A frase do título acima é do rabino Jonathan Sacks, chamado de “O Rabino do Mundo” – título do livro de Gustavo Binenbojm, que será lançado em Porto Alegre (12/07), no Centro Israelita, na rua Henrique Dias, no bairro Bom Fim.
Na obra, Gustavo busca compartilhar a sabedoria judaica partindo da vida e obra deste rabino que se tornou popular na Inglaterra e deixou um legado de ensinamentos. A frase que escolhi acima, eu a li e reli. Em tempos onde tantos andam atrás de propósito para suas vidas, seja no campo pessoal ou profissional, Sacks deixa uma rota clara: vá até a esquina onde se cruzam a paixão com o dever.
Na primeira conversa que eu tive com o escritor, quando lhe falava de meu ativismo nas causas do autismo e do direito das pessoas com deficiência, ele imediatamente usou essa frase para explicar o entusiasmo com que as abracei e como elas transformaram o meu dia a dia.
Gustavo parte de perdas para refletir sobre a herança judaica, onde aparece mais a identidade do que a fé. As perdas do seu avô, de seu pai, o coronavírus, mas também a experiência de formar uma família são fundamentais nesse percurso de (auto) conhecimento.
Uma das obras mais importantes do Rabino Sacks tem como título “A Dignidade da Diferença”. O instrumento para dignificar as diferenças é o diálogo. Reconhecer e respeitar o outro como diferente abre espaço para que o outro também nos reconheça e respeite como diferentes. E, paradoxalmente, nos estabelece como iguais, vivendo nossas singularidades de forma particular e nossa humanidade de forma universal.
Por meios dos textos e das vivências de Sacks e outras referências judaicas, aprendemos que diálogos não admitem hierarquias ou a defesa de convicções infalíveis. Abrir mão de certezas e admitir que podemos estar errados é o começo do aprendizado. Em um tempo em que se sobressai a cacofonia das redes sociais, onde todos gritam e poucos ouvem, abraçar o erro não é uma falha (como muitos andam dizendo por aí): é libertação e sabedoria.
A convivência das diferenças e o diálogo entre iguais só é possível em um regime político: a democracia. Este é o credo secular que o livro respira: a democracia como possibilidade de cada um viver de acordo com suas crenças.
Gustavo Binenbojm imprime a crença na democracia em sua visão do judaísmo, característica que se sobressai de sua vasta e respeitada obra jurídica, onde aponta os caminhos democráticos necessários para o Direito Administrativo atual. Que o autor tenha levado a crença na dignidade das diferenças e no valor intrínseco do ser humano trazidos do judaísmo para a esfera jurídica, só demonstra, mais uma vez, o encontro entre paixão e dever. E como tudo passa a fazer sentido.
Foto da Capa: Reprodução The Rabbi Sacks Legacy