Não se trata aqui de um texto apocalíptico. Não sou Nostradamus ou mesmo um vidente com menos prestígio dizendo por metáforas ou de forma precisa que no dia tal o mundo vai acabar.
O assunto em questão não é o fim do mundo, mas o fim de um mundo. Como vivemos imersos numa época, acreditamos que as coisas são da maneira que se apresentam e que sempre serão assim. Não cogitamos que os impérios possam vir a se desmoronar. Mas o fato é que a história é uma coleção de apogeus e quedas.
Por diferentes motivos, em diferentes épocas, o que era enorme some. Se jogar o I Ching, o oráculo milenar chinês, que tem hoje até versão online, vai aparecer uma hora o conselho explicando que esse é o movimento da vida. Os ciclos começam e terminam, o dia, a noite, enfim, nada dura pra sempre. Tudo está em constante movimento.
Quando a base material e a lógica que sustentam uma determinada época se vão, caímos num buraco irracional. A razão que organizava uma situação não é mais possível de dar conta da nova situação.
Vivemos a era industrial até bem pouco tempo. Com as máquinas, os centros industriais atraíram milhões de pessoas que viviam no campo. Os empregos do setor fabril abrigaram uma imensa massa trabalhadora. Do poder da indústria, o comércio e o setor de serviços se expandiram, abrigando mais e mais trabalhadores. Sindicatos e partidos se ergueram para tentar equilibrar o mundo do capital e do trabalho.
O império dos Estados Unidos se construiu nesse modelo. No entanto, com a robotização crescente, por um lado, e a competição dos custos de produção dos chineses, por outro, o mundinho estadunidense começou a ruir. E, com essa ruína, todo o modelo que se orienta por essa ordem também. (Isso tudo sem botar nessa balança o que já anunciava Al Gore sobre os efeitos da destruição da natureza.)
Não há mais como a indústria ser a grande geradora de empregos. E não há mais um campo, também robotizado, para receber a força de trabalho. Obama falava que a saída era a inovação. Trump, a retomada idílica de uma indústria nacional forte. Biden herda esses discursos sem muito resultado prático e não coloca outro plausível no lugar.
É o fim de um mundo que se aproxima. É a base material, como explicava o velho Marx, que gera a racional. Como essa base está se esboroando, não há uma base racional que se expresse a partir dela.
Parece ser isso que estamos presenciando como cenário da próxima eleição presidencial nos Estados Unidos. De um lado e de outro, o vazio de discurso marca o momento do país.
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA Mais textos de Ricardo Silvestrin: Clique aqui.