Vivemos em uma era de excessos, onde nunca tivemos tantas opções à nossa disposição. Seja para escolher uma série entre centenas disponíveis em plataformas de streaming, um produto entre milhares em lojas online ou um caminho profissional entre incontáveis possibilidades, a variedade parece infinita. No entanto, essa aparente liberdade de escolha traz consigo uma questão crucial: será que tantas opções realmente nos tornam mais felizes e realizados? Barry Schwartz, autor do livro The Paradox of Choice: Why More is Less (2004), argumenta que o excesso de alternativas pode, na verdade, gerar ansiedade, indecisão e insatisfação. Esse fenômeno, conhecido como “paradoxo da escolha”, reflete um dos grandes dilemas da sociedade moderna: a sobrecarga de informação e o desafio constante de tomar decisões.
À primeira vista, ter tantas opções pode parecer uma vantagem, mas, na prática, isso frequentemente leva à paralisia decisória. Quando nos deparamos com uma infinidade de possibilidades, o processo de análise e comparação pode se tornar tão complexo que, em vez de nos sentirmos empoderados, ficamos paralisados pelo medo de fazer a escolha errada. Um exemplo comum é o que acontece ao tentar escolher um filme ou série em uma plataforma de streaming: muitas vezes, passamos mais tempo zapeando entre opções do que de fato assistindo a algo, e acabamos desistindo sem tomar uma decisão. Mesmo quando finalmente escolhemos, é comum surgir a sensação de que poderíamos ter feito uma opção melhor. Esse arrependimento e a constante dúvida sobre “o que poderia ter sido” geram um peso emocional que, em vez de trazer satisfação, nos deixa angustiados.
A hiperconectividade e as redes sociais amplificam ainda mais esse problema. Diariamente, somos bombardeados por imagens e histórias de pessoas que parecem ter feito as melhores escolhas em todas as áreas da vida: carreiras brilhantes, relacionamentos perfeitos, viagens incríveis e estilos de vida invejáveis. Esse cenário alimenta a ilusão de que existe sempre uma opção ideal que ainda não descobrimos, criando um círculo vicioso de insatisfação e esgotamento mental. Não é à toa que os índices de ansiedade e depressão têm aumentado significativamente nos últimos anos—e o excesso de escolhas pode ser um dos fatores que contribuem para esse cenário.
Diante desse desafio, como podemos aliviar a sobrecarga de decisões? Uma das estratégias é simplificar o processo de escolha, reduzindo o número de decisões que precisamos tomar no dia a dia. Algumas empresas já aplicam esse conceito ao oferecer opções mais claras e intuitivas aos consumidores. No âmbito educacional e profissional, também é possível adotar essa abordagem, criando caminhos mais definidos para estudantes e trabalhadores, de modo a evitar que se sintam sobrecarregados pela infinidade de possibilidades. Outra solução é adotar a mentalidade da “escolha suficiente”, ou seja, buscar uma opção que seja boa o bastante, em vez de gastar tempo e energia tentando encontrar a alternativa perfeita.
É importante ressaltar que o objetivo não é eliminar as escolhas, afinal, a capacidade de decidir é fundamental para nossa autonomia e liberdade, especialmente em um momento em que a inteligência artificial avança sobre decisões cada vez mais relevantes. O segredo está em estabelecer limites diante da sobrecarga informacional e aprender a lidar com ela de forma mais equilibrada. No fim das contas, a liberdade parece não estar na quantidade de opções, mas na capacidade de tomar decisões conscientes e bem informadas, sem carregar o peso da dúvida e do arrependimento – seja qual for o resultado. Talvez assim possamos construir futuros onde decidir seja uma experiência mais leve e satisfatória—futuros onde a saúde física, mental, emocional, ambiental e social estejam em equilíbrio com as demandas de um mundo de sobrecargas.
Tatiane Reis é Cientista da Aprendizagem, Articuladora de Inovação da Rede Municipal de Porto Alegre, lotada na Emef Porto Novo; Licenciada em Letras, especialista em Mídias na Educação e mestranda de Design Estratégico. Voluntária do Porto Alegre Cidade Educadora, coordenadora do GT Educação Fora da Caixa e articuladora do POA Inquieta (Resíduos e Moda Sustentável).
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