O governo Lula, em vez de aproveitar, sofre as consequências da vitória apertada na eleição e da enorme fragmentação partidária que fragiliza a Política (assim mesmo com P) e fortalece o fisiologismo e o movimento MPP. O Congresso Nacional dividido como nunca foi. Os 513 deputados federais estão espalhados em 19 partidos e os 81 senadores se dividem em 16 legendas.
Em minoria nas duas casas, o presidente da República fica quase emparedado por partidos que são muito mais grupos de defesa de interesses setoriais e regionais do que instituições políticas atuando para fortalecer a Nação. E ainda não tem garantida nem a estrutura que acha necessária para executar o que propôs na campanha eleitoral. Em três dias, a Medida Provisória 1154/2023, editada por Lula no primeiro dia de governo criando um novo organograma para o governo federal, perde a validade. E o Brasil pode amanhecer, no dia 2 de junho, com a cara do governo Bolsonaro em 31 de dezembro de 2022…
A MP cria e recria ministérios e deixa a Esplanada do jeito que Lula quer para a concretização daquela simbólica foto da subida da rampa, síntese bem-acabada das promessas dele para esta terceira passagem pelo Palácio do Planalto: retomada do desenvolvimento com defesa do meio ambiente e inclusão do povo no orçamento.
Muito mais em defesa de interesses grupais e até pessoais do que por qualquer convicção ideológica, ou preocupação com uma agenda de Estado, o que boa parte dos deputados – inclusive de partidos ligados diretamente a Lula – têm feito, até agora, é desfigurar a maior parte das propostas submetidas a eles pelo Palácio do Planalto.
Os deputados querem tirar do Ministério dos Povos Indígenas e passar para o Ministério da Justiça a competência para demarcar terras… indígenas…
Do Ministério do Meio Ambiente, estão retirando a gestão do Cadastro Ambiental Rural e da Agência Nacional de Águas.
Há quem atribua as dificuldades enfrentadas por Lula no Congresso à falta de coordenação política e de articulação interna do governo. Articulação interna como, se os ministros integram os mesmos partidos que pressionam o governo na Câmara e no Senado? E mais. Qualquer passagem de olhos pelos jornais, pelos portais de notícias, ou pelos telejornais basta para se ver que muita gente no Congresso é mais sensível à política de liberação do que à coordenação política.
Exemplo? A pressão do chamado Centrão para manter o poder conquistado com o tristemente famoso orçamento secreto no governo Bolsonaro. Pressão tanta, que, no começo de maio, Lula mandou pagar R$ 10 bilhões em emendas ainda do tempo do governo Bolsonaro. O governo tem muitas MPs a espera de votação, além da 1154/2023. Esses R$ 10 bi azeitam as votações… Acho que, mais que qualquer Centrão ou Blocão, é o MPP que vai para o ataque. E o que é MPP? É o sempre presente e muito atuante movimento Meu Pirão Primeiro. Vamos ver o que acontecerá nas próximas 72 horas. Vai ser pressão até o final, como diz o narrador do futebol.
Foto da Capa: Marcelo Camargo / Agência Brasil