Casaram tarde.
Não tiveram filhos nem pets, por sinal, odiavam o nome pet, os nomes mãe e pai de pets, tutores e outras extravagâncias modernas. Apesar da nomenclaturafobia, adorariam animais em seus habitats naturais e teriam resgatado vários medievais “cães e gatos” se ficassem mais de um mês sem viajar.
Tinham mais em comum as coisas que odiavam do que as que amavam, e o que no início os uniu, foi separando os dois pouco a pouco.
Ao invés de cortar árvores no Natal, eles plantavam, e um dia ela comprou uma tuia limão, pequenina, num vaso, que decorou com muito carinho e humor, com tolhas de espumante e fitas vermelhas contrastantes.
O Natal passou e a arvorezinha precisava de espaço. E foi para o jardim, não sem antes um embate de onde ficaria bem. Ele não ligava, qualquer lugar, vai morrer mesmo, dizia ele.
Ela escolheu com cuidado, mas qualquer lugar era rechaçado por ele, até que acharam um.
E a tuia foi vivendo, muitas vezes quase morrendo, depois renascendo linda e brilhante, como alguém apaixonado. Tá quase morrendo, disse ele várias vezes, como se anunciando o fim pra ela.
Mas ela persistiu, reagiu, adubou, podou. Às vezes machucou, como quando tirou alguns galhos para fazer um arranjo para o aniversário de 60 anos da prima dele.
Mas a tuia persistiu.
O casamento, não.
Um dia se olharam e não se viram mais como um casal, apenas uma extensão um do outro para as coisas automáticas da vida.
As folhas verdes e brilhantes desapareceram, os galhos secos tomaram conta e o fim chegou.
Um dia, ela passou de carro em frente à casa onde eles moravam, e lá estava a tuia, verde e esplendorosa, mais viva do que nunca, ao contrário do casamento, que viveu enquanto durou, mas não teve o espaço e adubo que precisava para sobreviver.
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Foto da Capa: Reprodução do YouTube