Agora, com as convenções partidárias realizadas, já sabemos quem serão os três principais postulantes à prefeitura de Porto Alegre: o atual prefeito Sebastião Melo (MDB), a deputada federal Maria do Rosário (PT) e a ex-deputada estadual Juliana Brizola (PDT).
Considerando os partidos que formalizaram apoio para cada um, temos um cenário com um candidato identificado com a direita, outra à esquerda e outra de centro-esquerda, cada um deles traz uma perspectiva única e propostas distintas para a administração da cidade.
A começar por Sebastião Melo, o atual prefeito de Porto Alegre possui uma vasta experiência administrativa e política, tendo servido como vice-prefeito e vereador. Durante seu mandato, ele focou em ações de infraestrutura e na gestão das enchentes que atingiram a cidade. Tem a vantagem de já estar familiarizado com a administração da cidade, o que lhe confere visibilidade e conhecimento sobre os desafios locais, sua resposta às enchentes, que devastaram Porto Alegre, será um elemento central na campanha, destacando suas iniciativas para mitigar os danos e apoiar os desabrigados. Terá como desafios as críticas relativas à eficácia de suas ações durante as enchentes e outros problemas administrativos podem ser questionados por seus adversários. A percepção pública sobre sua administração será crucial. Ele, que antes das enchentes era favorito de acordo com as pesquisas, agora precisará conquistar o apoio de eleitores que possam estar insatisfeitos com sua gestão.
Sua principal adversária será Maria do Rosário, como deputada federal e ex-ministra dos Direitos Humanos, ela é conhecida por sua atuação em defesa dos direitos humanos e sociais. Esses temas estão vinculados aos movimentos por moradia digna, que emergiram com força após as enchentes em bairros como Arquipélago, Sarandi e Humaitá, que tiveram milhares de porto-alegrenses desabrigados há pouco mais de 60 dias.
A candidata conta com uma base de apoio sólida entre eleitores progressistas, podendo mobilizar esses grupos. A ideia inicial de sua campanha era de “nacionalizar” o debate, criando um antagonismo com o atual prefeito, que tem na sua base de apoio o partido do ex-presidente Bolsonaro. Agora, a estratégia é focar nas decisões administrativas tomadas pelo atual gestor da prefeitura, de toda forma, o movimento seguirá tendo como pano de fundo a polarização política. O calcanhar de Aquiles da candidatura de Maria do Rosário será sua falta de experiência direta na gestão municipal, com os adversários levantando dúvidas sobre sua capacidade de administrar uma cidade do porte de Porto Alegre.
Por fim, correndo por fora, está Juliana Brizola, se posicionando como uma terceira via, mais moderada e de centro-esquerda, apostando nos altos índices de rejeição que Melo e Rosário possuem e que dificilmente serão revertidos.
A neta do ex-governador Leonel Brizola carrega um legado familiar com peso político significativo em todo o Rio Grande do Sul, o que pode atrair apoio considerável de eleitores que estejam cansados da polarização. Sua defesa da educação e de causas sociais são seus pontos fortes, especialmente em um cenário onde essas áreas se tornaram de fato prioritárias. Sua coligação tem como desafio saber se posicionar para que o eleitorado mais moderado perceba nela uma alternativa “palatável”, tanto para os eleitores de centro-direita como para os progressistas.
Será uma eleição muito disputada, que poderá ser definida nos detalhes. Será que Sebastião Melo conseguirá se descolar da gestão das enchentes? Será que Maria do Rosário conseguirá se apresentar como uma gestora promissora? Será que Juliana Brizola logrará êxito com seu intento de ser uma opção de via moderada? A capacidade de cada um em mobilizar eleitores e responder às necessidades da cidade, especialmente em um período de recuperação de desastres naturais, será crucial para determinar o vencedor. Independentemente de quem seja, que possa construir, junto à sociedade civil, uma Porto Alegre mais digna, equânime e próspera.
Cleiton Chiarel é cientista político, diretor do INSPE, chefe de divisão na diretoria técnica da Superintendência de Ensino Profissional do RS e articulador do Spin de Economia Criativa do POA Inquieta.
Foto da Capa: Reprodução do Youtube GZH
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