Ela é Tânia Carvalho, que completou 80 anos no dia 25 de dezembro de 2022 esbanjando talento, bom humor, orgulho da idade e da família. Jornalista, radialista e leitora voraz, Tânia atualmente comenta e sugere livros no programa “Super Sábado” da Rádio Gaúcha. Trabalhamos juntas na antiga TV Guaíba da família Caldas Júnior, quando nos conhecemos, e na Rádio Pampa, onde ela apresentava um programa de duas horas, das 14h às 16h, que eu produzia. Experiências maravilhosas, que me deram régua e compasso para seguir firme no jornalismo.
Tânia é mãe do Fabiano D´El Rei, que nasceu em São Paulo, casado com Márcia e pai da Marina e do Bernardo. E mãe do destemperado Diogo Carvalho, porto-alegrense, casado com Renata, pai do Francisco e do Frederico. Sua vida pessoal e profissional é intensa, ao lado do companheiro querido, o médico Felício Medeiros dos Santos, que sempre me chamou carinhosamente de “super”. Ela entusiasma. Emociona. Inquieta, Questiona. Somos amigas há muito tempo. E, mesmo distantes, cada vez mais próximas.
Trajetória estimulante
Tânia começou na televisão. Foi apresentadora do programa “Jornal do Almoço”, na TV Gaúcha, hoje RBSTV, lançado em março de 1972, no ar até hoje. Na sequência, trabalhou na escola de inglês Yázigi. Foi uma das apresentadoras do “Guaíba Feminina”/TV Guaíba, 1981, e trabalhou na TVE. Foi também apresentadora e âncora de diversos outros programas de televisão e rádio, como “Gurias de Quinta”. A partir de 1997 integrou a equipe do “Café TVCOM” da extinta TVCOM e do “Gaúcha Comportamento”/Rádio Gaúcha.
Natural de Bagé, Tânia nasceu em 25 de dezembro de 1942. Desde menina gostava de cantar e dançar. Passou a adolescência em Porto Alegre, onde fez o ginásio no colégio Bom Conselho e o clássico no Júlio de Castilhos. Começou a vida profissional logo que terminou os estudos, ao assumir o cargo de secretária no curso de Inglês.
Aos 19 anos, quando se preparava para ingressar na universidade, conheceu o ator Geraldo Del Rey, com quem casou em 1963 e foi morar em São Paulo. Na capital paulista, trabalhou na Editora Abril. A chefe de redação, observadora, sacou o interesse e a paixão de Tânia pelo jornalismo e a convidou para atuar nas publicações femininas da editora, abrindo novas possibilidades para a profissional curiosa que passou a fazer produção de moda, reportagens e fotografia.
Nessa época, Geraldo recebeu uma proposta para ir trabalhar em Portugal. Em 1965, o casal partiu rumo às terras lusitanas e ficou um ano e meio no país. Ao voltar para São Paulo, em 1967, Tânia teve o primeiro filho, Fabiano. Em 1970, separou-se e voltou para Porto Alegre. Antes de voltar, aventurou-se mais ainda no campo das artes e passou pelo Teatro Oficina e pelo Cinema Novo, espaços de resistência em plena Ditadura Militar. Dois anos depois do retorno para o Rio Grande do Sul, recebeu um convite da jornalista e amiga Célia Ribeiro para apresentar o “Jornal do Almoço”, programa que estava sendo lançado pela TV Gaúcha, onde Célia trabalhava. Mesmo sem experiência em televisão, Tânia aceitou a proposta e permaneceu na bancada do telejornal durante quatro anos.
O currículo é imenso. Foi âncora de diversos programas em várias empresas de comunicação. Integrou a equipe do “Portovisão”, na TV Difusora, ao lado de Clóvis Duarte, Sérgio Jockymann, Cascalho Contursi e José Fogaça, onde ficou até 1980. Trabalhou ainda nas rádios Gaúcha, Difusora, Guaíba e Pampa e teve uma bela passagem pela TVE, onde apresentou o programa diário “Mãos à Obra”. E, mais tarde, “De Corpo e Alma”, entrevistando personalidades que se destacavam no RS e no país.
Na rádio Pampa, apresentou por quase três anos um programa ao vivo, diário – duas horas dedicadas à arte, à cultura e aos assuntos palpitantes do momento que mereciam atenção. O programa, que eu produzia com alegria e prazer, era um desafio diário. Mudávamos a pauta na hora se fosse necessário.
Na TVE, durante a administração de José Antônio Daudt, presidente da emissora, Tânia participava de um café da manhã com Daudt, Tatata Pimentel e mais um convidado. A programação da emissora estatal entrava no ar especialmente para transmitir a atração, saia do ar novamente, e voltava às 17h. Em 1981, Tânia foi chamada pela TV Guaíba para conduzir o programa “Guaíba Feminina”, ao lado de Magda Beatriz, Marina Conter, Liliana Reid e Aninha Comas. Nesta época, casou-se com o médico Felício Medeiros dos Santos e ficou grávida do segundo filho, Diogo. Foi neste cenário que nos conhecemos.
A partir de 1997, dedicou-se exclusivamente à rádio Gaúcha AM e à TVCOM em programas sobre comportamento e cultura. No final de 2011, logo após Tatata Pimentel ter sido levado à aposentadoria pela direção da emissora, Tânia, solidária ao colega de várias décadas, anunciou sua aposentadoria também, afirmando que “não queria ficar velha na TV” e que não conseguiria continuar “sem meu irmão Tatata”. Em entrevista ao portal Coletiva Net, confessou que “cumpriu um ciclo de vida. Não aguentava mais, estava no limite”.
Uma breve volta aconteceu em abril de 2014, na TVE, como apresentadora de um programa chamado “Primeira Pessoa”. A partir daí, passou a dedicar-se ainda mais aos livros e a trabalhos filantrópicos. É madrinha da Casa de Apoio Madre Ana que acolhe pacientes de baixa renda com câncer, transplantados, com problemas cardíacos, e familiares vindos do interior e de outros estados do Brasil, durante os tratamentos na Santa Casa de Porto Alegre.
Tânia recebeu o Prêmio Joaquim Felizardo, em 2008, na Categoria TV e o Prêmio Press 2012, homenagem especial pelos quase 40 anos de carreira. Em 2019, foi uma das homenageadas da 65ª Feira do Livro de Porto Alegre, com o Prêmio Jacarandá. Segue comentando e indicando livros no “Super Sábado” da Rádio Gaúcha e afirma: “Adoro. Não sou crítica literária. Sou apaixonada por literatura e indico o que gostei de ler”.
Quem é Tânia Carvalho hoje, perguntei quando foi homenageada na Feira do Livro. E ela, prontamente, respondeu. “Uma senhora de cabelos brancos, feliz com sua vida pessoal – marido, filhos, netas e netos, amigos. Infeliz com o atual momento político/sanitário brasileiro. Preocupada com o maldito vírus, usando máscara e raramente saindo de casa. Amo o meu voluntariado na Casa de Apoio Madre Ana, na Biblioteca Jardim das Letras que tem mais de oito mil volumes todos doados pela comunidade, através dos meus pedidos. É meu grande orgulho”. E continua sendo em 2022! O tempo não para. Ela não para, sempre atenta e solidária.