Talvez eu devesse estar refletindo sobre o depoimento da Virgínia na CPI, sobre a aprovação da lei que “facilita” o licenciamento ambiental ou ainda sobre as guerras que roubam infâncias. Mas hoje, não. Hoje, quero falar sobre como respirar em meio ao turbilhão. Sobre como seguir em frente quando o mundo parece desmoronar — e, mais ainda, sobre os caminhos e escolhas que nos trouxeram até aqui.
A vida, vejo agora, nunca foi apenas uma série de escolhas livres. Nascemos em um lugar que não elegemos, carregamos histórias que não escrevemos e caminhamos por trilhas que já estavam parcialmente desenhadas. E, ainda assim, dentro desses limites, insistimos em criar significado. Como? Revisitando o passado, encarando o presente e imaginando o futuro — não como linhas retas, mas como rios que se dobram, retrocedem e às vezes transbordam.
Percebi que o passado não é imutável, não é “o que passou, passou”. Histórias que nos contaram se revelam mentiras; heróis se tornam vilões; e nossas próprias lembranças, quando revisadas, contam novas verdades. Quantas vezes você olhou para trás e percebeu que o que jurou ser verdade era apenas um fragmento? O passado não nos define — ele nos transforma, conforme o revisitamos.
O futuro não existe, ele é uma projeção de tendências ou dos nossos desejos. Para alguns, é uma promessa: “Se eu me esforçar, conquistarei tal coisa.” Para outros, é apenas a repetição de um hoje cansativo. Mas e se o futuro não for um destino, e sim um convite? Um espaço vazio onde podemos projetar não só conquistas, mas também a pessoa que desejamos nos tornar.
O presente é o que temos. Dizemos “eu sou assim”, como se fosse para sempre. Mas a verdade é que estamos sempre a um instante de mudar. Uma notícia inesperada, um encontro casual, uma perda — e, de repente, tudo o que parecia importante se dissolve. O presente não é uma fotografia, é um suspiro. E o que fazemos com ele?
Pense nas crianças que foram moldadas para a grandeza: atletas, músicos, gênios. Muitas alcançaram o topo, mas a que custo? E quantas outras se perderam no caminho? E nós, que não fomos treinados para ser estrelas? Será que carregamos dentro de nós potenciais adormecidos, esperando apenas um empurrão, uma oportunidade, um “você consegue” que nunca veio?
A pergunta que ecoa é: “Dentro do que me foi dado, fiz o melhor que pude?” Alguns responderão com arrependimento, outros com gratidão. Mas uma coisa é certa: uma vida boa não se mede por aplausos ou riquezas, mas pelos rastros que deixamos, pelas mãos que seguramos, pelas palavras que aqueceram alguém, pelos pequenos gestos que, sem querer, se tornaram faróis para outros.
E a morte? Para quem a vê como um fim, a vida pode parecer uma queda lenta após o ápice. Mas para quem a enxerga como uma passagem, cada dia é uma chance de aprender, de crescer, de tocar e ser tocado. Porque, no fim das contas, o melhor da vida não está no que acumulamos, mas no que compartilhamos.
Não são os títulos, nem o dinheiro, nem os feitos grandiosos que permanecem. É o amor que doamos, a esperança que plantamos, a luz que acendemos em alguém — mesmo sem querer. É hora de se perguntar: Que rastro estou deixando?
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Foto da Capa: Gerada por IA.