Conheci a poesia do Alexandre Brito antes de conhecer o poeta. Comprei seu livro Visagens, editado pela Arte Pau-Brasil, na livraria Contexto, na Getúlio Vargas, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, no início dos anos mil novecentos e oitenta.
De cara já gostei dos seus poemas. Tantos os curtos quanto os mais longos e ainda os visuais, tudo me soou novo, inteligente e cheio de surpresas. Só mais tarde, e não lembro bem de quando foi a primeira vez que nos vimos, é que fiquei seu amigo. Acho que deve ter sido depois de algum evento de poesia, de algum recital em bar, pois lembro que estávamos eu e o amigo e poeta João Angelo, num boteco, nos alegrando com a presença desse novo membro da nossa turma.
Nessa época, o Alexandre transitava pelo Brasil, ao lado do Fred Maia, piauiense, outro poeta e amigo querido que conheci e ganhei de presente no pacote alexandrino. Eles faziam e vendiam cartazes e camisetas com poemas em feiras, eventos literários e colecionaram ótimas histórias pra contar.
Nossa amizade, minha e do Alexandre, acabou se firmando aos poucos em alegres parcerias e aventuras. Participamos da Roda de Poesia, que fazíamos no Brique da Redenção, com o Mario Pirata, o Brizola, o Caio Gomes, o Portugal, o Pedro Marodin, entre outros.
Ambos poetas, mas, cada um a seu modo, tínhamos, e temos, eu e o Alexandre, também nossas vocações musicais. Compusemos nossa primeira parceria para o evento 24 horas de poesia, para o qual fomos convidados. Era um rock: “Dia e noite, noite dia, 24 horas de poesia/Toda hora é hora, ora bolas/Toda hora é extra, ora essa/Poesia à beça, vamos nessa/ Dia e noite, noite dia, 24 horas de poesia”. A segunda foi para celebrar o nascimento da minha filha Carolina. Um balada chamada Carolinda: “E lá vem você/tão feliz, alegrar o nosso mundo/E lá vem você, tão assim, delicadamente rosa/Da barriga da sua mãe/pro colinho do seu pai/dos seus tios, dos seus amigos e mais/As andorinhas trouxeram mais cedo o verão/Tão feliz a alegrar o nosso mundo/E lá vem você, carolindamente, nossa, que prazer te ver/que prazer você, que prazer viver”.
Daí em diante, criamos juntos a banda Os 3 Poetas, com poeta e amigo Ricardo Portugal. Depois, a Coleção Petit Poa, para a Coordenação do Livro e Literatura da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, lançando caixinhas com quatro pequenos livros de trinta e quatro poetas. Mais adiante, a editora ameopoema, que lançou treze livros de treze poetas. E, em 2001, voltamos a fazer uma nova banda, os poETs, junto com o poeta e amigo Ronald Augusto.
O Alexandre, além dos seus poemas para adultos, que foram reunidos no excelente volume Cine ABC, da editora Patuá, lançou também ótimos e premiados livros de poesia para crianças. Um deles é o Museu Desmiolado. Esse livro já virou até uma exposição de andar inteiro do Santander Cultural em Porto Alegre.
Agora, ao lado da atriz Maura Souza, com direção da Márcia do Canto, montou o espetáculo infantil com o mesmo nome do seu livro cheio de museus inesperados. Toca, canta e atua. Ele e a Maura fazem todo mundo rir, pensar e dançar. Fui assistir na Sala Álvaro Moreira, num sábado com chuva e frio. Casa cheia. As crianças seguem toda a peça ligadas nos dois em cena, participam, vibram e se surpreendem como eu desde que li pela primeira vez a poesia do Alexandre Brito.
Foto da Capa: Luana Konrad / Porto Alegre Em cena