“O mundo não é mais dos espertos, e sim dos despertos…” me falou meu amigo, Xamã e Founder da Azulosa, em Porto Alegre, Caio Passi, em sua ilha de sanidade mental e terapias sonoras em Porto Alegre. Depois de um turbilhão de informações, SXSW, South Summit, centenas de novas pessoas, corri para o abraço da paz espiritual desta família que amo (Caio Passi e Lu Bazanella), e esta frase ele não me disse em nenhum transe místico, e sim em sua cozinha (ele é chef), onde me ofereci para ajudar a preparar a comida do nosso sábado. Alugou um triplex na minha cabeça.
Corto esta cena para vocês para o meu primeiro dia no South Summit, onde uma programação efervescente é interrompida por alerta a pedido da Defesa Civil para desocupação do Cais Embarcadero, em Porto Alegre, por risco de ciclone e cataclisma ambiental. Ou seja, o que todos foram negando ao longo dos anos está aí como a pandemia e outros eventos com impacto real e profundo nas vidas pessoas. Porém, nos outros dias do evento, circulei por uma aula de boa práticas – que por sinal deve ser elogiada – como a sustentabilidade do crachá, as lixeiras, palcos com paletes, em contraponto ao SXSW com seus plásticos e tapetes, uma trilha diminuta de Climate Change, e o foco exaustivo da narrativa em IA.
Porém nenhum dos dois eventos ainda dá palco equilibrado para diversidades, pois fica evidente a lógica do OU, e não do E. Lucro ou propósito. Diversidade ou Sustentabilidade. Tech ou Humano. A lógica dicotômica nas quais as coisas são separadas e não funcionam juntas. Mas não é absoluto (ufa), pois acredito em sinais de que mesmo fracos podem mudar o curso das coisas. No SXSW, pude ver esta perspectiva no trabalho da Potyra Lavor, CEO da agência IDW, e sua pergunta: “O que falta para o Brasil abraçar o não obvio?, feita em artigo na Meio e Mensagem. E na provocação que a Simone Kliass me fez no meet da Economia Criativa Brasileira organizada pela White Rabbit: “Paty, o Brasilverse não precisa se uma utopia, ele pode ser uma protopia”. A Simone montou triplex ao lado do triplex do Caio… e fiquei pensando e (sonhando) pois sou destas de ficar filosofando sobre conceitos.
Nesta semana louca de retorno para a casa, iniciei o curso de especialização em Inteligência, Estratégia e Inovação, e a professora Dra. Raquel Janissek iniciou o curso com a disciplina de Fundamentos sobre Inteligência, chegando à raiz latina entre outras abordagens para nos levar a entender sobre o poder da estratégia como escolhas, e que o resultado disso poderá ser inovativo ou só será o mesmo modo de seguir tendências pautadas por previsibilidade histórica de ações em curso. Raquel criou um link na minha mente com a pergunta da Potyra sobre abraçar o não óbvio…
Mas e a protopia? Que viagem é esta, Patrícia? Toda visão de futuro parte da nossa imaginação, enquanto humanos, por meio da cocriação consciente ou inconsciente do modo de viver, produzir e impactar o mundo. A Utopia é quando imaginamos que nossas escolhas levarão a um funcionamento perfeito, idealizado, porém, inatingível. Já uma visão distópica envolve noções catastróficas com base no autoritarismo, no controle e domínio opressivo da sociedade. Mas e quem acha que um mundo perfeito e sem qualquer problema é impossível, mas também não acredita em uma catástrofe generalizada? Este é o caminho da protopia. Este termo foi proposto em 2011 pelo editor e executivo da Revista Wired, Kevin Keller. Segundo o autor, a protopia é um caminho para escapar da dicotomia. E o reconhecer que é preciso focar no presente e em nossas ações de forma consciente (olha o despertar do Caio) podendo influenciar na cocriação de futuros positivos ou negativos. A protopia está no terreno das pluriversalidades, onde as escolhas terão que ser E e não OU. Por mais que como humanos nos agarremos a noção de Deus, não é ele que nos faz ser racistas, jogar lixo fora da lixeira certa, achar normal estupro de mulheres, nos alienarmos do mundo achando que só nossa vida importa. Deus não tem nada a ver com as escolhas e nossas próprias consciências. A protopia exige que a gente DESPERTE e se comprometa com o futuro agora. Porque se falarmos de forma trágica, já passou o tempo de alterar o curso por exemplo da crise climática…, mas podemos ainda garantir água potável… deu para entender?
E por tudo isto e muito mais, enquanto mergulho na ruminação do conceito de protopia, levo pra mim a frase do Gustavo Rosa da Silva, pesquisador fantástico e me incluo no seu time de “otimistas trágicos”. E você vai despertar ou continuar achando que o mundo é dos espertos?
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Foto da Capa: Acervo da autora