Este texto tem o objetivo de incentivar coletivos de professores das redes de ensino a organizarem-se para publicação de suas experiências em livro. Ele dá seguimento ao meu texto “Escrever é um ato de resistência” e faz parte de uma série de artigos que visam dar conta das etapas de redação de ensaios sobre a experiência de aula de professores das escolas. Num mundo onde a visão de privatista de educação se expande para o sistema de ensino, esta é uma ferramenta de combate. Estou trabalhando para uma escola como curador e não a nomino aqui para evitar problemas para os professores – dirão os administradores de plantão: que história é essa de contar o que se passa aqui? É que escrever é um ato perigoso. Alguns cuidados são necessários. Me aposentei e, depois da experiência de fazer 21 livros, da pesquisa à escrita e desta à editoração, entendi que posso ajudar outros professores a publicar.
O que escrevem professores é realmente importante? O que faz com que a experiência de sala de aula de um professor seja relevante para o desenvolvimento científico? Será que seu valor pode ser calculado? Como e a partir do quê professores podem escrever e sobre o que escrevem? Parto do princípio de que o que torna a experiência de um professor importante é que ela transcende os imperativos práticos da vida escolar. Ensinar envolve uma poética, quer dizer, possui uma dimensão não racional que a torna um dos alicerces das identidades que ajudamos a criar, seja a nossa ou de nossos alunos. Quando Leonard Koren em seu livro O que fazem os artistas (Cobogó, 2021) se coloca a pergunta do título, eu me coloco em seu lugar fazendo a mesma pergunta para os professores.
Muito já se disse do oficio de ensinar, inclusive que o professor é uma espécie de dândi moderno. Esse dândi educador tem seu corpo e alma voltados para uma prática hibrida que combina educação, história e arte. Educação pelos conteúdos de ensino que envolve; história porque cada professor é único e tem sua trajetória; arte pela necessidade de sobrevivência em tempos digitais: é preciso criar. Ensinar é também uma poética porque pelo modo que o professor conduz sua aula, ele compõe uma ética e estética. Artes de si, na expressão que Paola Zordan & Ana Hoffmann utilizam em sua obra Artes de Si no Magistério (2019), onde reivindicam a interpretação do filósofo Michel Foucault (1926-1984) para a educação, espécie de modo de ser que está atento ao que se quer ensinar e que converte o olhar do aluno para si mesmo. Se ensinar tem algo de poético é sobretudo porque é “uma fonte de alegria, esperança, prazer e reflexão. Qualquer um pode ser artista, não é preciso passar num teste, ter um diploma ou uma habilidade. Há tantas maneiras de ser artista quanto há pessoas no mundo”, afirma Koren (p.10). Em meu Escrever é um ato revolucionário disse que escrever foi a melhor maneira que encontrei de conviver comigo mesmo e arma para enfrentar o mundo.
Como escrever a partir das experiências de ensino? No início de sua obra, Koren coloca nove pontos de vista que entendo válidos para o professor começar a escrever sobre suas experiências:
É isso o que eu vejo
É isso o que ouço
É isso o que eu sinto
E isso que eu penso
É nisso que eu acredito
É isso que eu questiono
É isso que me deixa intrigado
É isso que eu quero transmitir
É isso que eu sou
Diferente dos artistas, cuja base cognitiva é a estética, a base cognitiva dos professores é sua disciplina, o que significa que ele escreve a partir da experiência dos conteúdos de ensino sob sua responsabilidade. Isso não significa dizer que eles não percebam ou pensem sobre as qualidades sensoriais e emotivas envolvidas em seu processo de ensino. A didática, nesse sentido, é a prova disso. Todo professor sabe que deve dar uma atenção a forma como transmite o conteúdo de ensino e, mesmo nas disciplinas que muitos pensam que nada tem de atraente, como a matemática, seu professor sabe como transformar números aleatórios ou ideias abstratas em algo próximo da realidade do estudante. Quando a escritora italiana e PhD em cálculo das probabilidades Chiara Valerio diz em sua obra “A matemática é política” (Âyné, 2021) que sua disciplina é uma prática política, um formidável exercício de democracia, ela está justamente ampliando a dimensão de sua disciplina para envolver a vida e conquistar seu público. Ela diz que, como a democracia, a matemática é um sistema de regras; que cria comunidades e trabalha com relações; que amplia o mundo e não faz exclusões “resolver um problema matemático é um exercício de democracia porque quem não aceita o erro e não cultiva a intenção de compreender o mundo, não consegue mudá-lo ou governá-lo”.
