Os últimos tempos têm sido muito acelerado para mim, uma aceleração boa, de abertura de caminhos longamente sonhados no meu propósito de vida. Mas isto não exclui que seja preciso parar para analisar estes caminhos e fazer escolhas, e não sair dizendo SIM para tudo que é a grande falácia de quem não quer perder oportunidades.
Eu sou uma pessoa voraz por natureza, e na vibe da FOMO já me meti em tudo que foi impossível e possível: e digo, não vale a pena. Sempre irão existir os convites, os melindres sociais, as situações que você vê e quer agir, e você terá que ter muito claro para você: o que realmente soma, como você está e o que ganha para ser “imparável”. E não estou falando em ganho de dinheiro, mas ganho de vida, trocas positivas, conhecimento, afeto.
Quando você está em uma posição de visibilidade, nunca se esquece que os outros estarão em modo Shark, e você terá que aprender a navegar nestas águas. Quais as batalhas que irá escolher? O tempo para reagir ou deixar para lá frente a haters, a bajuladores ou apenas interesseiros que desejam surfar na sua onda, apenas por que acham que você está em “alta”?
Então, ao invés de assumir uma postura de vítima, passe a ser estratégica e analise os caminhos e faça escolhas. E muitas vezes pare… pare para se escutar, para relembrar seus porquês, para evitar entrar em zonas de “causação” desnecessárias. Não tenha medo de ouvir sua intuição e perceber os entornos e pessoas, e selecione as batalhas, as entregas, a sua entrega para a vida, para causas.
Eu vejo que tenho autoridade para refletir sobre isto, pois mergulhei nas causas a minha vida inteira. Fui educada por um militante esquerdista ligado ao movimento negro, o Walter Carneiro Rosa, meu tio paterno, que era acionado para tudo. E aí quando adoeceu mentalmente, na década de 70, sumiu partido, sumiram os companheiros, sumiu a cena pública e sobrou o ostracismo, a frustração e o título de “louco”.
Lembro que anos após, quando ele retornou ao movimento do hospital São Pedro, aqui em Porto Alegre, ainda mesmo em sua doença, liderou a associação dos pacientes psiquiátricos e teve uma importante contribuição na discussão da luta antimanicomial no Brasil. Este é o meu DNA. Gente inconformada, que não se isenta, que pensa, que age, que tem bom coração para a causa pública.
Mas que precisa aprender a dizer: não. A estabelecer limites. Para não virar massa de manobra como se dizia no jargão da militância. E eu? Eu já fui insanamente cortejada pelo movimento estudantil, mas como tinha este aprendizado em casa, tanto minha mãe quando meu tio me davam os elementos de bastidores para que eu pudesse me posicionar. E comecei uma série de Nãos. Não à política partidária, não à militância de internet, não à comunicação tóxica denuncista que não apresenta nenhum caminho de ação real.
Foi por isto que os 25 anos eu escolhi fazer um mestrado em educação, pois desde lá eu pensava: “Como é possível unir comunicação e educação?” Lá nos idos dos anos 90, eu sonhava com redes de pessoas, com o aprendizado entre pares, com a pedagogia da esperança do prof. Paulo Freire. E lá eu decidi que eu iria na contramão buscar construir pontes e gerar impacto real nas causas que abraço hoje como diversidades, inovação e futuros. Causa amplas, inclusivas, pois o identidarismo não dá conta de tudo… A frase da influencer e artista indígena Katú Mirim, na última treta da internet sobre os Tops Creators, não me sai da cabeça: “O mundo não é preto e branco. Quando vocês vão parar de nos invisibilizar?”
E sobre não fazer Nada? É uma escolha que muitas vezes precisamos, parar e não fazer nada para poder pensar livremente. Liberdade de ter tempo para pensar ao não fazer nada. Use seu direito de não fazer nada, e pense ou repense todos os caminhos que você acabou se colocando. Porque a gente sempre faz algo, e que este algo esteja em total consonância com o seu propósito. Mas se dê tempo, se dê nadismo, até para descobrir que propósito é este.
Foto da Capa: Freepik
Mais textos de Patrícia Carneiro: Leia Aqui.