Semana passada Porto Alegre viveu uma intensidade de acontecimentos na cidade: South Summit, show do Emicida e uma movimentação sob o nome da inovação que colocou muitas pessoas em uma euforia e FoMo, muito bem observada na coluna da Marlise Brenol aqui na Sler.
Eu este ano fiquei menos imersa e mais observando de fora. No South Summit, notei um certo uniforme de camisetas pretas, um ar desconstruído nos looks sob o calor incessante de Forno Alegre e um código visual predominante nos looks nos dois dias em que estive no evento. Eu observei um padrão. Uma padronização. Talvez na semiótica possa ser traduzido como um signo de uma tribo. Seria a Tribo dos Inovadores?
Fiquei com aquilo em mim e hoje uma das coisas que mais respeito é o meu radar… e, na noite de sexta, meu amigo e colega aqui na Sler, Marcos Biacheris, me enviou um post da @joiceberth. Mas antes vou dizer que admiro a Joice de longa data e fiquei muito feliz e surpresa de o Marcos acompanhá-la. Isto na minha visão demonstra a diversidade na prática.
“Sabe de uma coisa? O Brasil é um país de mentalidade tão elitista. Essa mentalidade está presente até nos meios mais pobres, pois nossa educação não é libertadora, logo, todo oprimido sonha em ser opressor. O pobre quer sempre parecer rico e o rico está chafurdando num vazio existencial visível e em uma pobreza de espírito envernizada pelo preço alto das coisas sem valor que ele compra, segurando entre os dentes um narcisismo que se expressa por um misto de medo do que não é espelho e uma obsessão pela manutenção do exclusivismo como símbolo de poder. Gostamos de panelas, nichos e circuitos fechados onde só os “Vips” tem acesso, e esses vips são totalmente inexpressivos e esvaziados pela relevância humana, e ainda temos a cara de pau de falar de diversidade. Apesar de inigualável criatividade que nos é característica (pois somos o país do carnaval) não criamos o “hype”.
Esperamos que ele se crie sozinho e depois surfamos nele, o que nos faz estar sempre na rabeira do mundo, naquele que descobre por último, nos reprodutores do “hype” alheio. Por preconceitos diversos e restrições burras perdemos excelentes histórias e desidratamos talentos valiosos que não conseguem que não conseguem furar o bloqueio da futilidade patológica e cafona do elitismo brasileiro que ainda por cima é viralatista. Veja o exemplo da Vogue Filipinas: a turma trouxe para a capa uma mulher de 106 anos que é valiosíssima, não porque tem o patrocínio de grandes e (elitistas) marcas e sim porque tem uma história de vida genial e única para contar. A Whang Od Oggay, também conhecida como Maria Oggay, é a última e mais antiga tatuadora tradicional Kalinga (mambabatok), e é a tatuadora mais antiga em atividade no planeta.
A Vogue Filipinas criou um hype: o entendimento de que a beleza pautada apenas pelo que o olho viciado em padrões alcança é dispensável. Beleza é a soma de características humanas que só melhoram com o tempo entre outras coisas mais que estão escritas nas linhas do lindo rosto de Maria Oggay e que só as almas elevadas conseguem enxergar e se dispor a convencer os patrocinadores a investir na elevação de suas próprias almas….”
Post forte, sincerão, de uma mulher preta, brasileira, urbanista, curadora, escritora feminista e psicanalista. No marketing chamamos esta postura de late adopter ou mainstream na curva de tendências. Ou seja, o segmento de público que precisa de uma confirmação segura, pois tem medo de errar. O convencional é o mais confortável. O problema não é existir este segmento, afinal não somos todos iguais e este é o princípio do respeito às diferenças. O problemático é pautarmos uma cultura desta forma sem atitude ou visão original, de valorização das singularidades que podem nos levar as inovações reais e urgentes para usarmos a potência latente do Brasil.
Eu diria que o Brasil ainda precisa descobrir a economia da diversidade, que terá um impacto cultural e financeiro extraordinário da tecnologia a indústria da moda.
Mas para isto eu discordo da Joice… não somos viralatistas… se fôssemos seríamos hypes… estamos ainda nos copiando e criando nichos, e, sendo narcistas, apenas querendo espelhos que reflitam padrões idealizados sem vida de nós mesmos.
Inovação não é repetição. Inovação é coragem de fazer o que não está evidente e pode levar além. Ah em tempo, Hype na tradução livre do inglês é moda.