Tá ligado no som do Arthur Verocai? Cheguei até ele por um vídeo no Instagram feito pelo jornalista Cristóvão Vieira. Fui atrás pra ouvir no Spotify e já salvei algumas de suas canções.
Eu não sabia da existência desse compositor até hoje, embora ele esteja com 79 anos. Mas, no começo dos anos 2000, DJs do hip hop dos Estados Unidos redescobriram o álbum de Verocai que tinha sido lançado no Brasil em 1972. Suas músicas foram sampleadas e viraram batidas para rappers como Snoop Dog e outros artistas.
Esse álbum, que foi mal recebido pela crítica no século passado, a ponto de Arthur, deprimido, guardá-lo no armário para tentar nunca mais escutar, encontrou afinal seu público no século XXI. A sua mistura de jazz, folk e funk soava estranha demais à época, mas misturar, aproximar coisas aparentemente díspares é o que fazem os DJs, que seguiram anos mais tarde misturando a sonoridade de faixas desse álbum a outros sons.
Com essa nova recepção, Verocai voltou a impulsionar sua carreira. Na verdade, sua atividade profissional na música sempre foi bem ampla, não se resumindo à carreira solo. Violonista e pianista, participou dos festivais da década de 1960 como compositor. É também o arranjador de discos de artistas da nata da música brasileira, como Elis Regina, Jorge Ben Jor, Ivan Lins, Marcos Valle, Erasmo Carlos, Gal Costa e Elizeth Cardoso. Na televisão, foi diretor musical e arranjador na Globo, nos programas Som Livre Exportação, Chico City e A Grande Família.
No Spotify, estão seus álbuns. O disco de 1972 é o preferido dos DJs estadunidenses e ingleses. A faixa “Na boca do sol” já integrou várias outras criações. Chegam a sessenta e três composições de DJs que utilizaram músicas do Verocai. Desse álbum, baixei a canção “Dedicada a ela” para a playlist que chamo de Mpbbão.
O som no geral tem afinidades com as composições do Marcos Valle, Azymuth, Moacir Santos. Compositores de melodias com subidas, descidas, longas frases, em arranjos que somam a formação de banda, baixo, bateria, guitarra, piano, teclado, a sopros, cordas. É música total.
Um outro dos seus álbuns com canções jazzísticas, daquele jazz brasileiro supimpa, é Encore, de 2008, lançado por uma gravadora inglesa. Nesse, destaco a faixa “Tudo de bom”. Não poderia ter nome mais adequado. É uma grooveria maravilhosa de sopros num balanço brazuca pra acompanhar sambalançando.
A trajetória do Arthur Verocai mostra que sucesso mesmo é criar aquilo que faz sentido para quem criou. O resto não está nas mãos do artista. Hoje, querem que o músico seja o criador, o produtor, o videomaker, o promotor. Só falta ele ser seu próprio público, como nessas fotos em que as pessoas postam olhando para si mesmas no celular. Mas, por mais que se faça, a criação, a canção, a música, também podem andar sozinhas e trilhar seu próprio caminho.
Foto da Capa: Divulgação
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