O sonho de todo jornalista é o de ter um jornal. Viver sem patrão, sem imposições ou censuras, sem compromissos com questões comerciais e/ou industriais. Sem limite de espaço para emitir suas opiniões e expressar a sua verdade como ela é vista. Também sem exigências ou regras — exceto as ditadas pela consciência e pela busca do bem comum. As convicções a serviço dos mais elevados interesses.
É utopia. Ser dono de um jornal acarreta uma série de concessões, algumas legítimas, outras nem tanto. Ser livre e independente não combina com aporrinhações de leitores que não entendem o que você quis dizer naquele texto claro, objetivo e tão bem escrito. Tampouco não é impossível desprezar as pressões de anunciantes que querem dar mais destaque a sua marca do que ao trabalho editorial. Ter um jornal traz ainda o peso das decisões — que quase sempre devem ser instantâneas e assertivas — dos gastos (com funcionários — hoje, “colaboradores” —, papel, gráfica, internet, luz, transporte, férias, rescisões, direitos trabalhistas…). Toda uma miríade de exigências que causam surpresas a cada momento e que travam ainda mais o jornalista, animal poucas vezes preparado para questões mais práticas e objetivas do cotidiano.
Pelo menos em sua primeira fase, o jornal lançado por meia dúzia de porra-loucas em Ipanema e que eu destrincho no livro Rato de Redação: Sig e a História do Pasquim foi o que mais se aproximou do ideal edênico de todo profissional da imprensa, em especial a brasileira. Não há registro — nem antes nem depois — de um órgão que tenha surgido de forma tão espontânea, ascendido tão rapidamente, inovado a linguagem e o comportamento, revelado profissionais e personagens, dado muito dinheiro (pelo menos a alguns e apenas por algum tempo, dizem os relatos) e divertido tanto a quem lia e a quem escrevia.
Ter entrado para a história da imprensa brasileira constituiu-se posteriormente num mero detalhe.