Professores lecionam uma diversidade de disciplinas. Seu trabalho não envolve apenas conteúdo ou uma metodologia específica, mas um espírito artístico que envolve criação pessoal. O professor inventa sua aula. Quase todos nós concordamos com a ideia de que o magistério é um tipo de arte, mas nem sempre sabemos definir o que isso significa. O ensino de hoje é diferente do ensino do passado e, nesse sentido, as artes de ensinar são tão diversas quanto as artes de governar de que fala Michel Senellart em obra homônima (Editora 34, 2006). A consequência, diz Koren, “é que a palavra arte muitas vezes é deixada, de propósito, sem definição “(p.18). Por esta razão, da mesma forma que quem determina o que é ou não arte são os próprios artistas, são os professores que estão autorizados a falar de cada experiência de ensino como sua forma de fazer arte. Quando incentivo professores a construírem livros sobre sua experiência, é porque acredito que ele é o instrumento de convencimento dos outros daquilo que ele é, daquilo que ele faz, de que é um profissional que faz seu ofício como ninguém. Quando digo que o magistério é uma forma de arte, é porque acredito que tudo o que envolve criação e autonomia o é.
Já se escreveu muito sobre técnicas de ensino. Doug Lemov é um autor conhecido neste campo. Suas obras Aula nota 10 e Aula nota 10 Guia prático (Editora Da Prosa Boa) podem ser vistos como um libelo produtivista em educação ao enumerar dezenas de técnicas para estruturar aulas, motivar alunos, criar ritmos de ensino como se a aula fosse uma fábrica. Não gosto destes manuais porque industrializam o ensino, transformam a arte do professor em receituário programado, basta seguir procedimentos e regras. Mas, ao mesmo tempo, os vejo com interesse se funcionam como a paleta de cores de um artista, onde o professor escolhe os caminhos a seguir em seu processo de ensino sem uma preocupação com o resultado ou com seguir receitas dos experts. O que falta em Lemov? A concepção de que o ensino é arte porque é jogo, exatamente a noção do campo artístico que tinha Marcel Duchamp (1887-1968). O criador do famoso urinol de porcelana branca comum comprado em uma loja de produtos de encanamento e que depois chamou de “Fonte” era sua forma de fazer arte por outros meios. Duchamp questionava as instituições artísticas como os professores questionam as instituições educacionais porque para criar algo novo, ambos têm de lutar contra o conservadorismo estabelecido nelas. Como os artistas, os professores tem de experimentar, refletir e mudar suas práticas para criar algo novo a partir daquilo que aprenderam na universidade.
Como Duchamp, os professores são persistentes. O caminho da obra Fonte, até ser reconhecida, foi árduo. Ele e seu amigo americano Alfred Stieglitz, um conceituado fotógrafo, recuperaram a obra de um depósito e a fotografaram publicando em um jornal de vanguarda, criando um debate que depois se mostrou vitorioso em superar o ceticismo em torno dela. Isso levou 30 anos. Você pode não considerar a Fonte um primor artístico, vai lá. Mas o que é notável é o quanto ele acreditou naquela ideia e como lutou por ela para ser reconhecido. Se sua ideia de que qualquer objeto banal pode ser transformado em obra de arte tem um valor, é o de oferecer uma referência para todos que trabalham com a matéria viva da realidade. Os professores, no caso, com alunos.
Professores escrevem sobre suas experiências de ensino. Os professores passam sua vida criando planos de ensino que se transformam em aulas, com maior ou menor sucesso. A metodologia de ensino é sua forma de criar arte. Muitas vezes os professores incorporam em sua criação de aula o acaso ou as ações não planejadas que surgem na sala de aula. Uma aula de matemática pode usar o som da música para transmitir um conteúdo, o que não é muito comum. Essa é a sua prática. Professores usam recursos incomuns para transformarem suas aulas em espaços de ensino, buscam se emancipar do convencional e por isso são observadores. Esse é o primeiro passo para a escrita. Para irem além, para darem o salto da experiência ao registro, exige um método, a etnografia, e um instrumento, o diário de campo, que falarei adiante. Eles veem como os alunos reagem as diversas propostas de ensino. Por isso professor tem insights. Eles compreendem de forma interna e súbita algo que ocorre num momento de aprendizado. Eles se tornam conscientes de algo. Em alemão é Die einsicht o termo para a percepção que envolve uma conexão complicada ou processo de enxergar algo por dentro e é Der einblick a primeira impressão de uma nova atividade ou área. O termo foi explorado pela psicologia da Gestalt pelo teórico Wolfgang Köhler (1887-1967) que o define como “a percepção da forma de resolver um problema”, podendo ser emocional ou intelectual.
