Todas as manhãs, bem cedinho, o sabiá vem mostrar que sabe assobiar como dá para ver no vídeo abaixo. É bom, não é?
Eu gosto tanto desse sabiá, que fico imaginando a existência de um sábio tradutor da língua dos pássaros. Um sábio que, sabedor de que o sabiá sabe assobiar, transformaria em palavras os acordes da melodia do nosso afinado cantor. O sábio estaria ali, à sombra de uma mangueira, saboreando uma fruta e, do alto da própria sapiência, sairia com essa:
– Sabido esse sabiá, não? Cantando no seu quintal e para toda a vizinhança. Facilmente, se pode traduzir esses assobios numa súplica ao bicho homem. Com certeza, esse afinado assobiador está pedindo: prestem mais atenção em mim, parem de abafar meu canto com o ratatata das balas perdidas e com o zunido dos mísseis, com o rrrrrrr das serras que derrubam meu ninho, diminuam, pelo menos, os voos desses aviõezinhos que ocupam o meu céu despejando agrotóxicos, poluindo terra e ar e envenenando os rios. Deixem suas telas por alguns minutos. Tirem um tempinho para conversar aqui, de mãos dadas, à sombra das árvores, enquanto elas ainda dão sombra…
Empolgado, enquanto o sabiá sabido seguia assobiando, o sábio sugeriria: vamos pedir que ele vá, todos os dias, também, assobiar ali na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios. Nesse momento, houve uma pausa na cantoria. Parece que o sabiá tomou folego para voltar a cantar. Ao mesmo tempo, o meu sábio tradutor retomaria a fala: ouça! É mesmo sabido esse sabiá… parece que nos ouviu! Voou para a Praça dos Três Poderes e, neste momento, deve estar pousado e posudo no ombro do monumento a Temis, lá entre o Palácio do Planalto, o STF e o Congresso Nacional e já está a cantar. Daqui eu posso ouvir, diria o sábio, o canto dele é simples como o falar do povo, que quer rigor contra a corrupção, mais dinheiro para quem tem pouco, ou não tem nenhum e menos para quem tem muito, ou quase todo, o dinheiro do país. Mais política e menos politicagem, mais segurança e menos bandidagem (de qualquer tipo)…
Nesse ponto da tradução, minha “conversa” com o sábio que sabe o que sabiá assobia precisa ter uma pausa. Vou levar Eduarda, 13 anos, 8ª série, à escola. Antes de sair, ela me pede para dar uma olhada na redação que vai entregar e cujo tem é os desafios para superar as desigualdades no Brasil. No trecho final da redação, me convenço de que o sabiá não está sozinho. Escreveu a Eduarda:
– Então, qual é a solução para a desigualdade social? … As medidas necessárias seriam dar acesso à educação, saúde e transporte de qualidade para todos, dar oportunidades de emprego e assistência aos que estão fora do mercado de trabalho, dar garantia dos direitos trabalhistas e previdência social e cobrar impostos de acordo com a renda agindo com equidade sempre. E, claro, protestar e lutar por tudo isso. Aí, eu te pergunto: e aí, vamos agir?
Eu também pergunto: vamos agir? Temos muito a fazer. Aprovar a lei das redes sociais – o PL das Fake News – para nos proteger de crimes como esses dos jovens delinquentes que manipularam fotos de dezenas de meninas, fazer uma reforma tributária justa para que quem tem mais pague mais. Seguir combatendo a corrupção com firmeza. Separar bandido de polícia. Votar em quem faz política e deixar de lado quem faz politicagem.
Bora agir??