No final de agosto, no Campo em Debate, da Casa RBS, direto da Expointer 2024, juntamente com especialistas da EMBRAPA, UFRGS e FETAG/RS, falei sobre a temática da Agricultura Familiar no Rio Grande do Sul e as mudanças climáticas. Eventos extremos, como secas prolongadas, chuvas torrenciais, geadas e ondas de calor, têm se tornado mais frequentes e intensos, impactando diretamente a produção agrícola e a vida das famílias rurais. Notadamente, dos mais vulneráveis, justamente os pequenos.
São vários os desafios, como a perda de produtividade, a degradação do solo, a escassez hídrica, as pragas e doenças, entre outros. A certeza é que a variabilidade climática crescente torna a agricultura familiar uma atividade cada vez mais desafiadora, dificultando o planejamento e a tomada de decisões por parte dos agricultores. Diante desse cenário desafiador, a agricultura familiar gaúcha tem buscado estratégias para se adaptar às mudanças climáticas e garantir a sua sustentabilidade: agroecologia, adoção de sistemas de produção consorciados, coleta e armazenamento de água da chuva, formação de associações e cooperativas.
Qual é o papel das políticas públicas? Para que a agricultura familiar possa se adaptar de forma eficaz às mudanças climáticas, é fundamental a implementação de políticas públicas que:
- Incentivem a adoção de práticas sustentáveis: incentivos técnicos e FINANCEIROS para a adoção de práticas agroecológicas e tecnologias de baixo carbono.
- Fortaleçam a assistência técnica: garantir a presença de técnicos especializados nas propriedades rurais para auxiliar os agricultores na implementação de práticas de adaptação.
- Melhorem o acesso ao crédito: facilitar o acesso ao crédito para investimentos em tecnologias de adaptação e modernização da produção.
- Promoção da pesquisa e desenvolvimento: investir em pesquisas para o desenvolvimento de variedades mais resistentes às mudanças climáticas, adaptadas às condições locais.
- Gerenciamento de riscos: implementar sistemas de alerta precoce e seguros agrícolas para minimizar os impactos.
Para quem tem interesse na temática das políticas públicas e das mudanças climáticas, recomendo a leitura do livro “Mudanças climáticas: por que o mais grave problema da Humanidade não se tornou o problema político número 1?”, do amigo João Pedro Schmidt, lançado este mês. Fruto de cinco anos de estudos, trata das alterações do clima sob o ângulo das ciências sociais e o papel das políticas públicas na correção de rumos para o reequilíbrio climático. Com maestria, João Pedro alerta para a necessidade de um senso de urgência de governos, empresas e sociedade civil, para ações imediatas.
Minha opinião é de que, mesmo com a gravidade constatada este ano aqui no Rio Grande do Sul, poucos (e tímidos) têm sido os avanços no enfrentamento deste problema número 1. Não me resta outra coisa a não ser assinar embaixo e parabenizar o João Pedro pelo seu livro.
Marcos Leandro Kazmierczak é Engenheiro Florestal (UFSM). Mestre em Sensoriamento Remoto (INPE). Doutor em Eventos Extremos (UNESP/CEMADEN). Especialista em modelagem espacial e simulação de cenários climáticos futuros. Especialista Sênior no Projeto de Concepção do Arranjo Institucional e Operacional para Gestão de Risco de Desastres no Estado do Rio de Janeiro (Contrato Banco Mundial/SEPLAG-RJ). Coordenador do GT6 - Ordenamento Territorial, da Rede de Emergência Climática e Ambiental do Rio Grande do Sul, criado pela UFRGS.
Foto da Capa: Tomaz Silva / Agência Brasil
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