Diante das turbulências deste período de eleições tão nebuloso e do excesso de informação – de todo tipo e qualidade – que invade a nossa privacidade cotidianamente, queiramos ou não, estou em busca de um pouco mais de calma. Um pouco mais de alma e de leveza para aliviar os dias. Largar as redes sociais, que muitas vezes não têm nada de social, é uma opção. Não ouvir a banalidade dos discursos de campanha é outra opção. Resgatar memórias afetivas que fazem bem, dividi-las com os amigos e rir mais, inclusive de mim mesma e das situações que enfrento, é a opção saudável, penso. Risos, sorrisos, gargalhadas podem ser ótimos antídotos para o mal-estar, a inquietude, a angústia, o medo. Uma boa risada ainda é um remédio interessante. E não custa nada, por enquanto! Alivia a tensão e traz alegria, mesmo quando estamos diante de questões sérias que nos preocupam e não podemos ignorar.
A música “Paciência”, de Lenine e Dudu Falcão (1999), cantada lindamente por Lenine, diz: “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma / Até quando o corpo pede um pouco mais de alma / A vida não para / Enquanto o tempo acelera e pede pressa / Eu me recuso / faço hora, vou na valsa / A vida é tão rara”. E se a vida é tão rara, está na hora de torná-la mais amena, não exigir tanto da gente e do outro. A tensão é grande, especialmente em meio a polarizações e mediocridades. Mas temos a chance de parar um pouco, respirar com profundidade, acalmar o coração, sacudir a poeira, dar a volta por cima e deixar os redemoinhos de lado.
Rir, por exemplo, pode ser um bom coadjuvante para amenizar os problemas que surgem a todo instante, físicos ou emocionais, e não sabemos como resolver. Ouvi mais ou menos isso de um médico em uma entrevista. O dia em que a gente não sorri para alguém certamente é um dia difícil. Cada época, cada sociedade, cada cultura, cada pessoa tem o seu jeito de rir. E o riso, rezam as lendas, está na corrente sanguínea do brasileiro.
Sou adepta do riso, mas preciso fazer uma observação importante. Até porque nem todo sorriso, riso ou gargalhada é acolhedor.
Não gosto do riso que desfaz do outro, humilha, debocha e soa estridente, carregado de prepotência e preconceito. Até porque já enfrentei muitas situações em que as risadas me fizeram mal, intimidaram e assustaram. E ainda enfrento! Pessoas com nanismo, de um modo geral, são alvos de risadas cruéis, algumas disfarçadas, outras escancaradas e acompanhadas de imitações, gestos grotescos e palavras ofensivas. Já escrevi sobre isso e contei algumas situações absurdas que vivi. Experiências constrangedoras que me levaram a encarar discussões desnecessárias, que eu não precisava, mas não consegui manter o “bom humor” ou “o gabarito do salão” sob o eco das risadas.
Às vezes, como canta Chico Buarque, “qualquer desatenção / faça não / pode ser a gota d’água”. É o que pode acontecer quando a indignação, por motivos mais do que razoáveis, nos faz extrapolar as margens.
Mas é muito bom ver uma pessoa com um sorriso iluminando o rosto e sorrir para ela. O riso é contagiante. E sei que rir da gente mesmo faz muito bem.
Então, mais uma vez, fico com a poesia do amigo mineiro Altair Sousa, que para mim é um poeta. Sempre me emociona e me faz florescer.
“Na fresta, de repente, um pé de flor / A vida é uma fresta / uma festa, e tantas vezes, um bocado de dor / Mas isso não é motivo para desistirmos / Cacemos jeitos de florescer / E quando possível que seja longe do que nos faz adoecer”.
Foto da Capa: Freepik
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