eventos, morando em um apartamento de um dos bairros mais altos da cidade, iniciamos levando doações aos atingidos nas enchentes no Interior do Estado. Ao me preparar para ir trabalhar num abrigo, quando as enchentes tomavam conta da Capital, soube que as casas de parentes tinham sido submersas no bairro Sarandi. Hora de resgatar, abrigar e acomodar os meus em casa.
Mas aí, me veio uma avalanche de pedidos, que não paravam de chegar pelo whats, e me tornei uma Central Única de Atendimento:
- Onde buscar resgate na cidade de Canoas? Na cidade de Eldorado? E no bairro Menino Deus? No bairro Cidade Baixa, Humaitá? Pelo whats me chegavam vários contatos, mas seriam verdadeiros? Buscava as fontes oficiais e não encontrava as informações.
- Onde buscar abrigo para pessoas com deficiência, idosas, com pets… Quem aceita? Onde estão os abrigos? Quais ainda tem vagas? De novo muitas informações pelo whats que iam e vinham, e poucas pelas redes oficiais…
- Amigos e pets desaparecidos. Onde estão as listas dos resgatados? Como incluir o nome da pessoa sumida na relação oficial? Como encontrá-los?
Quanta angústia e preocupação. Tantas tragédias diante dessa catástrofe. E um clima de caos instaurado. Nunca senti tanta necessidade de alguém, fontes que soubessem o que fazer e de orientação nesse momento.
Minha filha, no primeiro dia no Abrigo em que está trabalhando, se transformou na coordenadora do setor de triagem, imagino que por conta de seu bom senso e habilidade de organização. Ao longo do tempo, o ritmo lá foi se “profissionalizando”. E ela pode atuar na área em que atua, a psicologia. Será que é assim que deveria ser? Não sou da área, mas fico a me perguntar se não teria que haver ao menos uma coordenadoria da Defesa Civil orientando, cidadãos treinados presentes ou ao menos um manual para os voluntários de como operar nessas situações.
Meus familiares perderam suas casas no Sarandi. Bairro que ficou por dias num suspense esperando para saber se o tal dique atrás da FIERGS (federação das indústrias) ia ou não transbordar e inundá-lo. O transbordamento aconteceu e foram retirados de uma hora para outra. Saíram atordoados de lá. Praticamente com a roupa do corpo e os filhos a tiracolo. Quem os orientou sobre o que deveriam preparar para uma possível saída, como poderiam organizar e proteger seus pertences, para onde deveriam se dirigir caso tivessem sua casa atingida? Ninguém. Quem os tirou de lá? Voluntários.
E a solidariedade é o grande destaque de toda essa catástrofe. Poderia dar dezenas, centenas e, certamente, chegaria aos milhares de exemplos, que nosso povo está dando. Não só o povo gaúcho, mas todo o povo brasileiro que tem se mobilizado em doações e trabalho. Isso aquece o coração de uma maneira indescritível e me faz lembrar do livro escrito pelo Rutger Bregman, Humanidade, onde ele narra a nossa História a partir de exemplos otimistas, numa nova perspectiva: a de que a maioria dos seres humanos são solidários e bons por natureza.
Nosso foco ainda está nas tragédias, o que é necessário. São muitas e prementes. Mas a reconstrução está ali, logo na frente. Precisamos pensar no futuro.
Olhando pra ele, é preciso reconstruir o que se perdeu. Sem deixar ninguém para trás. Todas as vidas importam. Nesse sentido, sei que você tem sido abordado para apoiar todo tipo de campanha, mas me corta o coração assistir pessoas de 70, 80, 90 anos perderem suas casas com tudo o que construíram numa vida inteira! E agora, sem perspectivas financeiras e emocionais de realizar essa reconstrução. Por conta do etarismo, a mídia dá pouca atenção para suas histórias e as instituições financeiras dificultam a liberação de financiamento para elas por causa da avançada faixa etária. Para piorar, muitas Instituições de Longa Permanência onde essas pessoas idosas moravam, também foram destruídas e elas não tem para onde retornar. Por isso te convido para contribuir para a Campanha que o Movimento LAB60+ lançou com instituições Parceiras para dar suporte à reconstrução das vidas das pessoas idosas e de organizações que lidam com a longevidade e o envelhecimento atingidas pelas enchentes devido a essa catástrofe climática no RS. Qualquer valor de doação é importante. Ao final desta coluna seguem os dados para contribuição.
Em 2023 tivemos três enchentes no Estado. Lá fomos avisados que outros eventos climáticos aconteceriam e que eles viriam mais seguidamente e mais fortes. O que fizemos? Nada. Então, chegou 2024 e aconteceu o que estamos vivendo agora. Não podemos afirmar que não fomos avisados. Então, olhando para frente, como iremos lidar com os novos eventos que virão? Como vamos nos preparar? Se for esse caos de novo, talvez o melhor – para os que puderem – seja providenciar a mudança de Estado.
Penso que os entes do Estado e políticos são fundamentais nos processos de busca de soluções, para tal entendo que é preciso que aprendam a escutar e reconhecer humildemente o saber dos técnicos a respeito do tema, pensando no que é melhor para toda a sociedade. Acredito na pressão da sociedade civil, presente, cobrando, exigindo, reivindicando leis, planos, verbas, programas e ações para que nunca mais soframos como agora.
Dados para Contribuições para Campanha em Favor da reconstrução da Vida das Pessoas idosas e Organizações da Longevidade e Envelhecimento atingidos pela Catástrofe Climática no RS Organizada pelo Movimento LAB60+ e Instituições Parceiras:
INSTITUTO LAB60+
CNPJ: 33.887.419/0001-66
Banco Cora – 403 | Conta 4126147-2 | Ag. 0001
Chave Pix: CNPJ.33.887.419/0001-66
Foto da Capa:
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