Olha aqui, ô, como diria um amigo meu: o empresário lança um perfume com a marca Bolsonaro, num vidro verde com tampa amarela, e não quer tentativa de golpe?
Sem golpe, não seria Bolsonaro, não é mesmo? Afinal, os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica deixaram claro – em depoimentos no inquérito que investiga a tentativa de impedir a posse de Lula e instaurar uma ditadura – que nem todo Bolsonarista é golpista, embora todo golpista seja bolsonarista…
Integrantes do primeiro escalão do governo do ex-capitão, o general Freire Gomes e o brigadeiro Batista Júnior, então comandantes do Exército e da Aeronáutica, em depoimentos à Polícia Federal, afirmaram ter se manifestado contra a execução de um golpe militar no fim de 2022. O brigadeiro até contou que Freire Gomes ameaçou prender Bolsonaro se ele insistisse naquela sandice.
E aqui, antes de continuar abro parênteses: como é que o Presidente da República é ameaçado de prisão por um auxiliar e não toma nenhuma atitude? Não demite o insubordinado? Isso me faz desconfiar, até, que o capitão presidente não estava tão forte e tão seguro do próprio poder como se imaginava… Fecho parênteses.
Enfim, o que a gente viu, ouviu e leu na semana passada mostra que essa extrema direita nacional faria corar de vergonha os líderes direitistas do golpe de 1964. Lá naquela segunda metade do Século XX, os golpistas eram mais preparados.
Tinham apoio na sociedade civil. Os meios de comunicação e os grandes empresários também queriam a derrubada do governo João Goulart. A conjuntura internacional ajudava os golpistas. O comunismo era uma realidade. Governos de esquerda e meia esquerda lideravam democracias reformistas na América Latina.
E os golpistas tramavam em silêncio. Ninguém fazia discurso pedindo fechamento do STF, prisão de ministro. Ninguém pedia anulação de eleições. Tramavam o golpe para evitar o comunismo, que assusta a direita mesmo agora, quando já não vigora em lugar nenhum.
Quando tudo estava pronto, aí sim. Golpe dado, adversários encarcerados, Congresso manietado, parlamentares cassados, gente desaparecida, muita gente torturada…
Alguma semelhança com essa tentativa de golpe chefiada por Bolsonaro? Nenhuma, não é mesmo? Afinal, nenhuma organização representativa da sociedade civil, nenhuma liderança importante do setor empresarial, nenhum grupo importante da mídia apoiava as manifestações golpistas bolsonaristas. E o comunismo é só um fantasma que a direita usa para assustar os incautos das redes sociais…
E as articulações palacianas para impedir a posse de Lula? Tem coisa mais atrapalhada? As reuniões eram gravadas em vídeo e arquivadas nos computadores dos golpistas, as trocas de mensagens se davam nas redes sociais e ficavam na memória dos celulares…
Os milhares que foram às ruas em Brasília e depredaram as sedes dos poderes – enganados por falsos líderes escondidos nas redes sociais e encastelados nos palácios – foram chamados de pobres coitados por Bolsonaro. E era com o apoio desses coitados que eles contavam para instalar uma ditadura…
O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens então presidente, era o estafeta na trama golpista. Levava e trazia recados. Preso, não hesitou. Tratou logo de negociar uma delação premiada. Deu no que deu…Todo mundo entregando todo mundo.
Ainda não dá para dizer que estamos, afinal, livres dos golpistas. Mas, creio, podemos aproveitar ensinamentos de Ariano Suassuna. O intelectual paraibano dizia que o otimista é um tolo, que o pessimista é um chato e que bom mesmo é ser realista esperançoso.
Os fatos da semana passada mostram que o Brasil precisa, com urgência, criar o MRE, Movimento Realista Esperançoso. Só com o MRE, o país poderá enfrentar com vigor os otimistas oportunistas desse MMPP, Movimento Meu Pirão Primeiro, que vivem no melhor dos mundos (melhor para eles mesmos, claro) ocupando um naco qualquer do poder e indo com o governo de plantão ao sabor dos acontecimentos, ou das verbas liberadas… O MMPP, que também pode ser chamado de Centrão, é contra, ou a favor, de acordo com o vento soprado pelo poder…
Com o MRE, o Brasil faria frente à chatice dos pessimistas do MCC, Movimento Cuidado com o Comunismo. Os integrantes do MCC estão sempre por aí, como estiveram outro dia na Avenida Paulista, atendendo à convocação do evangélico-bolsonarista Silas Malafaia, ajudante de ordens do ex-capitão Bolsonaro. E andam sempre prontos a gritar contra qualquer coisa que vá ao encontro ao pensamento retrógrado encarnado pelo ex-presidente.
A tarefa principal do Movimento Realista Esperançoso é abrir um caminho alternativo entre esse dos extremistas de direita, que não cansam de atacar as instituições, e o dos oportunistas de plantão, sempre pendurados na bolsa federal, ou nas verbas do orçamento…
Espaço para o MRE tem. Desde janeiro de 23, o Brasil retomou o caminho da democracia. O Realismo Esperançoso só precisa reconhecer o que temos de bom agora e mostrar o que se pode fazer para melhorar tudo o que ainda precisa ser melhorado. Mas, para isso, é preciso enfrentar além dos pessimistas do MCC, os otimistas oportunistas dos MMPP, para quem é melhor deixa tudo como está para ver como é que fica…
Depois de tudo isso, o ex-presidente virou Eau de Parfun Bolsonaro (pronuncie Bolsonarrô, s`il vous plait), produto criado pelo empresário maquiador Agustin Fernandez, amigo da ex-primeira dama Michelle.
Lançada há dois ou três dias, Eau de Parfun Bolsonaro já se presta a golpes. Tem gente vendendo o perfume como se fosse o fabricante. Então fique esperto. O cheiro de golpe continua no ar. Mas, como diz o velho ditado, o que importa na festa são os convidados, o resto é perfumaria. Ou, como disseram Freire Gomes e Batista Júncior, o que importa num golpe são os comandantes, o resto é só gritaria…
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Foto da Capa: Divulgação