A mais de um ano da 11ª eleição seguida de presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais, parece que a disputa final do cargo mais importante da República se dará entre um idoso e um jovem (ou nem tanto). Tomara que tenhamos – eu e você, se é que não desistiu de ler logo depois de ver o título – discernimento para decidir não pela idade cronológica dos candidatos, mas pela contemporaneidade de cada um.
Deixo de lado a chata polarização, que dá ao debate esquerda x direita a profundidade de um pires. Até porque está tudo muito misturado hoje. Bandeiras que, até ontem ou anteontem, eram exclusivas da esquerda, hoje são agitadas por supostas lideranças que negam a política, aliviam tentativas golpistas e buscam até pressão estrangeira para influenciar decisões da Justiça. Ou não?
Quem clama hoje por liberdade de expressão (mesmo querendo essa liberdade, na prática, para atuar contra ela…?) e combate à corrupção (dos outros)? Quem se queixa de censura (para desinformar, mentir e manipular livremente)?
Enfim, todas as bandeiras agitadas pela esquerda contra a ditadura, que caiu há 40 anos, hoje ilustram narrativas que tratam o 8 de janeiro de 2023 como uma arruaça de velhinhas inocentes e negam o golpismo escancarado em atitudes e discursos dos antigos detentores do poder.
Então, fiquemos com os perfis dos candidatos a candidato a presidente da República. E comecemos pelo Lula, que já ganhou cinco eleições (alguém acredita que, sem ele, Dilma ganharia duas?). Tem direito a disputar mais uma. E será a última, seja por impedimento constitucional, seja por causa da idade.
Os adversários duvidam da candidatura de Lula. Talvez o mais correto seja dizer que os adversários sonham com a ausência do nome dele na urna eletrônica… Os argumentos contra Lula são dois: a idade e a má avaliação popular do governo.
Os companheiros de Lula manifestam certeza da candidatura dele. E têm algumas razões fortes para isso, fora o fato de que não há substituto à altura do pentacampeão para um jogo decisivo como será a eleição do ano que vem.
À parte alguns escorregões verbais, Lula está plenamente lúcido e aparenta boa saúde física. E, mais importante que isso, continua contando com apoio de em torno de 30% da torcida. Nunca teve menos que isso, nem quando perdeu eleições.
Então, Lula já ocupa lugar importante no cenário eleitoral de 2026. Ele estará ao lado do pessoal contemporâneo, dos que entendem e apoiam os movimentos em defesa da igualdade e da diversidade de gêneros, da legalização do aborto, do casamento homoafetivo, da defesa do meio ambiente, de mais justiça fiscal…
A direita também está posta no cenário. Mas se apresenta, hoje, com vários atores querendo ser protagonistas. Aí estão Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Jr. e até Michele Bolsonaro (para desgosto do embaixador da extrema direita nos Estados Unidos e enteado dela, Eduardo Bolsonaro)… Ah! E tem, ainda, o capitão inelegível insistindo.
Lula, repetindo, mesmo com todos os erros e avaliação negativa, tem apoio de 30% do eleitorado. Os outros 70% se dividem entre os outros candidatos. Desconte daí a abstenção, os votos em branco e aqueles dados aos nanicos que sempre aparecem e diga se Lula, nesse desenho, ficaria fora do segundo turno.
Então, o que é mais provável esperar dele, Lula? Que desista da reeleição, deixando a impressão de que admite o fracasso da gestão e alguma fragilidade física e mental?
Ou que ele vá para mais uma campanha mostrando o que fez em quase meio século de atuação política, o que aconteceu na vida dos brasileiros nesse tempo todo e pedindo a parceria do povo para uma despedida digna?
O que vai mexer mais com o povo em 2026?
Em outubro do ano que vem, estaremos diante de duas opções.
Uma delas é o discurso que ataca a modernidade com uma velha defesa da família, que puxa para trás a luta das mulheres por direito ao aborto, que discrimina as pessoas por sua orientação religiosa, que não reconhece as relações homoafetivas, que berra notícias ruins, prometendo “acabar com tudo isso que está aí” com narrativas que desinformam e manipulam nas redes sociais.
Já vimos esse filme. Foi assim em 1989 com o tal Caçador de Marajás, interpretado por Fernando Collor. O caçador foi cassado. Foi assim em 2018 com o Mito que, ao fim e ao cabo, virou mico…
Alguém duvida que vem aí uma nova versão do Lula lá (sem medo de ser feliz) prometendo, outra vez, a velha esperança que sempre acompanha este sempre esperançoso Brasil? De novo, me parece que vamos escolher entre a promessa de dias melhores e o discurso da antipolítica, do ataque ao passado, que não é mais do que a semente da pior política.
Até quando?
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Foto da Capa: José Cruz / Agência Brasil