Todos os conceitos são históricos. Isso quer dizer que seus sentidos assumem significados específicos num determinado contexto. E mudam também em outro.
A palavra liberdade tem sido usada na atualidade pela extrema direita para justificar seus abusos. Creem ter a liberdade de mentir, de distorcer os fatos e as informações, de ganhar eleições fundadas na inverdade.
E atacam, cheios de razão, pra usar uma gíria irônica que quer dizer exatamente o contrário, todo aquele que tenta regrar suas ações.
Em nome da liberdade, os Estados Unidos invadem países, financiam guerras. No período colonial do Brasil, havia os livres e os escravos. Os livres tinham a liberdade para escravizar. E os escravos não gozavam dessa palavra que assume ares de universalidade, mas que, nos contextos reais, é facultada a uns e negada a outros.
Uma das letras de música de que mais gosto da canção brasileira é de autoria de Paulo Miklos. Ele canta: “A paz é inútil para nós/A paz é o que não podemos ter/Que a paz esteja com você/Fique em paz”.
A letra fala dessa outra palavra que também, a princípio, parece um valor universal. No entanto, os versos vão nos mostrando que a paz, entendida como a ordem estabelecida, como a posição e a imposição do lugar de cada um na sociedade de classes, é mantida a ferro e fogo.
Para os excluídos da festa do consumo, com apenas uma parte da população convidada, a paz é inútil. A paz é o que eles não conseguem ter.
Se, no auge da revolução industrial, a organização da sociedade se pautou por associações que visavam regrar o capital e melhorar as condições de trabalho, hoje a pauta não é mais, ou não apenas, formular as questões da classe trabalhadora. O grande problema social é a enorme população mundial sem trabalho.
A famosa frase “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos” poderia hoje ser revista para “Desempregados de todo o mundo, uni-vos”. É nesse contexto de desespero que crescem as promessas de falsos pastores e de extremistas de direita. Essa turma que clama pela liberdade de enganar os outros.
Foto da Capa: Reprodução de Redes Sociais
Todos os textos de Ricardo Silvestrin estão AQUI.