Primeiro veio o fax. Depois o e-mail, as mensagem de texto, e os apps de mensagens como o whatsapp, uats, zapizapi ou zape, dependendo da intimidade da pessoa com o aplicativo. E foi assim que o sossego acabou. A vida como você conhecia antes não existe mais, e não dá pra ter um minuto de sossego sem que alguma mensagem apareça na tela. Ou figurinha. Ou video. Ou meme. Ou um áudio longo como um podcast. Pior ainda, um link de uma amiga que resolveu escrever uma coluna semanal e agora fica te apurrinhando a vida esperando que você clique, leia e mande um coraçãozinho.
Quando baixamos o aplicativo assinamos um termo de consentimento de devoção total a esse parasita útil, que ao ser instalado muda nossa vida de tal forma que não sabemos mais nos comunicar sem ser mandando um textinho ou textão – dependendo da gravidade do tema, uma reação, ou o mais temido de todos, um áudio de vários minutos que só pode ser ouvido em velocidade 2X. Mais raramente vem uma chamada de áudio, como gosta de fazer minha amiga Annita, mas pra que falar com a pessoa se podemos ficar horas indo e voltando com mensagens?
Pra mim o melhor e o pior do zape são os grupos. E os grupos que se formam dos grupos. E se você não tem um grupo da família, do qual se derivou um grupo só dos irmãos ou das primas ou das ovelhas negras ou dos santos, sinto muito, mas preciso te dizer que você não faz mais parte da sua família. Tem os grupos de amigos, com aquelas combinações, fotos aleatórias e muita confusão de quando e onde vão se encontrar. Tem os grupos do trabalho, onde tem o da firma, o do setor, o de um projeto, o do churrasco do final de ano que começa a ser programado em junho por algum lunático.
Uns meses atrás uma amiga montou um grupo pra organizar a festa de aniversário. Depois da festa, montamos um subgrupo daquele grupo, por nossa evidente afinidade. E foi assim que de um grupo de 20 formamos em subgrupo de 5. Mas na contramão da política de proteção de dados, uma das convidadas teve a ideia de montar um grupo com todo mundo que tinha trabalhado e estudado junto com a gente numa universidade. Ex e atuais professores, funcionários e alunos. E do grupo de 20 surgiu um grupão de 357 pessoas. Trezentosecinquentaesete bons-dias, boas-noites, fotos antigas e atuais, exibicionismos eventuais, conflitos, links, pedidos e ofertas de emprego. Até que uma heroína teve a coragem de sair e foi uma debandada geral. A intenção da colega foi boa, mas, como dizem, o inferno está cheio delas e de chamadas de vídeo em grupo perdidas.
Como forma de sobrevivência do negócio e da raça humana, o aplicativo criou as funções de arquivar, silenciar, bloquear e de se esconder quando estamos online ou fomos vistos pela última vez. Confessa, você tem algum grupo silenciado, arquivado ou do qual não sai apenas por educação ou curiosidade, espiando às vezes pra saber o bafo que tá rolando ou simplesmente deletando o conteúdo sem nem olhar.
Um grupo de whatsapp é uma progressão geométrica e infinita de amor e dor. Aproxima, encurta distância e facilita a comunicação. Mas nas mãos erradas pode virar um implacável exterminador de tempo e paciência. E se uma imagem vale mais que mil palavras, uma figurinha, muitas vezes, vale mais que um textão 😎😜😍
Foto da Capa: Freepik / Gerada por IA
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