Pensando aqui com minhas teclas: esse Pablo Marçal me parece a representação perfeita e acabada do sujeito das frases de Abraham Lincoln:
– Você pode enganar uma pessoa por muito tempo, algumas por algum tempo, mas não pode enganar todas as pessoas por todo o tempo.
As pesquisas eleitorais estão aí mostrando que quanto mais gente conhece o coach candidato a prefeito da maior cidade da América Latina, menos crescem as intenções de voto nele.
Apesar de não ser o mais conhecido dos três principais candidatos (76% diante dos 86% que conhecem Guilherme Boulos e dos 90% que sabem quem é Ricardo Nunes), Pablo sofre a maior rejeição. Já são 38% do total de eleitores os que não vão fazer M na eleição de jeito nenhum. Na eleição paulistana, diga-se… afinal, devem ter muitos Ms como o Pablo disputando a eleição Brasil afora.
As pesquisas nas simulações de segundo turno também mostram derrotas de Marçal. O Datafolha, em 5 de setembro, indicava que, numa segunda volta da eleição, 53% dos paulistanos preferem reeleger Ricardo Nunes a levar M para a prefeitura. Num eventual embate direto entre Boulos e Marçal, o psolista ganha de 45% contra 39%. Nunes também derrota Boulos (49% a 37%).
Há uma razão simples e objetiva para essa quase parada do Pablo na caminhada ao Palácio do Anhangabaú. A campanha eleitoral começou. Até aqui, a disputa se dava exclusivamente nas redes sociais, onde ele, Pablo, distorce e manipula informações, cria frases de autoajuda como o coach que nega ser, usa frases de adversários e até de jornalistas como escada para se dizer vítima de perseguição e garantir que, com o poder da mente, todos os pobres paulistanos vão virar empreendedores de sucesso…
Agora, começou a campanha no rádio e na TV. Marçal está fora. Não tem direito de participar, nem daqueles dois horários de 30 minutos, nem das inserções diárias. O partido dele – PRTB – não tem representação no Congresso Nacional. Daí a limitação.
Ué, mas o Bolsonaro tinha só 8 segundos e ganhou a eleição, lembrarão muitos. Sim, mas a conjuntura era outra. Em 2018, as propagandas políticas se misturavam nos intervalos dos telejornais com notícias sobre corrupção, políticos delatados e presos, pedidos de impeachment… Na mesma edição do telejornal que cobria os eventos da campanha de Bolsonaro (contra o sistema, por uma nova política…) e dos outros candidatos, tínhamos notícias negativas envolvendo o outro lado, especialmente Lula, responsável maior pela candidatura de Fernando Haddad. Os partidos, cada um do seu jeito, mostravam grandes planos para a recuperação do país. Terminado o horário eleitoral, vinham as notícias. Quase sempre, desmanchando o que diziam os candidatos e exibindo as mazelas políticas da época…
De 2022 para cá, temos outras circunstâncias. O governo Bolsonaro fracassou em todos os sentidos. Derrotado, o capitão da reserva do Exército tentou até insuflar um golpe para impedir a posse de Lula. Este ano, nos meios de comunicação tradicionais, a liderança(?) política mais expressiva da oposição – até agora Jair Bolsonaro – aparece muito mais em notícias negativas.
Outro fator que passa despercebido quando se coteja a influência das redes sociais com a do horário eleitoral é o acesso a cada um. Tudo bem que na hora daquele bloco de 30 minutos tenha gente que desligue a TV.
Mas a audiência das inserções é compulsória. A família está ali acompanhando o programa favorito e, num intervalo, aparecem o Boulos, o Datena. No intervalo seguinte, tem a Tábata e o Nunes. Todos eles, além de apresentar propostas, desmentem, criticam e contam o envolvimento de Marçal com ilegalidades várias.
Só o Marçal não aparece. Agora, para o Pablo pedindo – com os dedos e com palavras – para o eleitorado paulistano fazer M, tem que ligar o celular, o computador, o tablet, ou sair dos canais tradicionais de TV para a Internet. E tem que procurar, porque as redes dele estão fora do ar por decisão da Justiça…
Então, o coach candidato, agora, precisa, cada vez mais, das entrevistas e debates nas emissoras de TV e nos portais de notícias. E os marqueteiros marçalistas terão uma trabalheira para transformar o que parece ser só curiosidade do eleitor em intenção firme de voto. Marçal até fala bem, se comunica bem. Mas a estratégia de só dizer o que quer, prometer o que sabe que não vai entregar, usar perguntas de jornalistas e dos adversários para atacá-los em vez de responder está fazendo água…
Enfim, a assessoria de Marçal precisa, se quer vê-lo ainda tentando uma vaga no segundo turno, avisá-lo que o povo não é bobo, como já dizia Abraham Lincoln…
Foto da Capa: Agência Brasil
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