Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais… Imagina elefantes negros! Estarmos em alguns espaços incomoda muita gente!
Nossa luta por respeito, oportunidade, acesso a todos os espaços só cessará quando a sociedade entender que nós, negros, temos direito a tudo isso.
Desde seu primeiro ano de existência, a Odabá faz questão de anualmente marcar um encontro, um jantar de luxo, em lugares onde não somos vistos normalmente. Nosso Jantar Anual é normalmente um símbolo para demarcar território. Somos o outro lado da moeda.
A situação ocorrida no Grêmio Náutico União, durante a apresentação do músico Seu Jorge, dia 14/10, lamentavelmente não é uma exceção. Acontece conosco – negros e negras – todos os dias. A diferença é que nossas vozes não são ouvidas, nossos corpos são invisibilizados… Resumo: Não existimos para essa sociedade racista. Felizmente existem “Seus JORGEs” que possibilitam sermos ouvidos e vistos, mesmo incomodando muita gente!
Ah! Como nós gostaríamos que outros JORGEs pudessem nos representar, em espaços de poder e levar nossa mensagem.
Ah! Como gostaríamos de ver os não-negros que se dizem antirracistas assumirem ações que restituíssem tudo que seus ancestrais nos roubaram e que até hoje deixaram cicatrizes em nossa alma.
Precisamos que nossos parceiros estejam conosco, nos representando nos espaços que não possibilitam nosso acesso.
Como dizia Abdias do Nascimento: “Tem portas que só se abrem por dentro”.
Somos o Estado com a segunda menor população negra do Brasil. Mas aqui é terra de negros e negras valentes que conhecem seu valor e que construíram o Rio Grande do Sul, com seu próprio sangue. NOS RESPEITEM!
Aqui nasceu o 20 de novembro; aqui tem o maior número de terreiros de religião de matriz africana e de clubes negros; aqui elegemos a maior bancada negra, no município e no Estado.
Aqui é terra de negros e negras que não desistem, assim como nossos ancestrais não desistiram.
Não temos medo de uma boa luta.
Estamos contigo, SEU JORGE. Teu nome, tua arte, tua força representa a força do guerreiro, aquele que nunca desiste da luta e que une os grupos.
Aqui vivemos, aqui lutamos todos os dias, Seu Jorge.
Somos negros e negras que vivem no Sul, somos fortes, somos resistência.
O que você vivenciou no União nos envergonha e nos revolta.
Somos uma entidade negra que luta para que esses episódios não se repitam.
Lutamos para que os nossos sejam fortes, empoderados economicamente, orgulhosos e altivos como você é.
E, principalmente, lutamos para mudar esse comportamento perverso a que você e muitos de nós somos submetidos diariamente. Lutamos para que sejamos respeitados, acima de tudo isso: respeitados.
Estamos juntos. Estamos na luta. Conta com a gente. Contamos com você.
OGUNHÊ!
*Cristina Ferreira Santos é fundadora da Maria Mulher – Primeira organização feminista do RS, líder da Causa e Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil, Conselheira da Associação Negra da Cultura, Maria Cristina Ferreira Santos foi a primeira presidente da Odabá e hoje atua na Diretora de Filosofia e Cultura Afro-Brasileira da entidade.
*Rejane Martins é mulher negra, empreendedora, criadora do Mesa de Cinema e proprietária da empresa Mesa Produtora, que realiza eventos de cultura e gastronomia como ferramenta de marketing de relacionamento. Integra a diretoria da Odabá – Associação de Afroempreendedorismo.