As bases dos professores para seu ensino são dadas em seus cursos de graduação. Como todos os professores, atravessei a máquina produtora de consciências da universidade. Tornei-me professor de história. Foi a professora do curso de filosofia da UFRGS Ana Carolina, na disciplina de Introdução à Filosofia, ainda no ano de 1983, que fundamentou as bases do caminho que construí como historiador. Em suas aulas ela me apresentou dois autores notáveis, Paul Virilio e Jean Baudrillard, que ampliaram minha visão de mundo. A escrita deles era transversal, interdisciplinar; seus conceitos, paradoxais aos que aprendia em meu curso. Li Guerra Fria (Brasiliense, 1984) de Paul Virilio e O sistema de objetos (Perspectiva, 1997) de Jean Baudrillard. Junto com Cenários em Ruínas (Brasiliense, 1987) de Nelson Brissac Peixoto – que descobri viajando pelas estantes da biblioteca da universidade – introduziram em meu pensamento uma visão crítica e estética de mundo. Um arquiteto, um sociólogo e um cineasta me ofereceram insights para ser historiador nos anos 80. Numa época em que o discurso universitário era marxista, eu me formava pós-moderno. Numa época em que o racionalismo acadêmico dominava, eu me abria para a experiência estética. Escrevi sobre isso em O Paradigma Estético, publicado pelo Clube dos Autores. Depois, com a ascensão do neoliberalismo, não teve jeito, voltei ao marxismo. Como é possível ser indiferente ao mundo?
Como vejo a produção escrita de inúmeros professores? Há um texto de Haquira Osakabe intitulado “O livro do mundo” que descreve como o poeta Fernando Pessoa redigiu o famoso Livro do Desassossego. A obra póstuma reuniu escritos que estavam depositados em um baú hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa. Osakabe chama a atenção para o caráter fragmentário e inacabado da obra de Pessoa, que via “a necessidade de harmonizar materiais mais antigos, com a psique desse seu [novo] heterônimo, então recentemente definido” (Osakabe, p. 422). O fato de Pessoa não ser só um escritor prolixo, mas também múltiplo, criando personagens autorais como Bernardo Soares e Vicente Guedes, aponta para uma característica que reconheço na minha prática de professor e que imagino que sirva de explicação para muitos outros: escrevemos fragmentariamente, e muitas vezes, com personalidades diferentes. Fragmentariamente porque não somos escritores profissionais, somos professores. Temos muitos afazeres, corrigir provas, participar de reuniões. A escrita se dá nos intervalos desses processos. Escrevemos com o que temos nas mãos: num momento interpretamos uma realidade sob o viés do pensamento de um autor; nos apropriamos dele, fazemos dele parte de nossa carne e olhar. É o que Suely Rolnik denomina de antropofagia da escrita. Ela será ou não zumbi, dependendo da guinada à esquerda ou direita que realize. Noutros, simplesmente vem ideias do que vivemos, do vemos. A literatura ajuda apenas a esclarecer conceitos e ideias.
