Airton Gontow
Dias Perfeitos (Perfect Days), de Win Wenders
A obra de Wim Wenders mostra a vida um homem que limpa banheiros em Tóquio. É um filme sensível e delicado, que mostra, sem qualquer concessão ao pieguismo, a capacidade que Hirayama têm de ver beleza e significado nos detalhes e relacionamentos do cotidiano. Belíssimo. Foi indicado para o Oscar de “Melhor Filme Internacional” de 2024, que ficou com o também ótimo e impactante “Zona de Interesse”. Em minha opinião, Perfect Days foi o Melhor Filme do Ano.
Nebraska, de Alexander Payne
Revi dias atrás. Filme de 2013 dirigido por Alexander Payne, todo em preto e branco, conta a história, com humor, drama, melancolia e lirismo, a história de Woody Grant, idoso que acredita ter ganhado um prêmio milionário de uma propaganda enganosa. O filho tenta demovê-lo da ideia de ir buscar o prêmio, mas embarca com o pai até a cidade de Lincoln, em Nebraska, para buscar o suposto prêmio.
Todos os filmes do Chaplin
Dá para encontrar a maioria na Internet e canais fechados. Também existem coleções com DVDs. É preciso resgatar a sensibilidade, o amor, a ternura, o humor, o olhar para o “Outro”. Revisitar a obra de Chaplin é um presente que podemos nos dar nesse ano que se inicia. Uma dica. Após assistir aos filmes, leia o monumental poema “Canto ao Homem do Povo, Charlie Chaplin”, onde Drummond se refere a cenas de inúmeros filmes. Você verá também por que Drummond é nosso maior poeta.
Carlos André Moreira
Camponeses, de DK Welchman e Hugh Welchman
A dupla responsável por Com Amor, Van Gogh emprega sua técnica detalhista de animação (o filme é gravado com atores e depois pintado frame a frame) ao adaptar o romance do Nobel polonês Władysław Reymont sobre uma vila de camponeses no fim do século XIX, na qual a indômita e passional Jagna desafia as convenções locais.
Dias Perfeitos, de Wim Wenders
“Koan” é um tipo de epigrama curto do budismo zen japonês para despertar questões que miram alcançar um insight para além da razão. Sendo assim, o belo filme de Wenders sobre um limpador de banheiros em Tóquio tentando fazer da rotina sua iluminação poderia ser descrito como um belo “Koan” cinematográfico.
A Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
Vi por que havia lido o livro de Martin Amis, a seu modo muito bom, embora não um dos melhores do autor. O filme, perturbador, não tem quase nada a ver a não ser a ideia básica: uma família alemã vive uma vida “normal” no mais anormal dos ambientes. Um filme para assistir com o som no talo e a respiração suspensa.
Jorge Barcellos
Umberto Eco, uma biblioteca do mundo (DVD, Direção Davide Ferrario,1h20”, 2024).
O sonho de qualquer intelectual é passear pelo universo de Umberto Eco, uma das maiores referências de nossa época. Aqui, o ponto de partida é a sua biblioteca particular, mas não apenas isso, é vê-la como a forma como o autor construiu seus problemas de pesquisa. Descrevendo uma biblioteca com mais de 50 mil volumes, o documentário reúne filmagens inéditas de Eco como material filmado por ele para uma videoinstalação na Bienal de Veneza de 2015. Só para quem ama livros. DVD disponível na Amazon.
Ennio, Il Maestro (DVD, Direção Giuseppe Tornatore,2022, 2h36’).
Por eu ter sido um aspirante de maestro frustrado na infância – a pobreza jamais me permitiu aprender um instrumento -, facilmente cedo li a biografia de grandes do gênero. O documentário, filmado durante cinco anos, descreve a trajetória de um dos mais fascinantes compositores do século XX, Ennio Morricone (1928-2020). Autor de mais de 500 composições que se tornaram clássicas para cinema e televisão, era admirado por Quentin Tarantino, Quincy Jones, Bruce Springsteen, John Williams, Clint Eastwood, Marco Bellocchio, Dario Argento e Bernardo Bertolucci entre outros. Eu estou no fim da lista.
Elis e Tom – Só tinha de ser com você (DVD, Direção Roberto de Oliveira, 02 Play,2023,1h40’).
O que torna fascinante o documentário é que ele é a história de uma relação, a da tensão entre dois magistrais artistas, Elis Regina e Tom Jobim, na gravação do famoso disco Elis & Tom (1974). O fato de o documentário revelar o clima passivo-agressivo entre os personagens que é também a história de uma admiração recíproca, nos ensina muito sobre a frase “só se pode copiar a quem se ama”. Como diz seu diretor, em tempos de polarização política, “a grande lição do filme é que você não precisa ser igual ao outro para cooperar.”
Karen Farias
A Substância, de Coralie Fargeat
No filme com a direção de Coralie Fargeat, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma celebridade em declínio que enfrenta uma reviravolta inesperada ao ser demitida de seu programa fitness na televisão. Desesperada por um novo começo, ela decide experimentar uma droga do mercado clandestino que promete replicar suas células, criando temporariamente uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma. Um filme que tensiona todo o tempo, com toques quase escatológicos, traz à luz uma conversa sobre a pressão da sociedade sobre a mulher por um determinado padrão de beleza, jovem, e as dificuldades para, ao se querer mantê-lo, enfrentar o envelhecimento. Já é possível assisti-lo no Mubi.
