É bem possível que muitas pessoas sequer imaginem que seus avós ou pais também foram adolescentes. Como teriam sido aqueles tempos? Como se divertiam? Como se apaixonavam? O que escutavam no rádio e quais músicas dançavam nos bailes? Entender como era o comportamento deles perante a vida familiar, amorosa, social, escolar e profissional pode ser útil para compreender as mudanças que percebemos nestas duas gerações. A chamada geração silenciosa e os boomers. Adianto que estas divisões são úteis apenas para cruzar momentos da idade com a cronologia dos acontecimentos no mundo.
Antes vale destacar que o tema idadismo ou preconceito etário tem estado cada vez mais presente na mídia, publicações em redes sociais e que muitas pessoas que sequer percebiam esta realidade há alguns anos, começaram a tratar de forma consistente, particular e em muitos casos motivadas pela desagradável experiência de sentir na própria pele ou pressentir que em breve acontecerá. É preciso falar a respeito.
Neste ponto tento fazer um match entre os dois parágrafos anteriores, pois acredito que a grande, profunda, consistente e definitiva mudança em relação ao etarismo deve começar em casa. No título provoquei você que está lendo este texto a tentar resgatar alguma memória da adolescência compartilhada pelos seus avós ou pais. Agora imagine o abismo de conhecimento sobre a história dos nossos maduros em relação aos nossos filhos mais jovens. Em 2017 participei, com a influenciadora digital sênior Miréia Borges, de um bate papo organizado no Shopping Total em Porto Alegre. Nas conversas de planejamento com a Silvia Rachewski, diretora de Marketing, falávamos sobre muitos acontecimentos e revoluções comportamentais ocorridas entre os anos 1955 e 1960, quando muitos octogenários de hoje tinham seus 15 anos de idade. De repente ela fala: “Sério, Vó!?”. Pronto estava ali o título para o encontro que lotou a área de eventos.
É bom relembrar algumas coisas que esta turma vivida de hoje fez quando tinha seus 15 ou 20 anos. Com o fim da Segunda Guerra, a indústria do cinema cresceu tremendamente. As pessoas estavam ávidas por entretenimento. Nesta carona, Elvis Presley mergulhou de cabeça e foi um dos primeiros artistas multimídia. Estava nos palcos, nos discos de vinil, no rádio, na TV e no cinema. Me atrevo a dizer que o cinema foi a “Internet” daquela época. Unidirecional, mas através dele chegaram no Brasil os acordes do rock´n´roll de Elvis, a irreverência no seu estilo, o novo jeito de se vestir e de… paquerar. Muitos pais proibiram seus filhos de assisti-lo, pois não era considerado uma boa influência. Acelerando um pouco os acontecimentos que vieram a seguir, Chuck Berry, o pai do rock´n´roll, também desembarcou no rádio, depois The Beatles e o resto vocês já conhecem. Nasceu a Jovem Guarda no Brasil, com Roberto Carlos e outros tantos. As mulheres começaram a ocupar as salas de aula de cursos superiores, chegou o bikini no Rio de Janeiro, Wood Stock, a pílula anticoncepcional, as mulheres começam a conquistar seu espaço no mercado de trabalho e outras tantas disrupções nos códigos e comportamentos. Eles foram os grandes transformadores da cultura, do comportamento e da criatividade. Uma turma bem interessante, não?
Fazer este mergulho no passado deste grupo etário é vital para compreender muitas mudanças comportamentais de hoje. Muitos netos e filhos ficam surpresos ao observar a vitalidade, curiosidade e planos para os próximos 20 anos em algum familiar próximo com 70 anos hoje. Eles estão muito diferentes do imaginário coletivo. Os 60 de hoje não são os 40 de antigamente. Os 60 de hoje são os Novos 60. Agora transporte estas várias personas para o mercado de consumo. As marcas, produtos e serviços estão se movendo ao seu encontro para entender e atender seus desejos. Não estão movidas apenas pelo compromisso social de inclusão e respeito. Estão bastante interessadas nos R$ 1,3 trilhão de reais que somam a renda total dos 60+ no Brasil no ano passado, segundo a consultoria SeniorLab.
Imagino uma neta numa das varandas das casas de veraneio e lá pelas tantas exclamando: Nossa Vó. Como fizeram isso tudo e nem tinham o Google para ajudar!?