Entendo que essa escrita fragmentária composta por múltiplos olhares é a forma contemporânea de professores em situação de trabalho intensivo. Não somos intelectuais contratados unicamente para pesquisar e escrever ao longo de um ano. Mesmo se o fizéssemos em nossas pós-graduações, dividimos essa ocupação muitas vezes com a necessidade de trabalho para sobreviver, afinal, poucos são os que tem bolsas de estudo. Eu mesmo fiz meus estudos de pós-graduação (mestrado e doutorado) trabalhando por certo período. Além disso, mesmo que fôssemos a nata da intelectualidade universitária, ainda teríamos que dar aulas. E se, no ponto extremo, fossemos então pesquisadores sêniores em uma universidade estrangeira, quem sabe Cambridge, aí poderíamos sim, ser pagos exclusivamente para escrever algo ao longo de um grande período de tempo. Infelizmente, na nossa realidade urbana, periférica, trabalhadora, a produção intelectual é esse esforço a mais que fazemos, esse trabalho a mais que consideramos importante e para o qual separamos algum tempo e esforço para realizar entre as correrias do dia a dia, a ida ao supermercado, o atendimento dos filhos e as reuniões de professores. Por isso, a produção é fragmentária, um dia faço o que posso e no outro parto daí até onde dá, o que termina por ser o método de trabalho. Ele não é ruim, ao contrário, foi também o caso de inúmeros escritores, inclusive Fernando Pessoa. Eles não foram menos brilhantes por isso, ao contrário. E se temos um a lição a tirar disso tudo é que é possível encaixar uma produção intelectual ao longo dos dias, um pouco de cada vez.
Como sistematizar inúmeros olhares da nossa experiência de campo? Osakabe afirma que o próprio Pessoa, a certa altura, como Bernardo Soares, afirma que sua obra é diaristica. São produtos de um ritmo de escrita, uma anotação dia após dia. Nossos livros só podem ser escritos porque partem da forma do diário, da anotação fragmentada feita dia após dia. Ela pode ser a retomada de uma recordação, a análise de um plano de ensino, a descrição da repercussão de uma atividade em sala de aula, o comentário de um professor, mas deve ser feita sempre. Não há outro jeito. É preciso estabelecer nas rotinas diárias o hábito de escrita, seja lá o tempo que for, e seja lá a dimensão do que podemos escrever. Aprendi isso enquanto redigia no Mestrado meu A Pedagogia de Eros. Cada dia visitava uma escola e no final dele fazia minhas anotações. Reuni uma dezena de diários que serviram para a base de meu trabalho.
Além de um hábito, é preciso um instrumento, o diário de campo. O que ele é? Rita Cachado, em Diário de campo, define o diário de campo como um primo diferente na família dos instrumentos de pesquisa das ciências sociais. Ela parte do poema Aniversário, também de Fernando Pessoa, onde o poeta fala “do tempo em que seu aniversário era comemorado como um tempo longínquo, quando, entre outras situações rituais, vinham a sua casa os “primos diferentes”, aqueles que mal conhecemos, mas que sempre surgem em ocasiões festivas.” Este é o luar que Cachado dá ao diário de campo. Primo da entrevista, um dos métodos mais importantes da pesquisa qualitativa, só aparece quando é chamado. Ele pode ser usado das mais diversas formas já que “não há um método malinoswiskiano que possamos aplicar a todas as coletas etnográficas e a todos os materiais que dela resultam”. O uso do diário de campo como método origina-se na Antropologia, mas não é exclusivo dela, sua propriedade, já que várias disciplinas das humanidades, inclusive a educação, fazem uso dele. Por exemplo, além da própria antropologia que usa o diário de campo como instrumento, as pesquisas com história oral também o usam. Segundo Cachado “é uma base sólida, talvez a mais sólida, de registro do dia a dia de um universo populacional, seja ele de que dimensão for. Essa é a sua força enquanto material empírico. O diário é útil ao pesquisador que está trabalhando entre pessoas; e, no mesmo sentido, é importante para partilhar num lugar seguro os dilemas éticos com que nós nos vamos deparando, os cansaços e entusiasmos no campo. Enquanto espaço de reflexão, contém ainda a possibilidade de registrar avanços e recuos, o acesso a cada vez mais camadas de percepção sobre a realidade social em estudo”.
Hoje as misturas são bem vindas. Fiz meu A Pedagogia de Eros, a dissertação de mestrado de um historiador no interior do Programa de Pós-graduação em Educação da UFRGS orientado pela psicóloga Marisa Eizirik. Eu usei o diário de campo para acompanhar os processos no interior de diversas escolas que desenvolviam programas de educação sexual na Prefeitura de Porto Alegre nos anos 90. Quer dizer, usei como instrumento o diário para o registro da minha experiência ali. Esse método não fazia parte do meu repertório de historiador, eu precisei desenvolve-lo porque minha pesquisa envolvia relações com pessoas. Fui, nesse sentido, um aprendiz de etnografia. Guarde apenas isto da sua definição: etnografia é uma descrição densa. Foi assim que descreveu Clifford Geertz (1978) para definir a forma de escrita onde se aprende primeiro as estruturas significantes das ações sociais observadas para depois serem apresentadas. Ela envolve a descrição nos seus detalhes e leva em conta os pequenos fatos. A escola é nossa cultura, e neste sentido, um objeto primordial da antropologia, que vê como objeto da análise a dissecção da teia de significados construídos em seu interior.