O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
Dirigido e escrito por Pedro Almodóvar, apresenta as jornalistas Ingrid (Julianne Moore) e Martha (Tilda Swinton), que foram muito amigas na juventude, quando trabalharam juntas na mesma revista, mas que passaram longos anos sem manter contato. Agora, elas se reencontram quando Martha está em fase final de sua final por conta de um câncer, e pede apoio da Ingrid para realizar Morte Assistida. Um filme que traz uma conversa sobre finitude, luto, amizade e legado.
Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
O filme foi produzido a partir do livro homônimo do Marcelo Rubens Paiva, que conta a história da sua mãe, Eunice Paiva (interpretado por Fernanda Torres / Fernanda Montenegro), sobre a força, resiliência e luta de como ela enfrentou o sequestro e morte do marido pela ditadura militar. Um tributo à Eunice. Ainda nos cinemas.
Minisséries
Kaos – Na Netflix. Série americana com oito episódios. Com a discórdia reinando no Monte Olimpo e o poderoso Zeus (Jeff Goldblum) à beira da paranoia, três mortais (Mísia Butler, Aurora Perineau, Leila Farzad) estão destinados a mudar o futuro da humanidade. Nela, a partir da mitologia se apresentam e se exacerbam as relações capitalistas e de desigualdade social por ela causadas, tudo com humor, com o grotesco e com uma trilha sonora maravilhosa. Parece que a segunda temporada foi cancelada. Pena. Link para ela aqui
The Trunk – Na Netflix. Série coreana com oito episódios. Baseada no livro homônimo da escritora Kim Ryeo-ryeong. Ela retrata duas pessoas (a atriz Seo Hyun-jin e o ator Gong Yoo) sob contrato de casamento de um ano e um baú misterioso. Uma mistura de trama romântica, suspense e policial. Link para ela aqui.
Griselda – Na Netflix. Série americana com seis capítulos. Estrelada por Sofia Vergara, conta parte da história da traficante colombiana que chegou a comandar o império da droga em Miami durante os anos 80, uma das poucas mulheres neste mundo. Link para ela aqui.
Lelei Teixeira
Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.
A trajetória de uma família que vivia em harmonia até o desaparecimento do pai, Rubens Paiva, torturado e assassinado durante a ditadura militar no Brasil. A vida de Eunice Paiva e dos cinco filhos após a tragédia.
O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
O filme foi Leão de Ouro no Festival de Veneza. Duas amigas na juventude se reencontram depois de muitos anos em uma situação extrema e doce.
No Rancho Fundo, de Mario Teixeira
Novela exibida entre 15 de abril e 1º de novembro de 2024. A vida de uma família simples do sertão do Cariri é revirada depois da descoberta de uma pedra preciosa.
Sílvia Marcuzzo
Bob Marley, One Love, de Reinaldo Marcus Green
Talvez para quem conheça melhora a obra e a trajetória do Bob Marley, o filme não fique devendo alguma coisa, mas para mim, ele traduziu a figura desse ícone da música que até hoje faz sucesso. Também mostrou o quanto pessoas geniais como ele não se cuidam. O que ele viveu e passou deve servir para muita gente compreender o quanto precisamos aprender com o heroísmo de personalidades negras. O filme mostrou o quanto Marley viveu aquilo que acreditava. E, ao mesmo tempo, proporcionou ao mundo uma visão da sua fé baseada no amor entre as pessoas.
Vera Moreira
Este foi um ano especial da produção nacional de cinema. Assim, indico dois filmes brasileiros. E só registro Duna: Parte 2, pois sou muito fã de boa ficção científica.
Meu amigo pinguim, de David Schurmann
A história real de um pescador de Angra dos Reis (RJ) que é um conto de fadas, pois rompe os limites engessados do real e nos faz penetrar nas delicadas teias de conexão que o universo promove entre os seres. Com Jean Reno. (só lamento o áudio em inglês, uma exigência descabida dos produtores).
Ainda estou aqui, de Walter Salles
O filme costura dor e amor com sensibilidade ímpar ao denunciar a ditadura através da resiliência do núcleo familiar no seu mais profundo e verdadeiro sentido – lotou os cinemas com público de todas as idades, o que revela como ansiamos pelo amor, a nossa força. Com Fernanda Torres.
Uma Viagem ao Infinito, de Jonathan Halperin e Drew Takahashi
Documentário. Em um dos blocos, o físico Anthony Aguirre, PhD em astronomia pela Universidade de Harvard, faz uma simulação interessantíssima sobre os corpos a partir da pergunta “O que aconteceria com um sistema físico se você só esperasse uma infinidade de tempo?”
Água Redonda e Comprida, com Nayane Gakre e Geórgia Macedo
Teatro no CHC Santa Casa. Em cenário simples e altamente criativo, com movimento, luz e som, a jovem Kaigang Nayane Gakre e a bailarina Geórgia Macedo destacaram a força e a leveza dos rios nas goj tej (água comprida) e das nascentes na goj ror (água redonda), sob a cosmovisão do povo Kaingang, revivendo histórias apagadas tão fundamentais.
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