Estagnado no segundo lugar das pesquisas eleitorais, Bolsonaro mexe o tabuleiro para ampliar seu eleitorado pela via fiscal. Governo e aliados discutem como driblar não apenas o teto de gastos definido pela Constituição, mas também a lei eleitoral, que restringe novos benefícios sociais em ano de eleição. Até a decretação de estado de calamidade, como ocorreu durante a pandemia de covid-19, está no debate.
O Advogado-Geral da União, Bruno Bianco, está convocado para tranquilizar quanto à legalidade das medidas. Ele, na fala de Bolsonaro, é um “tira-dúvidas” sobre orçamento e legislação eleitoral. Alguém tem dúvidas sobre qual será seu parecer?
Mas o cenário de julho, mês que inicia o calendário das convenções partidárias de homologação das candidaturas, é turvo para o Presidente.
A saber:
- CRIMES NA AMAZÔNIA
O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dominic Phillips no Vale do Javari (Amazonas) expôs ao mundo a falta de controle do governo sobre a região e o fracasso da política atual para a Amazônia, começando pelo desmanche de órgãos especializados, como o Ibama e a Funai, e atribuir aos militares a administração da atuação federal na região. No cenário internacional, cai o conceito do Brasil.
- 33 MILHÕES COM FOME
Estudo de Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional mostra que a fome no Brasil em 2022 voltou aos patamares da década de 1990. Mais de 15% da população não tem o que comer. Percentual muito maior vive em insegurança alimentar.
- FILAS DO AUXÍLIO
Outro número negativo para a gestão Bolsonaro se refere à assistência financeira à população mais pobre. Em janeiro, o governo federal tinha comemorado que havia zerado essa fila. Mas o Mapeamento da Confederação Nacional de Municípios publicado em junho também mostra que a fila de brasileiros à espera do Auxílio Brasil mais do que dobrou de março para abril, chegando a 2,8 milhões de famílias.
Agora, Bolsonaro desiste de pôr sua cabeça
no fogo pelo Ministro. Por cautela, porá só a mão
- CRISE NA PETROBRAS
Diante do novo reajuste dos preços dos combustíveis, Bolsonaro e seus aliados do “Centrão” no Congresso entraram em guerra com o presidente da estatal, José Mauro Coelho, que acabou renunciando. Coelho já havia sido demitido por Bolsonaro em maio, em razão de outro reajuste, mas se mantinha no cargo, enquanto aconteciam os trâmites burocráticos para a sua saída. Bolsonaro, que, apesar de poder, nunca propôs uma mudança na política de preços da empresa, passou a defender uma CPI contra a empresa e seus dirigentes, declarando surtado com os preços.
- EX-MINISTRO PRESO
Aquele por quem o Presidente declarou poria a cabeça no fogo por sua honestidade, acaba preso. O pastor Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, foi preso preventivamente pela Polícia Federal numa investigação que expõe os indícios de corrupção dentro do governo. As suspeitas são de que Ribeiro operava um esquema no Ministério da Educação em que pastores evangélicos sem cargo no governo intermediam o acesso de prefeitos a verbas públicas em troca de propina. Ribeiro foi solto no dia seguinte, mas aliados de Bolsonaro avaliam que o episódio foi grave e compromete o discurso de “corrupção zero” que Bolsonaro tenta emplacar para se reeleger.