O IBGE apresentou que o Brasil estava mais envelhecido, que essa parcela da população estava maior, porém considerando a faixa etária a partir dos 65 anos!
Esta semana houve a segunda divulgação dos dados coletados pelo IBGE a respeito dos brasileiros. Nela, o IBGE apresentou que o Brasil estava mais envelhecido, que essa parcela da população estava maior, porém considerando a faixa etária a partir dos 65 anos! Como assim, se o Estatuto da Pessoa Idosa estabelece que pessoa idosa no Brasil é quem tem mais de 60 anos? Como assim, se na divulgação das edições anteriores do Censo brasileiro ele incluía a faixa dos 60-64 anos? Equívoco, esperteza, idadismo…. não sei.
É comum eu ouvir entre amigos que 60 anos é cedo demais para se considerar uma pessoa idosa, que acham que essa idade deveria ser revista no país. Há sempre que salientar que a velhice não possui apenas um marcador, como a idade cronológica, ela é um processo e será vivenciada de acordo por um conjunto de fatores, tais como as condições de saúde, socioculturais, econômicos, gênero etc.
A velhice não pode ser definida universalmente porque é sensível ao contexto. As Nações Unidas, por exemplo, consideram a velhice como sendo 60 anos ou mais. Em contraste, um relatório conjunto de 2001 do Instituto Nacional do Envelhecimento dos EUA e do Escritório Regional para África da Organização Mundial da Saúde – OMS estabeleceu o início da velhice na África Subsariana aos 50 anos.
Assim, voltando ao Brasil, mesmo numa mesma cidade teremos “velhices” sendo vividas de maneiras muito diferentes numa mesma idade cronológica, dependendo do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH de cada bairro. Porém, na legislação é preciso se estabelecer a régua pensando nos vulneráveis, pois são eles que, primordialmente, necessitam-se cuidar em suas políticas públicas.
E, por favor, quando me refiro a velhices vulneráveis significa não apenas a pessoas adoecidas, sem acesso a uma saúde pública de qualidade. Nessa conta estão aquelas que não conseguem emprego a partir dos 60 anos (a quem não são oferecidas políticas de educação e geração de trabalho e renda), e que se mantém muitas vezes pedindo esmolas pelas ruas. Ou, muitas vezes, as que lutam no seu cotidiano para trabalhar, criar seus netos, cuidar de suas casas, trabalhando em subempregos apesar da aposentadoria, transformando-se em alicerces de suas famílias.
Neste caso da divulgação dos índices equivocados de envelhecimento da população que foram divulgados, ainda bem coletivos, profissionais e instituições que atuam com a longevidade e envelhecimento se mobilizaram rapidamente e lançaram protestos e cartas de repúdio. Parece que o IBGE irá refazer seus cálculos. É o que se espera dele, uma Instituição séria e que sempre prezou por sua reputação. (veja nota abaixo)
Mas, afinal, quais são os números que deveriam ter sido divulgados pelo IBGE?
Conforme artigo escrito pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, no Portal do Envelhecimento, o Brasil conta com 15,8% da sua população com 60+ . No Censo de 2010, foi 10,8%. Se considerar os dados divulgados do IBGE no Censo de 2022, a partir dos 65 anos, a parcela envelhecida é de 10,9%. A nossa idade média já é de 35 anos. Nossa população está cada vez mais urbana e de maioria feminina. Uma curiosidade: até os 19 anos os homens são maioria na população, depois a feminina. Os motivos? Tem uma coluna na Sler onde abordo a respeito, caso se interesse em saber, clica aqui.
O Envelhecimento do Brasil é ruim?
Isso é fato demográfico. Não há mais o que questionar. Todo fato, especialmente numa proporção tão grande, provocará na sociedade efeitos positivos e negativos. É preciso potencializar o que há a favor e tentar minimizar ou neutralizar as questões negativas. O Brasil está atrasado nessa conversa e nas medidas que precisa tomar. Há muito o que pode e deve ser feito (novamente recomento o artigo do demógrafo José Eustáquio, acima). Penso que o nosso país e seus gestores ainda estão tomados pelo idadismo nas ideias, seja porque estão negando o fato, seja porque só conseguem enxergar os pontos negativos e nenhum dos positivos.
E a Imprensa
Uma pergunta: onde esteve a imprensa que apenas reproduziu as informações do IBGE sem questionar? Quando vai entrar na questão do envelhecimento, que é questão central no debate do futuro do país, para além dos custos da previdência e Dia dos Avós?
A Cultura do Cuidado
Nós, mulheres, cuidamos e muito! A ponto de estarmos esgotadas conforme aponta a pesquisa da ONG Think Olga. E todo esse trabalho de cuidado, que não é remunerado, é invisibilizado e não reconhecido, tem trazido um custo enorme na nossa saúde mental e física de acordo com a pesquisa. A gente cuida da casa, das crianças, das pessoas idosas e/ou adoecidas da família, de quem mais precisar.
Pois essa semana o Governo Federal lançou uma consulta pública e um formulário eletrônico para ouvir a sociedade sobre qual Política Nacional de Cuidados é necessária para garantir o direito ao cuidado e apoiar as famílias brasileiras a cuidar. As contribuições poderão ser enviadas até o dia 15 de dezembro. Participe! Essa Consulta pública está dividida em duas partes. O link para elas está aqui.
Nota: Após a publicação desse texto, o IBGE apresentou o relatório de pessoas com 60 anos ou mais. Confira aqui.
Foto da Capa: Tony Winston /Agência Brasília / Senado Federal
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