O eletrocardiograma é o exame que avalia o ritmo dos batimentos cardíacos e mostra uma onda com picos para cima e para baixo da linha média. A história do Brasil é assim, momentos de alta que se alternam com momentos de baixa. Em outras palavras, em curtos períodos de tempo alternamos euforias e frustrações, avanços e retrocessos, prosperidade e crises.
Analisando os últimos 60 anos, identifiquei que de 1967-73 houve o chamado “milagre econômico brasileiro” com crescimento médio do PIB de 11% ao ano, que foi interrompido pela crise do petróleo em 1973. As crises se sucederam chegando a ter 2000% de inflação em 1993. Em 1994, veio o Plano Real e a nova moeda valia mais do que o dólar. Com um Real era possível comprar um quilo de frango. O pobre pode comer carne. Todos pensavam, “agora vai”, o Brasil será um país desenvolvido. Quatro anos depois veio a crise da Ásia e da Rússia e nova estagnação, a economia parou de crescer. Entre 2004 e 2010, o Brasil se tornou um case de sucesso para o mundo, a economia crescia 5% ao ano e houve distribuição de renda, levando 40 milhões de pessoas das classes D e E a conhecerem o avião e terem acesso a moradia, educação, cultura, havia pleno emprego etc. Entre 2004 e 2014, a produtividade do trabalho cresceu 21%. Logo depois houve uma queda dos preços das commodities (soja, carne, minérios) que prejudicaram as exportações brasileiras.
Na sequência surgiram os escândalos de corrupção, a operação Lava Jato e a quebra de grandes empresas brasileiras, gerando mais desemprego. No governo Temer, o PIB foi de 1,32%, seguido pelo governo Bolsonaro com um PIB médio, nos quatro anos, de 1,14%. Segundo o FMI, este desempenho foi bem inferior ao crescimento dos 24 países emergentes (Emerging Markets Index). A justificativa de Bolsonaro foi a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
As ondas de bons e maus desempenhos ocorreram também em outras áreas. Na política também passamos por euforias, medos e decepções. Em 1990 Collor se elegeu presidente por ser “Caçador de Marajás” e dois anos depois sofreu impeachment. Em 1994 Fernando Henrique Cardoso com o seu Plano Real era a grande esperança, novamente acreditamos que “agora vai”, mas não foi. Em 2002, Lula assume a presidência e se torna o presidente mais popular do período pós-redemocratização. Em 2018 Lula é preso acusado de corrupção. Em 2019 Bolsonaro se elege prometendo combater a corrupção e logo passou a ser acusado de corrupção no seu governo e na sua família.
O Juiz Sérgio Moro, que conquistou as capas das principais revistas pelo seu trabalho no combate a corrupção na Operação Lava Jato, perdeu credibilidade quando se descobriu que ele orientava os procuradores, deixando de lado a exigida imparcialidade de um juiz. Em 2022 ele se tornou o principal assessor de Bolsonaro nos debates na TV. Como se diz no futebol, nunca elogie o juiz e o goleiro antes do final do jogo. Parece que isto também vale para outras áreas.
Por fim, em 2022, a eleição mais disputada da história, foi um plebiscito, de um lado os que diziam que se o adversário vencesse o país se tornaria comunista. Do outro, os que temiam um regime fascista. Um eletrocardiograma certamente detectaria que boa parte dos 215 milhões de brasileiros quase infartou durante a apuração dos votos. Lula venceu com 1,8% de vantagem e prometeu unir o país.
A nossa história vive de ciclos, a cada período surge um “Salvador da Pátria” para logo depois se tornar vilão. Nós, brasileiros, queremos que o Brasil se torne um país de primeiro mundo, um país desenvolvido e democrático, mas esperamos que alguém faça isto por nós. Chega de acreditar em salvadores da pátria e em mitos. Está na hora de desenvolvermos uma mentalidade de primeiro mundo e de nos comportarmos como cidadãos de países desenvolvidos. O Brasil vai mudar quando nós mudarmos.