O presidente Luiz Inácio oficializou no dia 25 de outubro a demissão da presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, e sua substituição por Antônio Vieira Fernandes, economista ligado ao PP e indicado pessoalmente pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), ao cargo. Vieira é um velho conhecido do “Centrão”, especialmente do PP. Durante o governo Dilma, ele foi secretário executivo de uma das cabeças do partido, Aguinaldo Ribeiro, que então chefiava o Ministério das Cidades. Vieira também já cumpriu o mesmo cargo para Gilberto Occhi, também do PP, no Ministério da Integração Nacional. Segundo integrantes do partido, Vieira foi indicado por Arthur Lira antes de viajar para a Índia e a China, na semana passada, e a negociação foi consolidada essa semana.
A nomeação não foi à toa: literalmente no mesmo dia, Arthur Lira garantiu a aprovação do projeto de lei de taxação de investimentos offshores na Câmara dos Deputados, em uma votação de toma-lá-dá-cá que encerrou com 323 votos a 119. Essa aprovação está sendo perseguida há meses pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como uma das “soluções miraculosas” para a inalcançável meta do “déficit zero”, e há semanas que o texto é adiado no Congresso, por conta das negociações infindáveis entre o governo Luiz Inácio e o “Centrão”. Um dia antes da recente votação que aprovou o projeto, a votação foi adiada, do dia 24/10 para o dia 25/10. Antes, a votação já havia sido marcada para ocorrer no dia 18/10, mas também acabou adiada. A novela só se encerrou com a garantia do governo de que a conta (no caso, a nomeação) seria paga.
E não é a primeira vez que o governo trocou cargos por votos neste ano. Após a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, o governo entregou de bom grado os Ministérios dos Esportes, então presidido por Ana Moser, para André Fufuca, e transformou uma das secretarias do Ministério da Indústria em Desenvolvimento no novo Ministério dos Portos e Aeroportos, somente para receber o membro do Republicanos, Silvio Costa, no governo.
Atualmente, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) também é alvo da cobiça do “Centrão”. Logo após a recriação do órgão vinculado ao Ministério da Saúde no dia 1° de junho, o governo já iniciou as rodadas de negociação para decidir quais partidos do centrão seriam agraciados com os cargos e benefícios da fundação. Até agora, nada foi decidido, mas a disputa está acirrada entre o Republicanos, o PSD e o União Brasil.
Só se passaram dez meses de gerência, mas o governo já se encontra com margens cada vez mais estreitas de negociação. As cartas mais importantes do baralho foram lançadas. E, até agora, pouco se conseguiu. O “marco temporal”, por exemplo, foi aprovado com longa margem pelo Congresso e Senado, independente das entregas. O que mais o governo está disposto a entregar e esfacelar, em troca de migalhas ou mesmo nenhuma garantia?
Líderes do centrão já negociam com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como serão feitas as indicações para as vice-presidências da Caixa Econômica Federal após a indicação de Carlos Vieira, aliado de Lira, à chefia do banco. Esses ainda esperam a decisão do governo sobre a distribuição das 12 vice-presidências da Caixa. A cadeira mais visada é a de Habitação, hoje com Inês da Silva Magalhães, indicada do PT. O posto é considerado por Lula o mais sensível para ser entregue. A vaga é reivindicada pelo União Brasil.
Até o momento, a disputa seria para que o PP indicasse três cadeiras e o próprio Lira outras três. O restante seria dividido entre Republicanos e União Brasil. Nos bastidores, aliados dizem que Lula (PT) estaria mais resistente em trocar a vice-presidência de Habitação, ocupada por Inês da Silva Magalhães. A socióloga foi ministra de Cidades no governo Dilma Rousseff (PT) e já esteve à frente do programa Minha Casa, Minha Vida durante o segundo mandato de Lula.
Outro ponto em discussão é o perfil de quem poderia ocupar os cargos. Inicialmente, a ideia do centrão é de que sejam servidores de carreira de confiança dos caciques partidários, da mesma maneira como foi escolhido Carlos Vieira.
Mesmo com as movimentações do centrão, as vice-presidências são cobiçadas também por outros partidos. O PDT, por exemplo, quer indicar o ex-deputado e ex-líder da bancada Wolney Queiroz. O líder da sigla na Câmara, o deputado André Figueiredo (CE), fez o apelo para conseguir uma indicação ao líder do União, o deputado Elmar Nascimento (BA), e ao próprio Lira, segundo informações de aliados. O fato de dividirem o chamado “blocão”, com 173 deputados, serviu como argumento para indicar Queiroz. Além disso, o PDT tem apenas um ministro na Esplanada: o presidente da legenda, Carlos Lupi, na Previdência Social.
Explicação singela desfalcar mulheres
O presidente Lula disse que a redução feminina no primeiro escalão do governo ocorreu em função da falta de indicações de mulheres pelos aliados políticos. “Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e não tem mulher, eu não posso fazer nada”, disse o presidente.
Respondendo ao questionamento de jornalistas durante um café da manhã no Palácio do Planalto, na manhã desta sexta-feira (27/10), Lula disse que pediu aos aliados que indicassem o nome de uma mulher para substituir Rita Serrano no comando da Caixa Econômica Federal, o que acabou não ocorrendo.
“Quando você estabelece uma aliança com um partido político, nem sempre esse partido tem uma mulher para indicar. Mas isso não quer dizer que eu não posso, no governo, tirar o homem e colocar mulher. Eu ainda posso trocar muita gente”, disse o presidente, que admitiu o incômodo com as substituições de mulheres.
“Eu sofro muito quando tenho que tirar uma figura como Ana Moser, quando tem que tirar uma Rita, é muito ruim, é muito desagradável. A única que eu não falei foi a Daniela do Turismo, porque ela trocou de partido quando não poderia ter trocado, mesmo assim eu fiquei chateado”, disse o presidente. Lula prometeu reforçar a participação feminina no governo, e disse que novas trocas podem ocorrer. “O que eu quero fortalecer no governo é a ideia de que a mulher veio para a política para ficar”, disse o petista.
Foto da Capa: Lula Marques / Agência Brasil