Finalmente cheguei quase do outro lado do mundo!! Estou na Noruega, realizando o sonho de conhecer os fjords, mas também para eventos muito especiais. Minha prima mais que amada vai casar, eu e meu marido vamos comemorar 10 anos de perrengues juntos e minha filha largou os cangurus e veio nos encontrar.
Casamentos são uma delícia. Eu mesma casei 3 vezes. Diz a lenda que meu avô casou 7, e só eu conheci 3 das esposas dele, as outras se perderam ou morreram na guerra.
Enfim, adoro casamentos, mas não por motivos religiosos ou tratados comerciais. Nos meus, gosto do excitamento de compartilhar a vida com uma pessoa que me diz algo naquele momento. Gosto dos planos, do afeto e da parceria. Nos casamentos dos outros, gosto da comemoração, claro, seja ela num festão ou um ajuntamento com poucas pessoas e muito amor. Mas adoro mesmo conhecer pessoas de mundos diferentes, que estão ali com o mesmo objetivo, de celebrar pessoas que amamos.
Quem não tem uma história de festa de casamento pra contar? A minha tia casou em casa só com a família, pois minha avó tinha morrido fazia pouco tempo. Um absurdo, na minha visão de criança festeira da época. Sem pensar muito, lembro que eu e meus primos confeccionamos alianças daquele papel dourado das carteiras de cigarro antigas, decoramos a mesa com cajuzinhos de lata – sim, cajuzinho, o atestado de pobreza e de felicidade supremo. Foi lindo, lembro até hoje das risadas, lágrimas e carinho envolvidos. E não fale em lágrimas, porque sou a carpideira moderna das festividades, choro como se estivessem me pagando pra isso.
Teve o casamento de um amigo no interior de Santa Catarina, onde a festa foi no salão da igreja com bandinha alemã e café da manhã depois do baile. Diversão, muito carinho, comida boa e quilos extras garantidos.
Casei 2 vezes na corte americana, ou seja, com um juiz, naquelas salas de tribunal. No primeiro, um julgamento estava acabando e o preso, quando passou por nós, perguntou: “Têm certeza que vão fazer isso?” Rimos, de nervoso e da pergunta, tanto que esqueci meu nome na hora de fazer os votos.
Mas afinal, quando os brasileiros invadiram a Noruega? Não foi na Segunda Guerra, mas em setembro de 2024, quando um grupo de gaúchos, catarinenses, goianos, brasilienses e nascidos em sabe-se lá qual outro estado, chegaram na ilha de Malmøya, um lugar com praias lindas, natureza preservada, poucas cabanas de férias e vários bunkers com ninhos de artilharia antiaérea da Segunda Guerra, nunca usados por um erro de cálculo dos nazistas.
Tudo surreal, das paisagens ao grupo de pessoas reunidas, que passaram 4 dias numa cabana espaçosa, mas como num território ocupado em operação de guerra para se alimentar, conviver, se divertir, se conhecer e receber os convidados do casamento, que pelas contas super precisas dos noivos, poderia ser qualquer coisa entre 30 e 120 pessoas. Adoro isso!
Poder… poder eu não tava podendo, mas como deixar de ir num casamento onde a noiva usa flores colhidas no mato no cabelo, não usa vestido branco nem véu, o noivo e sua família usam seus bunads, os trajes típicos de cada região da Noruega, e a música vai do violino folk com convidados cantado em norueguês, até um axé romântico celebrando a diversidade religiosa brasileira para a noiva descer de um penhasco se equilibrando num sapato de cordas, levada pelo meu tio, gaudério de Bagé, que se derretia em lágrimas? Como não ir numa celebração de amor pela humanidade onde os noivos não pedem presentes, mas sim que cada convidado faça uma doação ou uma boa ação quando e onde quiser? Como não vir para uma ilha que não tem nada de glamour, mas muita natureza e cada convidado não só pode como deve vestir o que quiser?
E só posso dizer que foi lindo e vou pagar sorrindo as 5.897 prestações do cartão de crédito na volta. Pela simplicidade, pelo amor, pelos novos amigos super especiais que fiz (alô Mano e Beta), pelas pessoas incríveis que conheci, como a cientista que faz stand-up comedy, Anca Minescu (procurem no YouTube, vale cada segundo), a advogada Nutsa, que planejou todo o casamento como uma cerimonialista profissional, e pela família que cresceu pra Escandinávia e que nos recebeu tão bem que eu queria ficar morando lá mesmo, comendo salmão fresco e chocolate Freia.
Foi especial por ver duas pessoas tão corajosas, que passaram por tanta coisa boa e ruim na vida, se encontrarem para compartilhar um futuro que ninguém sabe qual é, mas que com certeza, vai ser melhor porque estão juntos.
Então agora já sabem, nunca me convide para um casamento porque eu vou mesmo, seja onde for.
* E uma última curiosidade. Desde o início da viagem pela Escandinávia, notei que em todos os lugares as camas de casal, seja nas casas, Airbnbs ou hotéis, têm dois cobertores ou edredons de solteiro separados. A cama é a mesma, mas cada um tem a sua coberta. Achei lindo! Muito simbólico o tamojunto, mas cada um com a sua individualidade pra fazer o que quiser embaixo do edredom preservada do famoso emitir gases até o puxar as cobertas do outro. Achei simples, mas super evoluído.
Fotos: Acervo da Autora
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