O filme da Barbie é uma experiência e tanto, quem pensa que a boneca mais famosa do planeta entrou no mundo dos humanos de todas as idades sem objetivo certamente poderá ser surpreendido principalmente se deixar do lado de fora do cinema as lentes do pré-conceito e aceitar entrar de corpo e alma no seu mundo.
Para início de conversa de forma muito pragmática o filme começa mergulhando o telespectador na verdadeira revolução trazida pela boneca inspirada no modelo estético da famosa personagem de quadrinhos chamada Lili. Lili era uma acompanhante de homens ricos que sempre acabava se metendo em encrencas, e que fazia sucesso na Alemanha de 1950.
Brincadeiras à parte nos primeiros minutos na telona ela deixa claro que veio para romper padrões e redefinir as configurações do brincar de boneca ou seja, as meninas a partir do surgimento da Barbie puderam expandir sua imaginação para o além de brincar de cuidar de bebês e fazer comidinhas para explorar um universo feminino repleto de novas possibilidades.
E ao longo destes 64 anos a boneca provou que a mulher não precisa perder o charme para seguir o seu propósito. Sim a loirinha de cintura fina se manteve firme na estrada combatendo os estereótipos acerca do ser feminino. Inclusive o de ser um símbolo do capitalismo e alienação da mulher. Quantas meninas mundo a fora ao longo destes 64 anos ao lado da sua Barbie deram seus primeiros passos rumo ao mundo das mulheres adultas e independentes imaginando-se glamorosa, rodeada de amigas e realizada.
Aos chatos de plantão peço desculpa, mas essa boneca é sim um luxo quando falamos de objetivo e propósito. Ela veio ao mundo para mostrar que a mulher após a puberdade é muito mais que pares de pernas e glúteos e que existimos para muito além do procriar. Em uma marcha cadenciada e ritmada ela se manteve à frente dos tempos e literalmente como brincadeira de criança abriu as janelas para a evolução do ser feminino.
Para as brasileiras da minha geração esse papel foi ocupado pela Susi que ampliou o ser mulher para além dos papéis de filha, mãe e tia que a sociedade brasileira insistia em propagar. Uma revolução gerida silenciosamente dentro de outra revolução em tempos que ser rebelde virava caso de polícia a Susi brincando subverteu o sistema.
Assim, os primeiros minutos do filme é um abridor de mentes e nos chama a valorizar o papel do brincar para o fortalecimento do ser feminino em um mundo que já avançou mas tem muito ainda a evoluir quando o assunto é a mulher e seu papel na sociedade.
Então, sigamos brincando e revolucionando o mundo com charme, beleza e propósito, independe da idade e sexo.
Glória Yacoub
Economista, Professora Universitária