Ler é uma tarefa cotidiana, de certa forma, natural. Mesmo para os que têm pouca intimidade com o hábito, principalmente para leituras de maior fôlego, não estão livres desta obrigação diária. A leitura está no trabalho, no lazer, nas regras, na sobrevivência. Em tudo, enfim.
Escrever, embora um pouco mais complexo, também é inevitável. Desconheço quem possa ficar 24h sem escrever – de um bilhete a um twitter, de um texto profissional a uma mensagem confessional. Todos escrevem.
E aí está o problema: por ser algo tão básico, tão cotidiano, tão banal, a maioria confunde com algo fácil. E – quase sempre – não é. Mesmo a mais singela postagem do Facebook exige clareza, poder de síntese e capacidade de reflexão, ainda que muitos não pensem (e não façam) assim.
Passar a complexidade dessa aparente obviedade é das coisas mais difíceis do mundo. Eu, que há mais de 30 anos vivo desse ofício, ainda encontro quem me diga: “Ah, escrever é fácil, é só sentar que sai”. Não, o que “é só sentar que sai” é outra atividade, geralmente realizada em local apropriado, ainda que os resultados sejam parecidos com um texto ruim.
Escrever é fácil – ou impossível. Às vezes até surge de maneira mais simples. Mas aí exige muitas vezes anos de treinamento e um conhecimento prévio sólido e amplo. Escrever é pensar com os dedos. Escrever bem, então, é um objetivo constante e raramente alcançável. Como Mario Quintana ensinava: se disserem que escreves bem, desconfia. O crime perfeito não deixa vestígios.