Para avançarmos na afirmativa do título desse texto, primeiro precisamos entender minimamente o que seria um ecossistema de inovação.
Com todo risco da simplificação, eu poderia afirmar que um ecossistema de inovação traz em si a visão ecossistêmica, que pressupõe uma atuação integrada e articulada de diversos atores dedicados a criar uma cultura de inovação. Além disso, precisamos também considerar que um ecossistema de inovação precisa ser construído através de um contexto favorável e uma dinâmica local própria, produzindo inovação em suas diferentes perspectivas como inovação de produtos, de serviços, organizacional, social etc.
O motor de tudo isso é a tal da atitude empreendedora que deve aparecer não só na criatividade e senso prático dos empreendedores que dão vida às ideias com suas “startups”, mas também na compreensão e implementação de novas dinâmicas por todos os atores desse ecossistema.
Posso afirmar, como um empreendedor da transformação digital que milita nesse tema desde os anos 90, que, quando falamos de ecossistema de inovação em Porto Alegre, nascemos em 2018 e desabrochamos pós pandemia.
A cidade de Porto Alegre sempre teve farta matéria prima para a inovação. Aqui sempre se produziu muito conhecimento e talentos em todas as áreas. Já nos anos 90, tivemos os primeiros parques tecnológicos, os movimentos iniciais de “venture capital” e a primeira onda de empreendedores da internet, mas 2018 é seguramente o momento do nosso “tipping point” (Gladwell, 2006).
Nesse ano, com o protagonismo das três principais universidades presentes em Porto Alegre (UFRGS, PUCRS e Unisinos) é criada a Aliança para Inovação e em seguida o Pacto Alegre, uma proposta de pacto em favor da inovação pleno de simbolismos e de capacidade mobilizadora. Iniciamos em 2018 o nosso ponto de virada num processo único de articulação de diferentes atores que transformaram iniciativas inovadoras isoladas em parte de uma proposta sistêmica de articulação local.
Foi determinante para validar visão sistêmica da inovação, a participação do Governo Municipal, a Iniciativa Privada, a Academia e a Sociedade Civil, incluindo diversas associações e coletivos que passaram a atuar na visão comum de construção de um verdadeiro ecossistema de classe internacional.
Recentemente, nosso ecossistema foi retratado em mapeamentos produzidos por empresas nacionais como a Pipiline Capital e Distrito. Esses mapeamentos nos mostram a evolução de um ecossistema com mais de 600 startups de base tecnológica em verticais tão diversos como educação, saúde, agro, marketing, publicidade, logística, construção civil, varejo, recursos humanos, finanças, entre tantos outros. Apenas como referência, um estudo do Sebrae de 2016 falava em 101 startups na região metropolitana.
O Instituto Caldeira, iniciativa que conta com 42 empresas fundadoras, em poucos anos se tornou um hub de inovação com padrão internacional e dinâmica única. Em seus 22.000 m2, que em 2018 estavam abandonados, o Instituto abriga hoje centenas de startups e inúmeros programas de apoio ao empreendedorismo e a formação de talentos. O South Summit nasceu em 2021 como o principal evento de inovação do sul do país e corre para entrar na agenda global já no seu segundo ano.
O sucesso do ecossistema de inovação em Porto Alegre naturalmente contaminou positivamente diversas outras regiões e cidades do estado que se mobilizam para criar seus próprios ecossistemas de inovação. Esse é o caso de iniciativas em Caxias, Lajeado, Passo Fundo, Rio Grande, Gravataí, Pelotas apenas para citar algumas outras cidades do RS.
Um levantamento preliminar do “Startup Guide”, publicação global que dá ênfase e destaque aos principais atores de vários ecossistemas no mundo, identificou com alta relevância no ecossistema gaúcho além de muitas startups, mais de 15 empresas investidoras e/ou aceleradoras de startups, mais 20 programas de aceleração, pelo menos 15 escolas ou universidades que trabalham o ecossistema de forma sistemática, mais de 20 espaços hubs ou espaços físicos exclusivamente criados para abrigar empresas inovadoras e mais de 20 founders, que se notabilizam como empreendedores de ciclo completo no nosso ecossistema. Breve deveremos ter nesse guia a história do ecossistema de inovação do RS contada na perspectiva desses atores.
Enfim, nosso ecossistema de inovação decididamente desabrochou, mas penso que nem tudo são flores. Teremos muito trabalho nos próximos anos para criar uma clara identidade para o nosso ecossistema e fazer jus a todo reconhecimento que ele vem obtendo.
Precisamos compreender, na medida que evoluímos o ecossistema, que a Inovação é meio e jamais fim. A inovação é um caminho, talvez o único, para o crescimento sustentável e inclusivo.
Talvez nosso próximo passo seja o de construir uma tese clara sobre qual ecossistema estamos criando e qual o seu propósito dentro do contexto do futuro da nossa cidade e do nosso estado de forma a torná-lo mais inclusivo, mais sustentável, mais diversos e mais transformador da nossa realidade.
*Cesar Paz é empreendedor e articulador do POA Inquieta