Em duas colunas anteriores, em dezembro de 2022 e março do ano passado, falei sobre minha relação com meu peso e a convicção de que, para ter uma vida mais saudável e longeva, precisava perder alguns quilos. Um efeito colateral bem desagradável dessa minha busca (além do rombo na conta bancária pelos meses usando Saxenda, um dos remédios da moda, que me ajudaram a perder cinco quilos, mas que precisei deixar de lado por questões de prioridades financeiras) foi entrar no radar dos algoritmos para assuntos de emagrecimento, boa forma e assemelhados.
Infelizmente, a burrice artificial das redes sociais não consegue diferenciar a qualidade dos conteúdos. Com isso, acabei mergulhada no (e vitimada pelo) aparentemente infinito mercado alimentado pela gordofobia. Por seguir alguns bons perfis que falam sobre bem-estar, nutrição, exercícios físicos e controle de peso de maneira sensata e baseada em evidências científicas, acabo sendo bombardeada por anúncios dos mais estapafúrdios e flagrantemente picaretas (não consigo encontrar outra definição) sobre os mesmos assuntos. Diariamente, passam pelo meu scroll inúmeros posts sobre fórmulas mágicas de jejum intermitente que variam de acordo com grupo sanguíneo/forma do corpo, ioga/pilates na cadeira/parede (bastam 5 minutos por dia, dizem), programas de caminhadas que garantem a eliminação de dezenas de quilos em 28 dias (prometem) e coisas do gênero.
Tem ainda os médicos/terapeutas “integrativos/ortomoleculares” e os tantos profissionais “da área da saúde” que pegam um estudo bem fundamentado, retalham e deformam em uma panaceia capaz de curar de unha encravada a câncer – e, evidentemente, ajudar a perder peso. Mesmo que tomem emprestado algumas expressões e recortes de pesquisas concretas e cientificamente sólidas, muitos acabam se perdendo nos personagens e vendendo dietas/fórmulas/soluções/programas fáceis de serem seguidos, com resultados rápidos e, claro, extremamente simples. Só que, a gente já sabe, não é nada simples.
Embora exista lógica em falas segundo as quais para emagrecer “basta fechar a boca” ou “não tem segredo, basta gastar mais calorias do que consome” – porque, de fato, para perder quilos isso basta mesmo –, o ponto crucial da equação do combate ao peso excessivo reside na sustentabilidade do processo de emagrecimento. Não, não é “simples assim”. Tampouco é uma questão de valor pessoal, como tanta gente faz crer.
Felizmente, tenho o privilégio de anos de terapia. Além disso, como o diabo é o diabo não por ser sábio, mas por ser velho, fui capaz de desenvolver as percepções importantes de que sou muito mais do que minha aparência e que a genética exerce um papel muito importante no tamanho dos corpos que levamos por aí. E mais: a obesidade é uma condição multidisciplinar e de caráter absolutamente individual, o que torna toda e qualquer fórmula mágica que tenha dado certo para Pedro possivelmente inócua para Paulo.
No final de 2023, encontrei uma nutricionista com quem finalmente consegui me identificar. Ela não passa dieta, tampouco prega a exclusão de alimentos da minha mesa. Com ela, uma luz importante se acendeu sobre o que faz de mim alguém que luta para emagrecer há alguns anos – e mais especialmente depois da pandemia. Faltando poucos dias para os meus 50 anos, creio que estou dando um passo a mais na trilha do autoconhecimento. E folgo em ver muita gente ao meu redor na mesma batida. Por outro lado, apesar dos progressos no nosso entorno, a sociedade de modo geral ainda engatinha.
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A seguir, alguns dos perfis do Instagram que me ajudam a navegar por esse oceano de informações sobre forma física, saúde e bem-estar sem cair em contos do vigário e que têm feito a minha cabeça sobre o assunto:
- C.A.S.A Sophie, Centro de Aconselhamento em Saúde Alimentar de Sophie Deram que trabalha os cuidados com a alimentação e o corpo sem prescrever dietas e sem gordofobia. A perda ou o ganho de peso desejados são tratados como consequência da mudança da relação da pessoa com a comida, não como objetivo. O perfil do Instagram tem publicações com dicas valiosas feitas por nutricionistas que atendem segundo o método do centro.
- Elisa Brietzke, psiquiatra, professora e pesquisadora brasileira morando no Canadá. Esclarece sobre temas de saúde mental, vacinas e outras questões de medicina com clareza e propriedade.
- Sophie Deram, engenheira agrônoma, nutricionista, pesquisadora em neurociência do comportamento alimentar, escreveu os livros “O peso das dietas” e “Os 7 pilares da saúde alimentar”. Alega ajudar as pessoas a fazerem as pazes com a comida e o corpo.
- Laura Greca, (minha) endocrinologista, dá a real sobre modas de tratamentos do tipo “soroterapia”, o uso indiscriminado de hormônios ou mesmo o abuso de Saxenda, Ozempic etc. por quem não precisa.
- Mari Krüger, de maneira divertida e bem-humorada, essa bióloga/atriz derruba sem medo de ser feliz as bobagens que surgem a cada minuto, sempre com base na ciência.
- Michael Ulloa, personal trainer que desmistifica algumas verdades tidas como absolutas sobre exercícios físicos e trata o bem-estar como algo individual, usando frequentemente a hashtag #bodyneutral, referência ao movimento que defende que a neutralidade corporal (aceitar o próprio corpo e também os sentimentos negativos ou positivos que tenhamos em relação a ele) é mais saudável do que a positividade corporal (que prega a aceitação indiscriminada do próprio corpo, mesmo que sua condição não seja saudável – caso dos obesos mórbidos, por exemplo). O conteúdo é em inglês.