O que nos faz mudar de ideia? Será que alguém consegue mudar a ideia de outras pessoas? Já li que ninguém muda ninguém! Por outro lado, tenho constatado na prática mudanças drásticas em alguns amigos e conhecidos. Pessoas que eu não via há alguns anos e me surpreendi ao encontrá-los com ideias e hábitos totalmente diferentes. Pessoas que eram de esquerda passaram a ser de direita, ateus viraram religiosos, sedentários que se tornaram atletas, enfim, mudar de ideia aqui implicou em alterar o seu estilo de vida.
O que levou estas pessoas a mudarem de ideia? Por incrível que pareça, não foram argumentos e razões lógicas. Entendi melhor suas razões depois que li e ouvi explicações como as do Átila Iamarino, que diz que o nosso pensamento se assemelha com a forma como trabalha o advogado, que primeiro defende uma ideia e depois busca as evidências para comprovar a sua tese. Ou seja, primeiro usamos o emocional e depois o racional. Nossa mente não é como a dos cientistas, que primeiro busca evidências para depois elaborar uma tese, uma ideia que possa explicar aquele fenômeno. Nós defendemos uma ideia utilizando o nosso histórico, com base na nossa formação educacional-familiar-religiosa-cultural. Sim, somos capazes de racionalizar, de formarmos um senso crítico, podemos rever e nos libertarmos das influências do passado, mas este também é um processo difícil e que nem sempre ocorre.
Entre as mudanças que presenciei, uma foi a transformação ocorrida numa família conservadora que vive no interior do Rio Grande do Sul e que o seu filho foi estudar em São Paulo. Lá o menino começou a namorar uma ativista de esquerda e ele também se tornou ativista. Já nas primeiras visitas que fez com a namorada, ela encantou toda a família, mas quando começou a manifestar suas ideias foi causando um certo desconforto. Pelo fato do filho e namorada serem muito queridos, suas ideias foram sendo toleradas pela família. Os pais diziam: “isto é coisa dessa nova geração, temos que aceitar”, e assim os temas deixaram de ser polêmicos. Nos encontros seguintes se tornou rotina falar nos churrascos de domingo de temas que antes eram motivo chacota. A família se tornou mais tolerante e mais aberta a tais temas.
Algo semelhante aconteceu com uma família homofóbica que teve um filho homossexual. Ter um envolvimento emocional com a vítima de preconceito provoca uma mudança de sentimento, que não é apenas um “faz de conta que eu não ligo”, as pessoas da família mudaram realmente seus valores e passaram a respeitar a homossexualidade. Nenhuma discussão sobre o direito dos homossexuais teria o mesmo poder que teve o impacto na família ver o sofrimento e a discriminação sofrida por aquele ente querido. As pessoas que eram preconceituosas, diante dessas situações racionalizam e encontram justificativas para concordar com a nova realidade. Pode ser que não defendam as bandeiras da homossexualidade, mas deixaram de ser preconceituosas com os homossexuais.
Na linha mais espiritual e filosófica, que diz que “ninguém muda ninguém”, defende-se que não adianta falar, se queres que alguém mude de ideia ou de comportamento, o que se pode fazer é despertar a vontade da pessoa em querer mudar. E como se faz isso? Sendo a transformação que ela deseja, o que ela quer para ela. Por exemplo, se quer convencer alguém que ama que essa pessoa deixe de ser obesa e sedentária e já gastou horas explicando os riscos para a saúde dela e não adiantou, então experimente fazer exercícios e ter uma alimentação saudável. Isto poderá despertar nessa pessoa uma vontade de se transformar. Tem um ditado popular que diz “a palavra convence, o exemplo arrasta”. Se isso não funcionar, só resta uma alternativa: amar incondicionalmente esta pessoa. Segundo esta corrente, se essa pessoa se sentir amada, do jeito que ela é, obesa, preguiçosa, desastrada, chata, isto vai despertar nela o desejo de evolução. O amor é o que mais provoca desejo de evolução no ser humano e, quando a pessoa se sente amada, ela tende a querer evoluir.
Recentemente faleceu um grande amigo e colega professor e eu tive a oportunidade de coletar depoimentos dos seus ex-orientandos de mestrado e doutorado para fazer uma homenagem no dia do seu funeral. Me impressionou que, em suas falas, todos disseram que o Prof. Eugenio Pedrozo havia mudado as suas ideias, as suas formas de ver a vida e que o tinham como um exemplo a ser seguido. Acho que encontrei aqui a resposta para a minha pergunta: “Unir a teoria, a palavra e o exemplo de vida provoca mudança nas ideias!”
Referências:
>> O que te faz mudar de ideia?
>> Como fazer alguém mudar [de ideia, de vida, de comportamento]
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