Nessas últimas semanas observei diversas ocasiões que me fizeram refletir e, confesso, sentir experiências de luto.
Luto nas Olímpiadas
Recentemente vivemos as emoções das Olimpíadas e com elas acompanhamos diversos esportes, aprendemos suas regras, vibramos, torcemos por eles. Em diversos casos, perdemos. E tivemos que lidar com essa perda, frustração, raiva, com o luto da derrota.
Luto no Dia dos Pais
Neste Dia dos Pais, talvez por conta da faixa etária dos meus amigos, me deparei com muitos homenageando seus pais já falecidos. Trazendo memórias, lições, eventos de tempos idos. Contando com amor e também com dor a respeito desses pais celebrados, mas que já não podiam abraçar. Eu mesma sou uma dessas pessoas. Meu Pai, Vorni, morreu quando eu contava com 19 anos e ele 48, apenas. Carrego comigo suas lições, exemplo, memórias e com ele converso internamente quando preciso tomar decisões importantes. Datas como essa, trazem esse sabor agridoce, da partida, da saudade, da falta, do luto e da finitude. Tudo passa, tudo acaba um dia.
O que é o luto
Conforme nos ensina a teoria (recomendo o livro de Renato Nogueira O Que é o Luto, Como os Mitos e as Filosofias Entendem o Luto), luto é uma resposta complexa e multifacetada à uma ou mais perdas: ao estresse, à separação ou à adaptação. Há diversas formas de se enlutar e algumas podem ser classificadas como agudas, prolongadas, coletivas, severas, ambivalentes, sombreadas, ausentes, empáticas, antecipatórias, etc. Seus determinantes são:
- a vulnerabilidade pessoal e familiar;
- o relacionamento com a pessoa que morreu;
- as circunstâncias da perda;
- e o apoio social.
É interessante observar que muitas espécies animais têm comportamentos semelhantes a nossa com relação ao luto, em especial os mamíferos. E podem apresentar tristeza, inapetência e comportamento antissocial.
A gente vivencia o luto cotidianamente
Mas falar em luto é principalmente falar em perda. A perda de um emprego, perda da rotina do trabalho com a chegada da aposentadoria, a perda de uma amizade que a gente achava verdadeira, a perda da presença da/o filha/o que saiu de casa, a perda da juventude com o envelhecimento. E, mesmo que a gente logo em seguida arranje um novo emprego, ou arranje algum projeto na aposentadoria ou faça mil procedimentos para aparentar 20 anos mais jovem, o luto irá estar em nós como um hóspede indesejado lá nas profundezas até que a gente tome coragem e o convide para sentar, conversar e entender nossos rolos internos.
As teorias
Psiquiatra e escritora Elizabeth Kübler Ross (1926-2004), em um dos seus livros mais conhecidos, Sobre a Morte e o Morrer, apresenta o conhecido Modelo de Kübler-Ross. Para ela, o luto é um processo psicológico de adaptação a alguma experiência de perda e a duração difere de pessoa para pessoa, que possibilitou uma ampla discussão em ambiente leigo e profissional sobre as necessidades das pessoas diante da morte e do processo de luto. Em seu Modelo, desenvolvido a partir de estudo que realizou, a psiquiatra estadunidense definiu o processo de luto passo a passo, que pode não seguir uma ordem linear, mas é descrito como: negação, raiva, negociação, depressão, aceitação.
Há também a Teoria do Processo Dual, hoje bastante utilizado, que podemos descrever como uma “gangorra”. Ela retira a ideia de fases e coloca o luto como um balanço que oscila entre a perda (negação, evitação, elaboração do luto, rememorar, falar sobre etc.) e a restauração (lidar com atividades da vida apesar da perda sofrida, retomar tarefas do dia a dia, fazer coisas novas, etc.). Nela também não há período estimado, cada processo é individual.
O que fazer diante dele
Mesmo com estudos, métodos, especialistas, cada pessoa é uma pessoa e tem seu jeito, seu tempo de se enlutar. É pessoal, individual e intransferível. Não se passa pelo luto, se segue caminhando com ele. É preciso compreendê-lo. Ao fazê-lo, podemos encontrar as melhores respostas para encontrarmos felicidade e sentido mesmo em situações da vida que nos fariam sofrer. Vale a pena tentar.
Dica de série
Para quem deseja começar a pensar nos temas da finitude e luto, indico a série coreana A Caminho do Céu, na Netflix, que os aborda de uma forma leve, gentil e delicada.
Foto da Capa: Freepik
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