Aprecio espaços urbanos. Em viagens caminhei muito por ruas desconhecidas, sem horário, nem roteiro definidos. A percepção das diferentes camadas de estilos arquitetônicos sempre é uma experiência interessante. Hoje, vivo no Centro de Porto Alegre e faço constantemente esse exercício, percorro as ruas do Centro. E gosto.
Ao longo do tempo, Porto Alegre experimentou um processo semelhante às outras capitais brasileiras, que a partir dos anos 30 substituíram sua arquitetura eclética por prédios modernos. E não teria como ser diferente. É nesse momento que a população brasileira aumenta radicalmente sua população e migra do campo para as cidades. Nossos românticos Centros baseados nas metrópoles europeias foram trocados por prédios altos e, muitas vezes, disformes.
No caso específico de Porto Alegre nos encontramos, hoje, num outro momento. A estagnação do processo de crescimento, tanto da população, quanto de novas construções. Parece que se estabilizou e o que temos permanecerá por um bom tempo. As camadas construtivas se acomodaram e o resultado (dependendo do ângulo que se vê) é bem razoável. Em muitos pontos de vista, o antigo e o moderno se harmonizam e pode ser uma boa sensação uma caminhada entre eles. Portanto, agora, nos resta tentar melhorar a condição estabelecida. Acredito que com essa premissa a cidade possa enfrentar três grandes problemas construídos ao londo do século passado e que atrapalham a condição de um Centro mais humano.
O primeiro deles é o muro da Mauá, uma solução simplória frente às cheias, que seccionou a cidade da sua história. Hoje, seria o de solução mais fácil (sem entrar no mérito do da solução encontrada), pois o maior problema é o seu súper dimensionamento. Definitivamente ele não precisaria ser construído com uma parede cega de 3 metros de altura, se considerarmos que a enchente de 1941 é a sua referência. Como sua altura é quase o dobro da marca histórica, é bem razoável encontrar novos materiais que dêem transparência à parte superior, como, por exemplo, os novos tipos de vidro existentes. Isso melhoraria sensivelmente a perspectiva para os pedestres, pois o conjunto de armazéns seria resgatado ao nível dos olhos.
Um segundo grande problema do Centro são as paredes cegas dos seus edifícios mais altos, construídos até o limite do terreno. Isso é realmente desolador. Vejo no novo plano diretor específico para o Centro de Porto Alegre, aprovado recentemente, uma possibilidade de atenuação deste efeito. Por este novo plano a altura dos prédios será regulada pelos próprios prédios a sua volta, ou seja, se isso ocorrer de forma planejada as paredes cegas podem ser escondidas por novos prédios com projetos adequado. É uma tentativa. A única questão é se o mercado vai comportar um aumento construtivo numa cidade onde o crescimento populacional está praticamente nulo.
Por fim, acho que o terceiro grande problema a ser corrigido é o final do Trensurb. Colocado ainda nos anos 80, este trem tem uma função importante no transporte de toda a Região Metropolitana, mas seu projeto peca na entrada de Porto Alegre. A maneira como ele rasga o Centro é um absurdo. Aliás, essa condição será tema de uma grande discussão, porque o novo projeto de ocupação do porto prevê a construção de torres nas docas, que exigirão uma saída para acessar a Mauá. Como sei que um orçamento é sempre determinante, espero que a solução não seja a elevação dos trilhos com a necessidade de uma enorme estrutura de concreto na região do Mercado. Seria lamentável.
Porto Alegre deve enfrentar de forma inteligente essas três questões nos próximos anos pra ser uma cidade melhor, mais agradável e humana. Nossos olhos e nossas almas merecem.