Nas décadas de 60 e 70, no interior do Rio Grande do Sul, ainda eram poucas as cidades que possuíam faculdades. As famílias como a minha faziam um enorme esforço para enviar seus filhos para estudar em cidades em que houvesse boas faculdades. Eu fui morar com uma tia, outros iam para pensionatos e as famílias que com melhor situação financeira, alugavam um apartamento na cidade. Com o passar do tempo, os pais foram ficando idosos e migrando para cidades como Santa Maria, Passo Fundo e Porto Alegre. Depois de formados, os filhos foram para mais longe e, novamente, alguns pais foram atrás dos filhos.
Hoje esta realidade mudou, primeiro porque os filhos estão indo para bem mais longe, muitos para o exterior ou para grandes centros. Os pais, sem ter filhos por perto, se questionam se vale a pena continuar morando numa casa grande, numa cidade na qual eles não têm mais muitos vínculos. Pessoas aposentadas, alguns viúvos, separados, buscam locais de melhor qualidade de vida e então resolvem migrar. Se você ainda não migrou, talvez venha a fazer isto nos próximos anos. Eu resolvi entrevistar algumas pessoas que migraram e colhi dados sobre o custo de vida no exterior. Viver no exterior é um sonho para muitos jovens e aposentados.
Entre os aposentados que vão para o exterior, Portugal tem sido o destino preferencial. Conversei com um primo que mora lá e me contou que Portugal é o país mais barato da Europa Ocidental, com um custo de vida para um casal fica entre 1700 e 2200 euros mensais. O aluguel pesa muito, um apartamento de um quarto tem valor médio de 790 euros, mas em Lisboa chega a 1272 euros. O aluguel subiu 36% de 2022 para 2023. O salário-mínimo é de 760 euros e o salário médio de 1.539 euros. (dados disponíveis aqui)
Eu tive uma experiência de viver na Alemanha na década de 1990 e percebo como a classe média empobreceu, não só na Alemanha e no Brasil, mas parece que no mundo todo. Segundo uma amiga que reside hoje em Hamburg, cerca da metade do salário vai para pagar o aluguel. Por exemplo, o salário líquido de um engenheiro na Alemanha é de cerca de 2500 euros, e um apartamento de dois quartos, contabilizando água, energia, internet, terá um custo médio de 1300 euros em cidades médias. Os gastos com alimentação ficam em torno de 700 euros. Sobra pouco para as demais despesas.
Agora voltando a falar na renda de um casal. Na Itália, a renda média é de um casal é de 3200 euros, os custos de aluguel variam de 700 a 2000 euros/mês, e são gastos uns 450 euros com alimentação. Já no interior da França, a renda líquida do casal é de uns 3500 euros, o aluguel com as taxas custa cerca de 1200 euros, e os custos com alimentação fica em torno de 750 euros. Em países que aparentemente oferecem boas condições de vida como o Canadá, me informa outro amigo que a renda líquida mensal de um casal fica entre 6500 e 8000 dólares canadenses e que o aluguel em regiões mais baratas é de 2300 dólares canadenses, já o custo de alimentação é de cerca de 850. Em qualquer destes países, se a pessoa for viver em grandes centros, os custos serão bem maiores e os salários não sobem proporcionalmente. Cabe salientar que para viver razoavelmente bem é necessário que o casal trabalhe e que ambos tenham empregos qualificados.
Trago estes dados para mostrar que o Brasil e alguns países na América Latina podem ser melhores destinos para quem deseja qualidade de vida e tem orçamento restrito. É verdade que no Brasil a classe média gasta muito com educação dos filhos e com saúde, por outro lado, os custos com aluguel e alimentação são proporcionalmente menores. Claro que tudo depende de onde e como cada um quer viver.
Me contou uma amiga que deixou Porto Alegre para viver em Torres, cidade do litoral gaúcho, distante 200 km da capital. Diz ela que escolheu Torres porque tem mar, uma natureza lindíssima e que lá pode ver o pôr do sol do seu apartamento. Torres oferece bons serviços, tem um bom hospital e está próximo de Porto Alegre onde estão os seus filhos. Foi difícil deixar os seus amigos e a família em Porto Alegre e migrar para Torres, mas que logo fez novos amigos. Viver numa cidade de praia, sem precisar usar carro, cuidar bem da saúde, tudo isto está lhe fazendo muito feliz, mas foi preciso muita coragem para tomar esta decisão!
Acredito que muitos de nós seremos migrantes assim como esta minha amiga, pois há uma tendência entre os aposentados e pessoas com possibilidade de realizar trabalho remoto de buscar qualidade de vida em cidades de praia, na serra, viver em sítios, voltar para a cidade natal, viver perto dos filhos ou dos amigos, mas isto exige sim coragem de “sair da dita situação de conforto” para começar em outro lugar e enfrentar novos desafios. Se a sua grana permitir, vá mais longe, ou experimente um tempo em cada lugar. Caso contrário, uma casinha simples numa praia qualquer pode ser a qualidade de vida que você sempre sonhou. Não se apegue aos netos, aos pets, às folhagens e as muitas coisas que lhe prendem onde você está. Os amigos e a família vão manter o contato e talvez estas visitas sejam ainda mais valorizadas dos que as atuais. Dê uma chance a novas experiências e se arrisque. E se não gostar, sempre tem a possibilidade de voltar.
Meus agradecimentos a Anderson (Canadá), Josi (Torres), Laís (Alemanha), Marino (Portugal), Minelle (França) e Rodrigo (Itália).