Não me faltam argumentos para elogiar Enner Valencia, 33 anos, a grande contratação do Inter neste ano. Maior artilheiro da história da seleção do Equador, quinto maior goleador do futebol europeu na temporada – atrás de Haaland, Mbappé, Kyogo Furuhashi e Hugo Cuyppers. Já marcou seis gols em Copas, três deles na última edição, em 2022, e três em 2014. E vive o melhor momento de sua carreira. Tenho convicção que a animação dos colorados também é consequência do efeito Suárez no Grêmio!
Enner Valencia é uma contratação de impacto do Inter. Acaba de ser artilheiro do Campeonato Turco, atravessa uma fase excepcional em sua trajetória. Mas o efeito Suárez foi um trampolim nesta adoração dos colorados ao ex-centroavante do Fenerbahçe. Houve uma celebração tão grande pelo uruguaio, mas tão grande que exigiu do Inter uma resposta. Suárez é uma estrela do futebol mundial. E Enner, também um grande jogador, ganhou um status efetivamente maior que teria se o rival não tivesse investido no ex-atacante do Barcelona.
O Inter, por exemplo, já havia contratado o também uruguaio Diego Forlán. Eleito craque da Copa de 2010, Forlán desembarcou no Beira-Rio apenas dois anos depois do Mundial da África do Sul, quando encantou a todos com lindo gols e atuações que levaram seu país ao quarto lugar da Copa: ele foi um dos artilheiros das Copa com 5 gols. Forlán não teve nem a metade da badalação de Enner. Precisamos colocar neste contexto que aquele era um Inter que acabava de vencer duas Libertadores (2006 e 2010) e um Mundial (2006). Ou seja: um Inter menos carente como este atual.
Suárez subiu a régua do Grêmio e do futebol gaúcho. Grandes contratações, a partir de agora, terão o uruguaio como balizador. Por aqui, poucos jogadores atingiram tanto respeito no futebol mundial como o camisa 9 do Grêmio: Ronaldinho Gaúcho, duas vezes Bola de Ouro pela FIFA (2004 e 2005) e campeão da Copa em 2002 com a seleção, e Paulo Roberto Falcão, eleito Rei de Roma na Itália nos anos 1980, jogaram bem mais que Suárez. E há uma dezena, talvez duas, de atletas com passagem pela dupla Gre-Nal, com maior qualidade técnica que Suárez, mas que não tiveram tamanho prestígio internacional também por que eram outros tempos: Figueroa, Ancheta, De Léon, D’Alessandro, Éder, Paulo César Carpeggiani, Gamarra, só pra citar alguns. E teria ainda Dunga, o capitão do tetra; Goycochea, lendário goleiro argentino, e Dida, também goleiro, campeão por onde passou, especialmente pelo Milan e pela Seleção.
Qualquer comparação com Suárez não deve ser utilizada para diminuir a qualidade de Enner Valencia. O Inter fez uma contratação excepcional que vai agregar qualidade ao time de Mano Menezes. Enner tem força, velocidade, ótimos arremates, e um faro de gol impressionante. O time ganha qualidade justamente no setor que mais precisava. O Inter passa a ser bem mais competitivo com um camisa 9 tão qualificado como Enner, que na verdade vai usar a camisa 13.
Comparar grandes jogadores faz parte da essência do futebol e é saudável. Desde que não se diminua a qualidade destes grandes jogadores apenas por que um deles veste a camisa do rival. O exagero desta nossa rivalidade não aceitaria que Messi jogasse no Inter e Cristiano Ronaldo no Grêmio. Um deles seria tratado como jogador comum pelos torcedores do outro time, neste rotineiro apequenamento de ideias.