Descrevemos o mundo educacional de forma objetiva, imparcial e subjetiva, parcial. É assim a nossa observação anotada em um diário. Amurabi Oliveira diz em Etnografia e pesquisa educacional: por uma descrição densa da educação (2013) que “a ideia de uma descrição densa da educação é apenas um caminho possível, mas que, em todo caso, indica a necessidade de não apenas nos utilizarmos de forma pontual de determinado autor, demonstrando a necessidade de imergirmos no debate que origina sua discussão epistemológica, para então nos utilizarmos plenamente de sua metodologia nos diversos campos do saber. A etnografia no campo educacional nos traz grandes possibilidades, pois nos aproxima do cotidiano escolar, leva-nos a um encontro profundo com sua dinâmica e com os sujeitos que a compõem; contudo, ela também nos exige uma ampliação de nosso escopo teórico, que deve ser articulado com a pluralidade de dados que emergirão do campo”. Professores escrevem sobre sua experiência, mas quando? Todos os dias. E onde? Em um diário.
Ao final, a melhor definição que encontrei sobre o que escrevem professores é a dada por William Zinsser em seu Como escrever bem (Fósforo, 2021): aprende-se a escrever aquilo que se é. Escreve-se, diz ele, falando em voz alta e avaliando o que se diz. Isso se faz em etapas. Primeiro, o professor precisa ter claro para si quem são suas fontes de inspiração, precisa reconhece-las “nunca hesite em imitar outro autor. A imitação é parte do processo criativo para qualquer pessoa que está se iniciando em uma arte ou oficio. Isso é especialmente verdadeiro na escrita. Localize os melhores escritores no campo que mais interessa e leia os textos dele em voz alta. Logo você acabará por se despir dessas camadas, tornando-se quem você deve se tornar” (Zinsser, p. 190). Segundo, o professor precisa saber no que se transformou. No seu famoso manual de escrita de não ficção, Zinsser diz que queria que os leitores soubessem que estavam em contato com uma pessoa “o produto que vendo como escritor, seja qual for o tema sobre o qual escrevo, sou eu”. Por isso defende que o autor deveria aprender a desenvolver sua própria voz, uma voz tão suave que pareça que o escritor que está falando com o seu leitor. Ela não deve ser fácil demais e nem ter clichês, que depende do trabalho de ajustar a gramática e a sintaxe com suas ideias, com seu pensamento. Um bom professor-escritor anota e organiza sua experiência de ensino, recolhe e anota dados de sua realidade escolar, explica-os recusando o estilo fácil, gírias banais e a filosofia barata. Para isso usa o que o autor chama de caixa de ferramentas, tema de nosso próximo artigo.
Bibliografia
CACHADO, Rita. Diário de campo. Um primo diferente na família das ciências sociais. Disponível aqui.
KOREN, Leonard. O que fazem os artistas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
OLIVEIRA, Amurabi. Etnografia e pesquisa educacional: por uma descrição densa da educação. Educação Unisinos 17(3):271-280, setembro/dezembro 2013.
OSAKABE, Haquira. O livro do mundo. In; NOVAES, Adauto. Poetas que pensaram o mundo. São Paulo: Cia das Letras, 2005.
SENNELLART, Michel. As artes de governar. São Paulo: Editora 34, 2006.
VALÉRIO, Chiara Valerio. A matemática é política. Belo Horizonte: Âyné, 2021.
ZINSSER, William. Como escrever bem.São Paulo:Fósforo, 2021.
ZORDAN, Paola & HOFFMANN, Ana Clelia. Artes de si no magistério: o dândi educador. IN:TED- Educação Temática Digita , Campinas, SP v.21 n.2 p.530-545 abr./jun.2019.
Foto da Capa: Agência Brasil
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