O segredo das conexões
Os veteranos de eventos internacionais que estão em Porto Alegre, frequentadores de feiras como SXSW (Austin), Web Summit (Lisboa), CeBit (Hanover) ou MWC (Barcelona), não estão preocupados com as palestras, com pitches ou com as filas no SS. “Pra mim que moro fora do país, precisaria de 8 vindas ao Brasil para conversar com as pessoas interessantes com as quais falei nos últimos dois dias”, diz um deles, Vinícius Lobato, CBO da Brívia e colunista aqui da Sler. Na avaliação de Lobato, a edição deste ano trouxe muito mais profissionais e executivos qualificados do que na edição do ano passado e, por isso, o networking é o segredo do sucesso do SS. Palestras? “Vou ver no youtube depois, o que e se interessar”.
A potência da bioeconomia
O maior ativo que o Brasil tem e que outros países não têm é a biodiversidade da Amazônia, isso pode nos transformar numa potência mundial, defendeu a advogada Mayra Castro, que se apresenta como designer de conexões e parcerias na região amazônica, à frente da consultoria Invest Amazônia.
Mais do que bioeconomia, ela defende a sociobiodiversidade. O mercado do carbono é um exemplo, para ela. Há muita especulação financeira em torno do tema e, se não houver regulamentação, a ação dos especuladores pode acabar com comunidades locais. A bioeconomia age hoje pensando no futuro, “não queremos explorar a terra, mas floresta em pé”. Recente estudo apresentado pela BBC estimou que a pecuária produza 40 dólares por hectare, a floresta em pé, 700 dólares, destacou. A ideia no centro do conceito da sociobiodiversidade é a integração da diversidade biológica, dos sistemas agrícolas tradicionais e dos manejos desses recursos, com um olhar na cultura local e na agricultura familiar.
Mayra participou do painel “Bioeconomia: um motor para o desenvolvimento local e a diversidade”, ao lado de Diogo Barbalho Hungria, do meu Pé de Árvore, Jane Brocco, CEO da biomimética, e Amanda Ferreira, COO da Fluxo, ontem (quinta, 30) à tarde, no The Next Big Thing.
Confira as entrevistas de Mayra Castro aqui e a de Diogo Hungria aqui.
Fechado para Startups
Um evento fechado na quarta (29) à noite, no Instituto Caldeira, reuniu pelo menos duas dezenas de startups escolhidas a dedo. A rede ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade – que representa cerca de 2.500 governos de 130 países – convidou 11 startups do Reino Unido, México, Argentina e Brasil para um encontro com uma seleção feita pelo Caldeira de startups locais e internacionais da sua rede. Cada empresa apresentou o seu pitch e depois rolou um networking entre os participantes. Segundo Cibele Carneiro, coordenadora de Comunicação do ICLEI – América do Sul foi um momento muito rico para as empresas, que deve render frutos no futuro para muitas delas.
CEP na favela
Uma logtech de impacto, com o propósito de viabilizar entregas de compras online para moradores de regiões com restrição é como se apresenta a naPorta. Leonardo Medeiros, cofundador da startup, foi um dos destaques no painel “Liderando o impacto por meio da inovação”, realizado ontem (quinta, 30) à tarde, no Corner Stage. A empresa, cuja primeira unidade foi criada na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, já tem 28 unidades em favelas no Rio e em São Paulo, quer seguir a expansão. Medeiros observou que as ruas não têm código postal nesses lugares e, por isso, as pessoas são excluídas do mercado de compras online, que muitas vezes oferece preços mais competitivos. A naPorta recebe as compras online e faz a redistribuição dentro dessas comunidades.
SS expõe o descaso com o Turismo
Tendo a Prefeitura local como uma das patrocinadoras, o SS encheu a cidade de turistas, levando a rede hoteleira a uma ocupação de 95%. Mas, na contramão, a gestão do Turismo anda para trás na cidade. Com o anúncio da venda dos ônibus da antiga Linha Turismo, Porto Alegre enterra de vez um serviço turístico de qualidade do qual foi pioneira no Brasil. Após a extinção da Secretaria Municipal, no governo Marchezan, era natural esperar que a área perdesse espaço na agenda da Prefeitura. Com quase todos os programas encerrados, a venda dos ônibus só dá materialidade para essa realidade. O serviço foi interrompido em 2021 pelo mesmo governo Marchezan e não foi reativado no governo de Sebastião Melo.
O primeiro veículo panorâmico de dois andares foi comprado para circular durante outro grande evento, o Fórum Social Mundial de 2001. No início da década de 2010, foram adquiridos mais 03 veículos novos e implantados o sistema de áudio individual em línguas estrangeiras e o modelo hop on/hop off, que permitia que o usuário subisse ou descesse em qualquer um dos pontos pré-determinados da viagem. O Linha Turismo, nome criado em Porto Alegre e que virou nome da categoria no Brasil, era autossustentável, também fazia passeios pelos Caminhos Rurais de Porto Alegre, tinha cotas gratuitas para escolas públicas e transportava em média 60 mil pessoas por ano. A atual versão do Linha Turismo, implantado pela atual gestão e operada por empresas privadas, é outra coisa, utiliza carros comuns, descaracterizados do maior atrativo do antigo passeio, a parte superior aberta dos ônibus double deck.
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