A entrada de um Novo Ano é sempre marcada por rituais de passagem. Muitas culturas fazem previsões. Isso acontece há milhares de anos. Egípcios, gregos, maias, incas, astecas… Através dos deuses, estrelas e planetas previam como seria o novo ciclo.
Com a maioria dos povos de origem africana não é diferente. O sagrado e o profano andam juntos, e fazem parte de nós.
Um ritual de muitas famílias negras no Brasil é homenagear o Orixá regente do ano, servindo suas comidas e vestindo suas cores preferidas.
É importante saber que a Religião de Matriz Africana é diversa. Dependendo da Nação (lugar em África que foi sequestrado o povo negro), o Orixá regente do ano, suas cores e comidas podem variar.
Vamos falar do RS e da nação à qual pertenço: Oyó.
Oyó é o nome que se refere a um estado, uma cidade e um império da África Ocidental localizado no que é hoje o sudoeste da Nigéria e o sudeste do Benim, também conhecido como Reino de Xangô.
Na Nação Oyó, o regente do ano de 2025 é Xapanã, acompanhado de Obá e Oxalá Novo. Portanto, não esperemos um 2025 fácil e tranquilo.
Silêncio! O dono da terra está chegando: Xapanã, o senhor da vida e da morte, aquele que tem como símbolo a vassoura. Portanto, a limpeza daquilo que não serve mais deverá ser nosso objetivo principal. Abdicar de tudo que está “atrasando” nosso desenvolvimento, nossos objetivos. Podem ser relacionamentos, itens materiais, trabalho. A morte tem esse significado: ir ao encontro do novo, deixando o que está impedindo nosso crescimento pessoal e espiritual para trás.
Cuidar de nossa saúde, em todos os aspectos – físico, mental, financeiro e espiritual – também será de grande importância.
Para fazermos as mudanças necessárias, temos dois guerreiros que nunca desistem do propósito de nos auxiliar nessa travessia: Obá e Oxalá Novo, um casal de guerreiros. Mas não devemos esquecer que esta mudança pode acontecer pelo amor ou pela dor. Então, vamos auxiliar o Pai Xapanã a varrer o que não nos pertence mais.
Desapegue-se daquilo e daqueles que não contribuem para sua evolução e vá em frente, trabalhando com foco no que você acredita.
Faça como a águia, a ave que mais tempo vive, cerca de 70 anos. Quando chega aos 40 anos, ela vai para o alto da montanha, arranca suas penas, suas garras, lixa o bico nas pedras e, nesse processo doloroso, que leva meses, se revigora e retorna mais forte e bela para iniciar um novo ciclo.
Com certeza, fazer o que tem que ser feito em 2025 possibilitará uma colheita farta no final deste ciclo. Mas façamos a nossa parte, mesmo que essas ações sejam mais doloridas. Para isso, Obá e Oxalá Novo estarão presentes para nos fortalecer e nos encorajar nessas mudanças necessárias. A hora é agora!
Feliz 2025, Abaú Xapanã!
Maria Cristina F. Santos é graduada em Biologia pela PUCRS; promotora em Saúde da População Negra; diretora na Odabá - Associação de Afroempreendedorismo; vice-presidenta do Coletivo Frente Negra Gaúcha (FNG); integrante do Conselho Estratégico da Universidade La Salle; Conselheira da Associação Negra de Cultura (ANdC), onde é co-coordenadora do projeto Sopapo Poético: Ponto Negro da Poesia.
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