Embora citando duas vezes as obras sociais de sua primeira-dama, o presidente Jair Bolsonaro não resistiu e, sem pensar na desvantagem que tem no eleitorado feminino, partiu para o ataque à jornalista Vera Guimarães, da TV Cultura, que dirigiu uma pergunta sobre a queda na cobertura vacinal no Brasil a Ciro Gomes, pedindo réplica de Bolsonaro. Ele disse: “Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. E em seguida emendou, exaltando-se: “Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito.” Bolsonaro voltou-se também contra a Senadora Simone Tebet, que disse envergonhar o Senado. Foi um debate quase sem propostas, mas com muitas insinuações, ofensas e acusações.
O presidente foi o alvo preferencial do debate, mas sempre mirou de volta no candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que o ameaça com a liderança nas pesquisas. Indagado, Lula esquivou-se de uma pergunta sobre corrupção, mas disse que seu governo sempre apoiou investigações sobre o tema e manteve a independência da Procuradoria Geral da República, que considera atrelada ao Governo Bolsonaro. Outro tema do debate foi a questão das mulheres, área em que Bolsonaro tem desvantagem. O assunto foi levantado pelas candidatas mulheres, Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil), e pontuou os debates após o ataque a jornalista. Ciro Gomes e Lula também se solidarizaram com Vera.
O evento foi organizado por um pool das redes Bandeirantes e Cultura, com a Folha de São Paulo e o UOL. Durou mais de três horas. Tebet foi talvez a mais crítica no programa. Não poupou Bolsonaro e nem Lula. Na defesa de Vera, Simone virou alvo de Bolsonaro: “A senhora é uma vergonha para o Senado. E não estou atacando mulheres, não. Não vem com essa historinha de atacar mulheres, de se vitimizar”. Até o final de setembro, estão agendados mais quatro debates: 2/9 – RedeTV; 3/9 – TV Aparecida; 24/9 – CNN, Veja, SBT, O Estado de S. Paulo, Nova Brasil FM e Terra; 29/9 – TV Globo
A senadora Soraya Thronicke repetiu uma declaração de um ativista digital que chamou Bolsonaro de “tchutchuca do centrão. “Quando vejo o que aconteceu com a Vera, fico extremamente chateada”.
– Quando homens são tchutchucas com outros homens e vêm para cima da gente sendo tigrão – disse.
Ciro Gomes e Simone Tebet criticaram os dois adversários que lideram as pesquisas e conseguiram falar de futuro, enquanto Lula e Bolsonaro mais trocaram insultos. Bolsonaro atacou Lula já na primeira pergunta. Citou números sobre a Petrobrás e o ex-ministro Antonio Palocci, delator de Lula, e chamou o adversário de corrupto. Lula falou dos órgãos que criou para investigar denúncias de corrupção, como fizera no Jornal Nacional, e não rebateu. Chamou Bolsonaro de mentiroso e assim foi ao longo de todo o debate.
Ciro contou com Felipe D’Ávila (Novo) em uma espécie de dobradinha. Depois de ter respondido a uma pergunta de jornalista sobre educação, que chamou de “presente de Deus”, foi questionado sobre o mesmo tema por D’Ávila pode discorrer sobre o bem-sucedido projeto do Ceará e falar de suas ideias para recuperar o tempo perdido com a pandemia.
Simone foi dura com Lula e com o Bolsonaro e revelou-se uma debatedora preparada. Não perdeu oportunidade para lembrar dos casos de corrupção do governo petista e comparou o mensalão e o petrolão aos escândalos do Ministério da Educação e do orçamento secreto de Bolsonaro. Não poupou emedebistas que apoiam ou Lula ou Bolsonaro, mas jurou que o MDB não é fisiológico. Soraia repetiu o que pode sua proposta de imposto único, citando o autor da proposta Marcos Cintra, ex-superintendente da Receita Federal. Ciro Gomes sequer comentou a proposta, mas lembra que o autor insiste nela há de trinta anos.
Campanha no rádio e tevê não tem nada de gratuita e as estratégias dos candidatos no RS
A pouco mais de um mês para o primeiro turno das eleições, a campanha eleitoral avança no setor considerado estratégico nas campanhas: o rádio e a televisão.
Diante do grande contingente de indecisos, segundo o IPEC, Edegar Pretto (PT) e Onyx Lorenzoni (PL) buscam nacionalizar a disputa, credenciando-se como nomes de Lula e Bolsonaro, respectivamente. Luis Carlos Heinze (PP) tenta passar uma imagem de gestor, sem o radicalismo, ainda que faça a defesa de Bolsonaro, de quem o senador é apoiador. Eduardo Leite (PSDB) terá o maior tempo, com 3 minutos e 44 segundos. O tucano vai defender o legado de seu governo, ao qual renunciou no início do ano. Além de se defender de ataques dos rivais, vai enfatizar que integra um projeto iniciado pelo ex-governador José Ivo Sartori, que defendeu sempre candidatura própria.
Leite tem sido o principal alvo, à esquerda e à direita, nos primeiros debates. Vicente Bogo (PSB) e Vieira da Cunha (PDT) devem destacar a importância da educação em suas inserções.
Os gaúchos poderão votar também em Ricardo Jobim (Novo), Carlos Messalla (PCB), Paulo Roberto (PCO), Roberto Argenta (PSC) e Rejane de Oliveira (PST). Messalla, Roberto e Rejane não terão tempo de rádio e TV porque seus partidos ficaram abaixo da cláusula de barreira de votos na eleição de 2018. E Jobim, nos breves 22 segundos, conseguiu dizer que seu partido abre mão do financiamento eleitoral com recursos públicos.
Quanto custa o rádio e a televisão
Ainda que tenha se convencionado chamar a propaganda no rádio e na televisão de gratuita, ela não tem nada de graciosa. Custa e muito. Não há almoço grátis. O horário eleitoral deve garantir R$ 737 milhões em renúncia fiscal às rádios e às televisões. A previsão, da Receita Federal, estima quanto o governo deixará de arrecadar em Imposto de Renda para ressarcir as emissoras obrigadas a exibir os programas. O desconto em tributos está previsto em lei. Desde 2000, a Receita deixou de cobrar mais de R$ 10 bilhões devido a essa renúncia fiscal. A isenção do tributo é calculada levando em consideração o que cada emissora prevê que receberia de receita publicitária no tempo em que a propaganda política é veiculada e o faturamento que ela teve no horário nos outros meses.
O modo como o ressarcimento é feito atualmente não agrada as emissoras. A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) reivindica uma mudança na legislação para que o espaço cedido seja pago com dinheiro e não com compensação fiscal. Flávio Lara Resende, presidente da Abert, argumenta que a compensação fiscal está muito abaixo do valor comercializável pelo horário cedido.