Passei por muitas edições da Feira do Livro de Porto Alegre. No início, pelo prazer de circular entre livros, levar familiares, especialmente as crianças, e amigos. Depois, já trabalhando em veículos de comunicação, como produtora nas coberturas do evento. Mais tarde, como assessora de imprensa pela Pauta Assessoria e pela Gira Produção e Conteúdo. Na última edição em que trabalhei (2019), acompanhei de perto o empenho da Câmara Rio-Grandense do Livro/CRL para realizar a Feira. Sei da necessidade de patrocínios e apoios. Sei da garra das equipes que levam o livro para a Praça da Alfândega, facilitando o contato democrático com a leitura. Sei do estímulo e inspiração para muitas feiras no interior do Estado.
Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial de Porto Alegre e Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Sul
A partir de mudanças nos critérios de acesso à Lei de Incentivo à Cultura/LIC do Estado, é possível que a organização da Feira neste ano não possa acessar os recursos disponíveis, o que implica em encolher gastos com a programação ou com a estrutura do evento. Tudo indica que teremos uma Feira menor em 2023. Acredito que seja a primeira vez que o evento enfrenta uma situação assim desde que a lei foi criada (1996).
E acredito que não faltará apoio, como escreveu Marcela Donini, editora-chefe do Matinal Jornalismo, que transcrevo aqui: -E a Feira? A Feira ainda é um espaço democrático que reúne escritores e escritoras de diferentes lugares do país e recebe gente de todas as idades e classes, estudantes das redes públicas ou privadas, ninguém paga nada para acessar sua programação. Um lugar para garimpar raridades e conhecer novos títulos e nomes, espaço de debates de temas contemporâneos a grandes discussões filosóficas. Um momento para celebrar a literatura, os livros e tudo que eles nos proporcionam. Também continua sendo um dos meus eventos preferidos da cidade, e tenho certeza de que não estou sozinha. É hora de apoiá-la! Com certeza, merece todo o apoio.
Da impressão do primeiro livro – a Bíblia, por Gutenberg, em 1455 – até a primeira imagem de um buraco negro em 2019 e as polêmicas geradas pelo uso da Inteligência Artificial/AI nos tempos atuais, a busca pelo conhecimento através da ciência e da arte desafia a humanidade. A curiosidade já provocou incríveis aventuras e descobertas fundamentais. E foi inspirada em Leonardo da Vinci, uma das pessoas mais curiosas que já existiu, segundo historiadores, que a campanha publicitária da 65ª Feira do Livro de Porto Alegre, criada pela designer Daiana Christ, teve como slogan Curiosidade é o que nos move. Como assessoria, ao lado do jornalista José Walter de Castro Alves e da produtora Kixi Dalzotto, acompanhei tudo. A equipe de criação buscou referências nos marcos significativos da ciência, como os 500 anos da morte de Leonardo da Vinci, os 100 anos da comprovação da Teoria da Relatividade, os 50 anos da viagem do homem à Lua e o momento definido como a 4ª Revolução Industrial, a convergência das tecnologias digitais, físicas e biológicas, as ondas de polarização entre crescimento e retrocesso intelectual.
A essência da Feira é estimular a curiosidade pelo livro. É vender livros. É promover encontros na Praça enfatizando a importância da leitura para desenvolver o pensamento crítico e a criatividade, promover o diálogo e expandir o conhecimento.
Curiosidade pela vida, pelas descobertas e pela liberdade que a leitura desencadeia.
Os livros na rua, espalhados pelas barracas, com bons descontos, ao alcance de qualquer pessoa que cruza a Praça. É com esse espírito que a Câmara Rio-Grandense do Livro abraça a Feira. Livreiros, editores, livrarias, escritores e instituições movimentam-se para a edição de um evento que faz parte do patrimônio cultural da capital gaúcha.
Evento que abre espaço para a nossa vasta e diversa produção editorial, através de várias ações – lançamentos, autógrafos, seminários, palestras, oficinas, encontros, saraus, homenagens e atividades artísticas que estimulam a leitura, a reflexão, o lúdico e reafirmam a nossa identidade tão diversa.
Há 69 anos ininterruptos as barracas ocupam a Praça da Alfândega para a realização de uma das maiores feiras a céu aberto da América Latina.
Para que isso aconteça é necessário buscar patrocínio, apoio e garantir uma infraestrutura adequada, ampliando ações que facilitem a difusão do livro de formas múltiplas. Qualificar os acessos à Praça e às barracas, oferecer acessibilidade, inclusão e expandir o diálogo com camadas importantes da população nem sempre lembradas. Juntar várias vozes sociais para refletir e contribuir com uma iniciativa que orgulha os gaúchos, dando condições para que as pessoas possam andar e chegar até as barracas com tranquilidade e segurança, é um desafio a cada edição.
É necessário preparar a Praça para receber as barracas, os autores gaúchos nacionais e internacionais e as atividades que envolvem autógrafos, encontros, conversas e debates sobre assuntos diversos. Temas da literatura e do momento social, político, cultural e artístico do país e do mundo. Questões pertinentes à diversidade da vida contemporânea instigam o debate e a curiosidade. Quem lê um livro abre portas internas e externas ao tomar contato com cotidianos diferentes. A literatura mostra outros pontos de vista, outras histórias, provoca deslocamentos, faz pensar. A Feira proporciona que crianças e jovens da periferia tenham acesso ao universo que a leitura descortina. Além do contato direto com escritores e livros, abre possibilidades para que outras comunidades e culturas se integrem, trazendo a Literatura Indígena e a Literatura Afro-Brasileira.
A programação é dinâmica. Escritores e pensadores brasileiros e estrangeiros marcam presença nos seminários, nas oficinas e no Pavilhão de Autógrafos. Temas sociais, políticos, culturais e artísticos, que transitam pelas nossas vidas, fazem parte das conversas. E para contribuir com a formação de leitores, a programação infantil e juvenil oferece atividades nas escolas e traz para o centro da Praça alunos de todas as idades, professores e pais para bate-papo com autores, contação de histórias, oficinas, saraus e espetáculos que integram, divertem, emocionam e promovem conhecimento.
A Feira, um livro aberto para todas as idades e desejos, completa 70 anos em 2024.