Você tem curiosidades sobre o funcionamento do cérebro? Já se perguntou alguma vez como que aprendemos e como foi a evolução da espécie humana para chegar a ter a capacidade cognitiva que temos hoje? Eu acho tudo isto fascinante e, ao assistir a palestra da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, aprendi muita coisa e surgiram novas dúvidas, então fui pesquisar. Este texto é uma síntese do que aprendi com ela, do que eu interpretei e das dúvidas que ainda permanecem.
Quem é Suzana Herculano-Houzel? Uma neurocientista brasileira que, quando fazia pesquisas na UFRJ, perguntou sobre quem havia contado para afirmar que nosso cérebro possui 100 bilhões de neurônios e descobriu que este número era apenas uma estimativa. Ela resolveu contar e se tornou mundialmente conhecida por provar que temos cerca de 86 bilhões de neurônios. Hoje ele é pesquisadora na Vanderbilt University, nos EUA, e divulgadora científica. Ela faz uma série de afirmações que são contrárias ao que eu acreditava, mas não sei dizer se isto é consenso entre os especialistas.
O que diz a neurocientista? Sobre a crença de jogar xadrez e fazer palavras cruzadas fazem bem para o cérebro, ela diz que jogar xadrez ajuda a desenvolver estratégias e a perceber as consequências de uma decisão. Fazer palavras cruzadas ajuda a aumentar o vocabulário, mas não se pode dizer que estes exercícios “fazem bem para o cérebro” ou que são antídotos para determinadas doenças. Diz que todos nós usamos 100% da capacidade do nosso cérebro, que é um erro dizer que só usamos 10% da sua capacidade. O que mais me impressionou foi a afirmação de que não precisamos de carboidratos, que o nosso corpo sabe produzir os carboidratos que precisa. Segundo ela, é um equívoco pensar que o metabolismo funciona à base de glicose. O coração e os demais músculos precisam é de gordura. Portanto, uma boa alimentação para o corpo e para o cérebro seria aquela baseada na ingestão de proteínas, gorduras, vitaminas e alguns sais minerais. Uma dieta variada e com um pouco de cada coisa, mais ou menos como recomendava nossa avó.
Falando sobre a evolução do cérebro, a Dra. Suzana informa que o cérebro dos nossos antepassados era um terço do tamanho do que temos hoje. Há cerca de 2 milhões de anos começou um crescimento, que coincide com o período em que o homem passou a usar o fogo para cozinhar os alimentos. Há cerca de 160 mil anos, quando surge o homo sapiens, o cérebro já tinha triplicado de tamanho. A explicação é que o cérebro demanda muita energia, cerca de 500 calorias por dia. Quando o homem era um caçador/coletor, ele gastava muito tempo procurando alimento e demorava para fazer a ingestão de alimentos crus. O cozinhar é visto como uma pré-digestão, pois eles já chegam no intestino como uma pasta que permite uma maior absorção. Por exemplo, ao comer uma cenoura crua, apenas 30% dos nutrientes serão absorvidos, enquanto se ela estiver cozida, a absorção será de 100%. Para suprir a energia necessária para a quantidade de neurônios que temos hoje, se ainda fôssemos caçadores/coletores, gastaríamos cerca de 10 horas por dia em função da alimentação. A agricultura e o cozinhar permitiram os nossos ancestrais terem mais tempo para inventar artefatos e desenvolver tecnologias.
Então, admitindo que a quantidade de neurônios nos fez mais inteligentes e que há milhares de anos temos a mesma quantidade de neurônios, o que explica que conseguimos desenvolver tecnologias em poucas décadas que nossos antepassados não fizeram em milhares de anos? Alguns possíveis fatores respondem esta dúvida. Nos últimos 150 anos a humanidade duplicou a sua expectativa de vida, hoje uma criança consegue conhecer seus bisavós e com isto houve um maior repasse de conhecimentos e experiências entre gerações. Vivendo mais, o cérebro teve mais tempo para amadurecer e se desenvolver. No passado o conhecimento era domínio dos sábios e poucos outros. Com a popularização do acesso ao conhecimento e mais pessoas pesquisando sobre os grandes mestres do passado, se conseguiu aumentar a velocidade do desenvolvimento tecnológico. Como diz Marcelo Gleiser: “a gente morre quando as pessoas esquecem de nós”. Quanto mais pesquisarmos sobre a história e a vida dos grandes mestres, mais vivo eles permanecerão.
O fator mais importante para o desenvolvimento do nosso cérebro, o que nos fez desenvolver tanta tecnologia em tão pouco tempo, foi a conexão entre neurônios. Um neurônio pode se conectar com 10 mil ou 100 mil neurônios, que é conhecido por redes neurais. Quanto mais conhecimento, mais conexões se estabelecem. As conexões que fazem mais sentido se fortalecem e as outras podem desaparecer. A escola e universidades, dando acesso a mais pessoas, foram as grandes responsáveis pelo aumento das conexões e o fortalecimento delas, tornando assim nossa espécie mais inteligente. Então, se alguém ainda duvida da importância do sistema de ensino, saiba que menos crianças nas escolas e menos jovens nas universidades, o resultado é uma sociedade mais burra. Uma criança fora da escola é um cérebro que poderia ter se desenvolvido e inventado algo revolucionário para o bem da humanidade.
Fontes:
– Roda Viva com Suzana Herculano-Houzel
– Papo Astral de Marcelo Gleiser com Suzana Herculano-Houzel
– Impactos cognitivos de um mundo cada vez mais acelerado, com Suzana Herculano-Houzel
– TEDx Nashville – Why do we have go to school, really? Suzana Herculano-Houzel
– A evolução do sistema nervoso nas espécies | Suzana Herculano-Houzel (Aula Magna)
Foto das Capa: Freepik