Começo esse texto com um desafio. Você conhece algum homem público que tenha o perfil com as seguintes características?
- Chame ou Simpatia — tem a capacidade de encantar as pessoas quando tem um objetivo e, como não é autêntico, o comportamento pode variar em momentos diferentes;
- Mentira— mente constantemente e muitas vezes sem razão;
- Falta de remorso— não sente nenhum remorso pelo comportamento negativo, mesmo sabendo que isso pode prejudicar outras pessoas;
- Falta de lealdade— desvaloriza e substitui os outros com facilidade, pois não costuma ter apego ou amor;
- Egocentrismo— quer que as pessoas fiquem em constante competição pela sua atenção, promovendo intrigas e manipulando todos em sua volta;
- Impulsividade— toma decisões importantes de forma impulsiva, sem muita reflexão;
- Reações explosivas— demonstra pouca paciência e, quando contrariados, reage de forma explosiva.
Bom, se o primeiro nome que lhe veio à mente, por um acaso do Senhor, foi o de Jair Bolsonaro, foi você quem pensou. Eu só queria listar algumas características de um psicopata! A psicopatia é um transtorno mental que acomete entre 2 a 4 milhões de brasileiros, entre os quais… Bem, sou jornalista, saúde mental não me compete.
Corta. Não sou um fervoroso defensor dos direitos dos animais, não que não os reconheça, mas porque tenho outras prioridades na minha fila. No entanto, fiquei particularmente comovido com uma notícia do UOL que pouco comoveu a nação. Duas emas morreram na Granja do Torto. E faltou comoção talvez porque fossem apenas emas, umas galinhas grandes, sem graça, pescoçudas, e não filhotes de cachorrinhos mimosos e cheirosos. Mas, veja, não foram mortes morridas, foram morte matadas.
E não foi descuido. O Palácio do Planalto cortou deliberadamente as verbas para o manejo das aves e, assim, os animais – para não morrerem de fome como tantos outros no país – acabaram sendo alimentados, ao longo dos últimos anos, com um pouco de ração misturada a restos de comida humana. Os tratadores e veterinários sabem que esses animais não podem comer alimentos humanos, precisam de ração balanceada, grãos. O resultado inevitável foi o envenenamento por excesso de gordura, doenças cardíacas e hepáticas e, por fim, mal súbito. Assassinato. As aves também não recebiam vacinas e as instalações precárias onde viviam levaram à morte de vários filhotes, de acordo com a consultoria contratada pela nova primeira-dama Janja da Silva. Assassinatos em série.
Enfim, qual a relevância das emas? Nenhuma. Mas também não havia nenhum motivo para deixá-las morrer, deliberada e conscientemente. Falta de verba, talvez? “Precisamos economizar nas emas para gastar 5 milhões de reais dos cofres públicos só fazendo motociatas autopromocionais”, diria um prócer aliado. Ou mais de 800 mil reais só em padarias no cartão corporativo. O que temos aqui, mais uma vez, é um traço permanente dos inquilinos anteriores do Palácio do Planalto: a crueldade fortuita em seu estado puro.
Sem novidades. Os assassinatos fazem fila. Foi o mesmo que atrasar a compra de vacinas da Covid enquanto brasileiros morriam aos borbotões por todos os lados. Foi retardar oxigênio para Manaus. Foi cortar a assistência aos povos indígenas e liberar garimpo em suas terras, inundando os rios com mercúrio. Foi o mesmo que facilitar a compra de armas pela população (?). Mas uma ema, afinal, é só uma ema, e nos últimos quatros anos a única serventia que esse galinhão teve foi a de se prestar a garota propaganda das palhaçadas insensíveis e cruéis do um presidente bufão? E eu já nem lembro por que comecei falando de psicopatia…
Bem, apesar de todo esse esforço malévolo, ainda sobreviveram 17 emas na Granja do Torno e mais 38 no Palácio do Alvorada. E 214 milhões de brasileiros no Brasil.
Como diria o poeta: Todos esses que aí estão /Atravancando o meu caminho, /Eles passarão… /Eu passarinho! (Mário Quintana)